Medidas de incentivo ao consumo, como a redução do IPI, deve diminuir os valores dos produtos da linha branca
As medidas do governo para incentivar o consumo devem fazer com que os preços da linha branca recuem até 10% na compra à vista. O preço de uma geladeira, cujo valor é de R$ 1.500, deve passar para R$ 1.369,57. Ou seja, o consumidor deverá ter uma economia de 8,7%. No preço do fogão, a economia estimada deve ser de 3,8% - o preço de um fogão de R$ 800 vai cair para R$ 769,23. Já uma máquina de lavar roupa de R$ 2.000 vai passar a custar R$ 1.833,34, uma queda de 8,33%.
Segundo o professor de economia do Insper e responsável pelo cálculo, Otto Nogami, os incentivos do governo são os mesmos adotados em abril de 2009, quando o governo buscava estimular o consumo para tirar a economia da estagnação.
"Agora, o governo apostou nas mesmas medidas só que para um espectro menor de produtos. E, se o governo enxergar um recrudescimento da crise, ele deve desonerar outros produtos", afirmou Nogami.
IOF. A redução do IOF terá menor impacto no preço final do produto. O IOF pago por um carro de R$ 20 mil deve passar de R$ 136,27 para R$ 113,56 quando financiado em 12 meses e com preço final de R$ 27.078,10. Se o veículo for quitado no dobro do tempo, o montante gasto com IOF cairá dos atuais R$ 141,41 para R$ 117,55 e o preço final do carro será de R$ 34,786,03.
Para impulsionar as medidas anunciadas, a Caixa Econômica Federal liberou ontem R$ 5 bilhões de crédito para aquisição de eletrodomésticos, móveis, eletroeletrônicos e outros bens de consumo. As linhas de crédito de financiamento serão de até 24 meses.
A redução do IPI e IOF se soma ao recuo da taxa Selic para incentivar o consumo. Na quarta-feira, na última reunião do ano do Copom, a Selic caiu 0,50 ponto porcentual, para 11% ano. Foi a terceira redução seguida. Para o professor do Insper, a Selic não teve grande influência no juros, porque a inadimplência do consumidor cresceu no período. "A redução da Selic não teve muito impacto porque a inadimplência subiu e os juros permaneceram no mesmo nível."
Seguindo a decisão do Copom, o Banco Itaú também anunciou ontem a redução das taxas de juros do cheque especial e do crédito pessoal para pessoas físicas. A redução, diz o banco, deve acompanhar o corte da Selic.
IPI menor chega às lojas imediatamente
Lojas e indústrias projetam reaquecimento do consumo na linha branca no Natal e esperam crescimento de 5% em unidades em 2011
Horas depois de o governo ter anunciado, ontem, o corte no Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de geladeiras, lavadoras e fogões, grandes redes varejistas começaram a repassar integralmente o benefício para o consumidor. A redução do imposto deve impulsionar as vendas do Natal, mas o foco da medida é garantir que a atividade continue aquecida no primeiro trimestre de 2012, concordam fabricantes e varejistas.
"A curva de vendas estava diminuindo ao longo do ano", afirma Lourival Kiçula, presidente da Eletros, que reúne os fabricantes de eletrodomésticos. Em janeiro, a perspectiva era de que o ano terminasse com crescimento de 10% nas vendas desses itens. A previsão foi reduzida para 7%, passou para 4% e chegou até a se cogitar um empate. Agora, com as medidas anunciadas pelo governo, os fabricantes já falam num crescimento anual de 5% em unidades.
O Walmart, por exemplo, que tinha programado para ontem uma liquidação com redução de até 70% nos preços de vários itens, abriu as portas às 6h vendendo um refrigerador por R$ 1.198. Após o anúncio do governo, o preço caiu para R$ 1.078, conta o vice-presidente da rede, José Rafael Vasquez. "Foi um golpe de sorte", diz o executivo, ao comentar que a data da liquidação coincidiu com a redução do IPI.
Durante este fim de semana, a rede Extra, do Grupo Pão de Açúcar, vai reduzir o preço de alguns itens da linha branca em porcentuais superiores aos 10 pontos de corte do IPI. O preço de uma lavadora de nove quilos, por exemplo, terá corte de 18%. "Para fazer o consumidor realmente perceber as vantagens, procuramos oferecer algo a mais", diz o vice-presidente de Operações de Varejo, José Roberto Tambasco.
A Lojas Cem começa a repassar a redução do IPI a partir de hoje. Amanhã, inicia uma campanha de vendas na qual vai parcelar em até dez vezes sem juros as mercadorias com preço já reduzido por causa do IPI, conta o supervisor, José Domingos Alves.
Apesar de lojistas e indústrias negarem que estejam com estoques acima do previsto e que as vendas perderam o fôlego nos últimos meses, o corte do IPI veio em boa hora. "O impacto da medida vai ajudar o desempenho do Natal ser melhor do que previsto", prevê Roberto Fulcherberguer, vice-presidente da Globex, braço de eletrodomésticos do Grupo Pão de Açúcar. Ele conta que a empresa, que detém as bandeiras Casas Bahia, Ponto Frio e Extra Eletro, está "extremamente bem abastecida". No momento, ele não considera a possibilidade de ter uma corrida às indústrias para reforçar os estoques.
"Os estoques para o Natal estão nos revendedores", afirma Armando Valle Jr., vice-presidente da Whirlpool, dona das marcas Brastemp e Consul. Ele observa que a redução do IPI combinada com o corte do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre os financiamentos vai potencializar as vendas.
Mas o executivo pondera que não acredita que essas medidas tenham o mesmo efeito no consumo registrado em 2009, quando o governo cortou pela primeira vez o IPI da linha branca para rebater os efeitos da crise financeira internacional. Naquele ano, houve um acréscimo médio de 18% no número de unidades vendidas pela indústria. Valle Jr. argumenta que, desta vez, a medida só terá duração por quatro meses, quando em 2009 teve validade de um ano.
Orçamento apertado. O presidente do Conselho do Programa de Administração do Varejo (Provar) da Universidade de São Paulo, Cláudio Felisoni, acrescenta outros fatores que podem atenuar o impacto do corte do IPI no aumento do consumo.Um estudo feito pelo especialista mostra que, no último trimestre de 2010, sobravam em média R$ 288 para as famílias paulistanas gastarem, após quitarem as despesas básicas. Hoje, essa cifra é 18% menor (R$ 234). Além disso, ele destaca que a inadimplência do consumidor registrada pelo BC nos últimos seis meses está 13% maior em relação a igual período de 2010.
Veículo: O Estado de S.Paulo