Com os preços em queda livre, as tevês 3D conquistam os consumidores e turbinam as vendas do varejo.
Muitos apresentadores de tevê, no início de seus programas, costumam agradecer ao telespectador pela liberdade de os deixar entrar em suas casas. O hábito não é novo, mas nunca foi tão próximo do real como agora. Isso porque as tevês 3D, que possuem uma qualidade de imagem superior à dos modelos convencionais, deixaram de ser uma promessa, transformando-se numa robusta e cada vez mais concreta fonte de negócios para a indústria. Novidades no início do ano, elas estavam até há pouco tempo acessíveis somente a alguns poucos consumidores endinheirados. Agora, mais baratas, estão se popularizando e são a grande vedete do mercado de eletrônicos para o Natal, época de maior faturamento no ano para o setor. A expectativa é de que esses equipamentos, juntamente com as tevês com capacidade de se conectar à internet, respondam por até 40% das vendas no período. O otimismo é tão grande que alguns fabricantes contabilizam, em 2011, crescimento de 1.000% na comercialização desses televisores. Pode-se argumentar que a comparação parte de uma base baixa. É verdade. Ainda assim, a estimativa é importante por sinalizar que o futuro é promissor.
O pulo do gato para conquistar de vez os consumidores, que até o início do ano não se mostravam muito interessados em adquirir uma tevê 3D, está na queda acentuada dos preços. Segundo pesquisa da consultoria GFK, especializada em eletroeletrônicos, em agosto o consumidor pagava em média 38% menos do que em janeiro para comprar um desses aparelhos. O preço médio em janeiro era de R$ 5.791, bem superior aos R$ 3.585 computados em agosto. E mais: no caso de fabricantes como a LG e a Samsung, a diferença de preço entre um televisor convencional e um 3D chega a ser de apenas R$ 200. “Hoje qualquer pessoa consegue comprar uma tevê 3D”, afirma José Fuentes Molinero Jr., vice-presidente de eletrônicos de consumo da Samsung. “Daqui a cinco anos o 3D será tão comum quanto o controle remoto.” Um estudo feito pela LG apontou que os consumidores interessados em comprar um equipamento 3D aceitavam pagar até R$ 4 mil. A maioria dos modelos disponíveis atualmente custa menos que isso. “A tecnologia está conquistando também a classe C”, diz Fernanda Summa, responsável pela área de tevês da LG no Brasil.
Pelas contas da empresa, os aparelhos de três dimensões devem abocanhar uma parcela de 25% do mercado em 2012, ante 4% no início de 2011. No caso da LG, a projeção é de que as telas 3D correspondam a 45% das vendas no Natal. Além da redução no valor, contribui também para o aumento nas vendas a maior variedade de produtos disponíveis. Nas lojas da rede varejista Fnac, por exemplo, hoje são vendidos 25 modelos de tevê com a tecnologia, seis vezes acima dos disponíveis no ano passado. “Esperamos comercializar três vezes mais tevês 3D neste ano”, afirma Leandro Cançado, diretor-comercial da Fnac. Uma das razões para isso é o fato de o consumidor começar a se familiarizar com essa inovação. “A pessoa conhece a tecnologia no cinema e, ao deparar com a pouca diferença de preço, opta por um produto mais avançado”, diz Cançado. Esses aparelhos já representam 40% do total de venda de tevês na Fnac. Há outro fator que também contribui para o crescimento do 3D: a produção de conteúdo. “Está mais fácil encontrar títulos e jogos em terceira dimensão”, afirma Luciano Bottura, gerente de marketing da Sony, que espera registrar um crescimento de 1.000% nas vendas de televisores 3D.
A disputa entre as fabricantes, no entanto, não se resume à conquista dos consumidores. Uma das questões que movimentam o setor diz respeito ao padrão tecnológico adotado. Há dois sistemas, que se diferenciam pelo modo como as imagens são formadas. No caso do padrão ativo, aposta da Samsung, Sony e da maioria dos competidores, o que permite a visualização das imagens são os óculos, que, por isso, necessitam de uma bateria para funcionar. Já no passivo, utilizado pela LG, cabe ao próprio aparelho este trabalho. Nesse caso, ainda é necessário o uso de óculos, mas eles não possuem bateria. Os defensores do modelo ativo alegam que somente ele é capaz de aproveitar toda a capacidade de resolução de tela. “No passivo, o full HD vira só HD”, afirma Fuentes, da Samsung. A LG, por sua vez, alega que não há diferença na qualidade. A vantagem do passivo estaria no conforto e no bolso, uma vez que os óculos são mais leves e mais baratos. “Ver televisão não é um programa somente individual”, afirma Fernanda, da LG. “Os óculos ativos custam mais de R$ 200, enquanto os passivos saem por R$ 40.” Independentemente disso, a tecnologia 3D veio para ficar. E os apresentadores poderão, enfim, entrar de corpo inteiro na casa dos telespectadores.
Veículo: Revista Isto É Dinheiro