Produção da indústria no Nordeste recua 4,7% no ano

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A indústria do Nordeste chegou a outubro com uma queda de 4,9% na comparação com os primeiros dez meses do ano passado, resultado bem pior do que a média do país, onde o setor ainda mantém um número positivo, ainda que pequeno (0,7%). A queda da produção é mais intensa no Ceará, com retração de 12,9%, mas também marca a indústria da Bahia (menos 4,3%) e de Pernambuco (menos 0,7%), sempre na comparação do acumulado de 2011 até outubro com igual período do ano passado.

A queda generalizada da produção industrial na região Nordeste durante 2011 tem como causas preponderantes, na avaliação do economista André Macedo, gerente da Produção Industrial Mensal (PIM) do IBGE, a concorrência dos importados, a dificuldade de exportação por conta da crise internacional, o apagão (elétrico) que atingiu a indústria petroquímica baiana em fevereiro e também a queda da demanda doméstica.

"Há sempre um predomínio de setores atingidos seja pela concorrência externa, seja pela dificuldade de exportar", analisa, citando a indústria têxtil, cuja produção recuou 24,1% na região Nordeste de janeiro a outubro deste ano. A tradicional indústria de calçados e artigos de couro do Ceará apresentou queda de produção de 22,6% no mesmo período. A dificuldade de exportação de castanha de caju, outro produto tradicional cearense, contribuiu para a queda de 3,9% na produção industrial de alimentos no Estado.

Para o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), a pouca diversificação de setores industriais no Nordeste explica a forte queda da produção local. A região concentra grande parte das indústrias têxtil, de calçados e artigos de couro, que estão entre as que mais têm sofrido a concorrência de importados. "A produção nesses setores está caindo agudamente em todo o país. Mas como grande parte das empresas está instalada no Nordeste esse movimento fica mais evidente lá", diz Rogério César de Souza, economista-chefe do Iedi, lembrando que em Santa Catarina os números também são negativos. Pelos cálculos da Tendências Consultoria, cerca de 20% da indústria têxtil e de artigos de couro do país está na região Nordeste, o que faz com que a participação do setor na indústria local chegue a 11%.

Para o economista do IBGE, o câmbio sobrevalorizado e a crise internacional agiram negativamente de duas formas sobre a produção industrial nordestina: estimulando as importações, seja por baratear os produtos, seja por estimular a indústria internacional a buscar os mercados mais dinâmicos. E, na ponta das exportações, elevando os preços dos produtos brasileiros (o câmbio) e desaquecendo o consumo nos países ricos, os mais atingidos pela crise.

Para o técnico, os dados do varejo apurados pela Pesquisa Mensal do Comércio (PMC) do IBGE ainda não permitem concluir que esteja havendo um esgotamento do ciclo de elevação do consumo na região Nordeste gerado, entre outros fatores, pelos programas de distribuição de renda do governo federal.

Enquanto as vendas do varejo cresceram 6,95% no Brasil de janeiro a setembro, elas aumentaram 8,71% na Bahia, 7,34% em Pernambuco e 9,47% no Ceará, para citar as três maiores economias regionais. Mas no Ceará, a PMC mostra queda nas vendas de tecidos, vestuário e calçados (-3,75%), justamente os setores mais afetados da indústria local.

O economista Raul Silveira Neto, professor da pós-graduação da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), ressalvando ser necessário um exame mais apurado, disse que há concorrência externa, mas que também já se percebe queda no consumo da região por conta das incertezas trazidas pela crise. Segundo ele, esses fatores explicam, por exemplo, a perda de dinamismo do polo de confecções de Santa Cruz do Capibaribe, no seu Estado.

Macedo, do IBGE, entende que os dados "não necessariamente mostram queda do consumo, mas substituição do produto nacional pelo importado". Ele destaca que têxteis (-14,9%), vestuário (-3,3%), calçados (-9,3%) e outros produtos químicos (petroquímicos), com queda de 2,7%, perderam dinamismo no país como um todo, sendo os têxteis responsáveis pelo mau desempenho da indústria de Santa Catarina, na região Sul queda de 4,4% de janeiro a outubro).

Segundo ele, a produção de veículos só não está negativa no ano (cresceu 3,21% até outubro) por causa dos caminhões, sendo neste caso um sinal claro de desaquecimento do mercado doméstico e com impacto, por exemplo, na produção industrial da Bahia, o Estado que responde por cerca de 50% da produção industrial do Nordeste, segundo as ponderações usadas pelo IBGE. Em setembro e outubro, a produção automobilística baiana acumulou queda de 9,3%, fazendo com que o indicador acumulado, que vinha fortemente positivo, passasse a ser 2,7% negativo em outubro.

O carro-chefe da indústria baiana, contudo, é a química e petroquímica cuja produção de janeiro a outubro, sempre em relação ao mesmo período do ano passado, caiu 10,2%. O setor, segundo Macedo, responde por cerca de 55% da indústria do Estado. Bahia, Pernambuco e Ceará respondem por aproximadamente 75% da produção industrial nordestina.

Por ser dependente de poucos setores, o Iedi estima que a produção industrial do Nordeste deverá continuar patinando nos próximos meses. "São Paulo, Rio e Minas Gerais, por terem uma indústria mais diversificada sofrem menos", afirma. "Mas os efeitos mais graves da crise internacional sobre a indústria brasileira ainda estão por vir", alerta Souza, acrescentando que, além de persistirem as importações, as exportações deverão registrar queda em 2012, tanto as de bens transformados como as da extrativa mineral. "E sabemos que as medidas de incentivo ao consumo demoram para surtir efeito", complementa Souza.


Veículo: Valor Econômico


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