Varejistas começam a perceber sinais de aumento da demanda nos primeiros dias de dezembro, em relação a novembro. O principal indicador foi o crescimento no tráfego de consumidores nas lojas, que se traduziu em índice de vendas um pouco acima do que o verificado no mesmo período do ano passado, informaram as varejistas. Neste segundo fim de semana de dezembro, o desempenho de grandes redes será acompanhado em tempo real por seus executivos, para que o resultado seja conhecido já na segunda-feira.
É preciso verificar se existe uma tendência de recuperação da perda de vigor verificada nos últimos meses, e os resultados neste sábado e domingo podem ser cruciais nessa análise, comentou ontem um diretor de uma rede de produtos eletroeletrônicos. "Daqui para frente é tudo no esquema Big Brother, acompanhando tudo na hora", disse ele.
De acordo com quatro redes de varejo ouvidas nos últimos dias, as vendas na primeira semana do mês cresceram entre 12% e 15% em termos nominais (sem descontar a inflação) em comparação a igual período de 2010. Em relação ao ritmo verificado em novembro, a taxa é maior. No mês passado, a alta nominal foi de 5% a 12%. Ou seja, foi verificada uma aceleração.
Haverá, portanto, um crescimento dentro do que o varejo considera um bom Natal. "Sentimos uma mudança maior nos últimos dias. Não estávamos indo mal, mas crescendo meio devagar. A mudança é reflexo do IPI menor, da chegada de parte do 13º salário e da abertura de novas lojas, que sempre atraem o consumidor", diz Carlos Luciano Martins Ribeiro, presidente do grupo Novo Mundo, maior rede de eletrônicos do Centro-Oeste, com R$ 1 bilhão de receita prevista em 2011. A previsão é fechar dezembro com alta nominal de 15% nas vendas em relação ao mesmo mês de 2010.
A varejista Ricardo Eletro sentiu em dezembro uma melhora substancial nas vendas em função da redução do IPI para a linha branca. "Outubro não foi muito bom, novembro já foi bem melhor, mas em dezembro as vendas deram uma boa reagida, acima do que geralmente acontece neste mês. Os consumidores ficaram mais animados por causa do IPI", disse Ricardo Nunes, presidente da Ricardo Eletro.
No trimestre anterior, as vendas da rede ficaram praticamente empatadas com as do mesmo período de 2010. Isso, disse Nunes, sem contar com o desempenho das vendas pelo site, que cresceram cerca de 20%. No quarto trimestre, no entanto, muito em função de novembro e dezembro, as vendas poderão fechar até 15% maiores em relação ao quarto trimestre de 2010, disse ele.
Na avaliação das cadeias ouvidas pelo Valor, existe um movimento lento de aumento na demanda. "Você tem um consumidor que sempre usa o 13º salário para pagar dívida. Esse cliente vem à loja no começo do mês para ver os preços, e então ele volta na segunda e terceira semanas, para então fazer a compra", diz Ricardo Marques, coordenador de vendas da Rabelo, uma das maiores varejista do Nordeste, com previsão de chegar a 100 lojas neste ano.
Na lojas Rabelo, os dois últimos dias mostram uma "certa aceleração" nas vendas. Entre agosto e outubro, a alta nas vendas foi de 9% (nominal) e há espaço para uma alta de até 15%..
O comando de uma das maiores redes de varejo do país, ouvida ontem, informou que a empresa "não trabalha com qualquer hipótese de euforia nas vendas", assim como não há um cenário preocupante. "Nós abrimos dezembro com alta de 12% nas vendas até ontem [quarta-feira]. Não sei se isso vai se manter, mas pelas nossas contas há espaço para chegar em 15% de alta em dezembro", afirma a fonte.
Nesse cenário, o estoque do varejo na virada do ano passa a ser um ponto de atenção maior. As grandes companhias negociam, em meados do ano, a compra para o fim do ano, e com isso calculam o volume de excedentes para janeiro. Em anos em que há desaquecimento, o risco de errar é maior. Por isso ajustes finos são mais frequentes. As redes passam a acompanhar a demanda de alguns itens diariamente.
Para alguns itens, é possível aumentar o número de lotes encomendados até mesmo em dezembro. Em janeiro, a rede vende o estoque que não foi comercializado neste mês e confirma (isso já em dezembro) os pedidos feitos para janeiro. "Não esperamos um janeiro muito melhor que o de 2010. O medo é que demissões na indústria venham depois da época de festas", diz Marques.
Veículo: Valor Econômico