Agora está confirmado pelo próprio governo: a produção brasileira de grãos vai cair na safra 2008/09. O segundo levantamento de safra da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), apresentado ontem, aponta para uma retração entre 2 milhões e 4,1 milhões de toneladas. O recuo, que ainda não considera a segunda safra, pode ser ainda maior, na avaliação de José Mário Schreiner, presidente da comissão de grãos, fibras e oleaginosas da Confederação de Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). "Se o crédito não chegar para a safrinha e não haver recurso para apoio à comercialização, poderemos ter uma queda ainda maior", arremata Schreiner.
No começo de outubro, quando lançou a primeira estimativa de safra, a Conab previa retração de no máximo 1,5% na produção e considerava até mesmo a possibilidade de um crescimento de até 0,5% na produção. "Há um ligeiro enxugamento da safra", avaliou o presidente da Conab, Wagner Rossi. Em números totais, o próximo ciclo vai render entre 139,7 milhões e 141,8 milhões de toneladas de grãos.
Diante da constatação de que o setor rural terá um ano mais difícil, Rossi disse que o governo está atento para evitar problemas na comercialização. Foco especial terá o milho, para evitar desabastecimento ou forte queda de preços, garantiu o presidente da Conab. Uma das estratégias será a de implantar uma política forte de recomposição dos estoques de alimentos. Segundo Rossi, além dos R$ 4 bilhões já presentes no orçamento da União para a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM), o governo pode adicionar de R$ 1 bilhão a R$ 2 bilhões para recomposição de estoques. Além disso, de forma emergencial, o governo promete R$ 1 bilhão para irrigar as tradings, por meio do mecanismo da Cédula do Produtor Rural (CPR), afirmou Rossi.
Os dados de intenção de plantio sugerem redução no uso de tecnologia, pois ao mesmo tempo em que é dado como certa a queda da produção, haverá redução de apenas 0,1% na área plantada, com possibilidade de crescimento de até 1,2% da área. Ou seja, serão cultivados entre 47,34 milhões e 47,95 milhões de hectares, perante 47,4 milhões da safra passada. Isto quer dizer que em praticamente a mesma área do ano passado, o Brasil vai produzir menos. "Tivemos como reavaliar a área a ser plantada, mas não temos ainda como reavaliar produtividade", disse o diretor de Logística e Gestão Empresarial da Conab, Sílvio Porto. Fatores climáticos serão decisivos para o ajuste fino das próximas estimativas.
O governo está preocupado, na próxima safra, quanto ao mercado de milho, cultura que deverá ter queda de colheita de, no mínimo, 5,2%. No ano passado, a produção foi de 39,93 milhões de toneladas deste grão, o que deve cair para algo entre 36,95 milhões e 37,85 milhões de toneladas. "Boa parte da migração da área plantada de milho está indo para o feijão, não para a soja", disse Porto.
O feijão, que está com ótimos preços, deverá ter um aumento de até 15% na produção, com possibilidade de chegar a uma colheita de 1,43 milhão de toneladas. Para a soja, a queda de produção será de, no máximo, 1,6 milhão de toneladas na comparação com as 60 milhões de toneladas da safra passada.
Já a queda na produção de algodão era até esperada. Segundo Sílvio Porto, a cotonicultura vinha recebendo subsídios desde 2003. Foram R$ 1,8 bilhão de apoio, que financiaram a expansão recente. "Por isso que nos anos anteriores não houve redução de área, mas inclusive aumento de cultivo", disse o diretor. A queda acontece agora. A colheita de algodão deve render na próxima safra entre 1,36 milhão e 1,43 milhão de toneladas, contra 1,6 milhão da safra passada.
Os dados da Conab já reconhecem que o menor uso de tecnologia no plantio observado no cultivo dessa safra resultará em menores produtividades. Da média brasileira de 2.816 quilos por hectare do ciclo passado, o rendimento da soja deve cair para 2.772 quilos por hectare, recuo de 1,6%.
Enquanto que, no pior dos cenários, o governo prevê produção de grãos 2,9% menor, a CNA trabalha com cenário de retração entre 5% e 7%. "Somente de milho, temos uma safrinha de 17 milhões de toneladas, mais de 10% da safra total. Esse produto está com preços muito achatados e os agricultores, que financiam o segundo cultivo com a renda antecipada do primeiro, estão descapitalizados", pondera Schreiner.
Véiculo: Gazeta Mercantil