Com a venda dos negócios de atomatados e limpeza, anunciada no sábado, a Hypermarcas encerra um processo de redução de portfólio e enxugamento de atividades. Após oito meses de negociação, a empresa se desfaz de 12 marcas (as principais são Etti, Assim e Assolan), três fábricas e transfere cerca de 600 funcionários aos novos donos. É esperado, agora, que a companhia passe a entregar no ano que vem parte dos ajustes no grupo prometidos ao mercado. Isso num momento em que as movimentações da companhia têm sido acompanhadas ainda mais de perto pelos investidores.
O que analistas aguardam, é que o questionamento principal envolvendo a empresa mostre evolução em 2012 - com uma melhoria em receita, no Ebitda e maiores ganhos de sinergia a partir do ano que vem. A venda dos negócios teve como principal função reforçar o caixa e reduzir nível de endividamento, outra promessa da empresa aos investidores.
As 12 marcas vendidas em limpeza e alimentos registraram receita de pouco mais de R$ 200 milhões de janeiro a setembro. A Flora Higiene e Limpeza comprou a Assim em outubro, a Bunge ficou com a Etti e a Química Amparo, com a Assolan, como anunciado no sábado. Pagou-se pelas operações R$ 455 milhões (mais R$ 60 milhões devem entrar como ajuste de capital de giro). É mais do que o dobro da receita de janeiro a setembro, mas essa relação entre vendas e valor desembolsado não é válida nesse caso.
Não se pagou por um negócio com vendas em crescimento, até porque a área de limpeza e alimentos encolheu nos últimos dois anos. Foram compradas as marcas - e o potencial de crescimento de Etti, Salsaretti, Assim, MatInset e Assolan. Existe uma busca de compradores no mercado por ativos de bens de consumo com marcas populares no país. Por isso, a americana McCormick esteve na disputa pela Etti até as vésperas do fechamento do negócio.
A companhia chegou a oferecer até um pouco a mais que a Bunge, mas acabou perdendo porque havia uma imposição maior de condições para fechar negócio.
A partir de agora, como apurou o Valor, a Bunge deve fazer novos investimentos na marca, incluindo injeção de capital na fábrica de atomatados de Araçatuba (SP), com 250 funcionários hoje. E a Química Amparo, dona da Ypê, controlada pela família Beira Júnior, consegue entrar no mercado de palha de aço, segmento que ainda atua discretamente com a marca Ypê.
A possibilidade de atuar nessa área, entretanto, não é a principal razão da compra da Assolan pela Química Amparo. A empresa deve usar a marca para entrar em novos mercados na área de limpeza e pode criar uma linha de produtos de maior valor agregado com a marca, apurou o Valor com pessoas próximas à empresa. A fabricante não comenta a informação. Analistas entendem que a estratégia pode passar por essa questão.
"Não creio que a categoria de palha de aço seja tão importante assim. Se pensarmos em termos de tendências de simplicidade e praticidade, faria mais sentido comprar essa marca forte para atuar em outras categorias", disse o professor de gestão de marcas da Escola Superior de Propaganda e Marketing, Marcos Machado.
A marca Ypê passará a disputar mercado com a Bombril e com a Flora, que acaba de comprar a Assim e que, há poucos meses atrás, adquiriu a Bertin Higiene e Beleza. Deve aumentar, portanto, a concorrência de empresas com capital nacional na área de produtos de limpeza, mercado disputado pela Reckitt Benckiser e Unilever.
Veículo: Valor Econômico