Após terminar outubro com variação zero, os preços do grupo alimentação dentro do Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) da Fundação Getulio Vargas tiveram substancial elevação ao final de novembro (0,78%), que continua da primeira semana deste mês (0,94%).
Apesar das revisões recentes para baixo no peso desse item no total do orçamento dos consumidores, é grande o interesse sobre o comportamento desses preços, principalmente pela alta frequência de seu consumo.
A quantidade e a diversidade de itens dentro do grupo "alimentação" dificultam a análise das tendências de preços: temos itens de culturas curtas e oferta essencialmente local, cujos preços são muito voláteis e sensíveis a condições climáticas que condicionam sua oferta, bem como itens cujo comportamento de preços internos depende em medida significativa dos preços praticados no mercado internacional.
Mas, de forma geral, o que se pode dizer do comportamento dos preços desse grupo no final de 2011? Para responder a questão, utilizamos um modelo estatístico capaz de decompor a trajetória das variações de preços dos alimentos no IPC-S, desde janeiro de 2003 até novembro de 2011, em termos do que representa a tendência de longo prazo, o comportamento sazonal (variações sistemáticas em cada mês ao longo dos anos), e finalmente do seu componente aleatório, que capta variações não sistemáticas, refletindo questões pontuais como quebras de safras etc.
O gráfico à esquerda mostra a evolução dos componentes de tendência e sazonalidade. O componente sazonal mostra claramente elevação nos últimos meses do ano, o que explica em parte o comportamento de novembro e dezembro deste ano.
Já o componente de tendência conta perfeitamente a história das elevações de 2006/7, os efeitos da crise de 2008/9 e uma relativa estabilidade com tendência de queda nos últimos meses.
No início de 2010 e final de 2011, por exemplo, o índice sofreu o efeito das chuvas acima do normal. Já nos últimos dois meses não houve nenhuma grande surpresa.
Podemos notar dois pontos importantes. O primeiro é que a magnitude das variações desse componente é superior à dos outros dois anteriores, o que em outras palavras mostra a dificuldade de realizar previsões numéricas sobre esse item dos IPCs.
O segundo é que parece não ter havido nenhuma grande surpresa nos dois últimos meses.
Assim sendo, a perspectiva dos preços dos alimentos neste final de 2011 é, por enquanto, de elevação meramente sazonal, em meio a uma tendência de longo prazo de desaceleração.
A dúvida fica por conta das condições climáticas ao longo dos próximos meses.
Veículo: Folha de S.Paulo