A fábrica da Etti em Araçatuba, a 524 quilômetros da capital paulista, trabalha hoje com produção de 40 mil toneladas ao ano, ou menos de 30% da sua capacidade total instalada, de 140 mil toneladas. A Hypermarcas, que comprou a Etti há pouco mais de cinco anos, colocou sua divisão de alimentos em segundo plano, para dedicar-se mais aos setores de higiene e beleza e medicamentos.
Como resultado, a quase sexagenária marca Etti, criada em 1955 pelo italiano Carmelo Paoletti, que já chegou a estar entre as líderes em atomatados, caiu para a quinta posição. Tem hoje menos de 8% de participação, abaixo de Cargill (dona de Knorr Elefante, Pomarola e Arisco), Heinz (marca Quero), Predilecta e Fugini. Mas a nova proprietária, a multinacional americana Bunge, garante estar pronta para dar novo fôlego à Etti.
"Somos a maior empresa do mercado em agronegócios e fertilizantes. Em açúcar e energia, onde entramos ano passado, já somos o terceiro maior player. Agora falta ganhar espaço em alimentos", disse ao Valor o diretor corporativo da Bunge, Adalgiso Telles. Pelo tamanho da companhia - que faturou US$ 45,7 bilhões no mundo e US$ 14,2 bilhões no Brasil em 2010 - a declaração tem peso. "Alimentos representa 25% das nossas vendas, mas é o mercado de maior potencial, ao lado de energia".
A multinacional americana garante que vai modernizar e aumentar a produção de Araçatuba. Assim como trazer a marca de volta à mídia. Embora afirme que a Bunge ainda analisa o portfólio, Telles adianta que a tendência é concentrar produtos sob um mesmo guarda-chuva. Assim, as marcas Puropure e Cajamar, que entraram no pacote da Etti, podem ser descontinuadas, assim como a produção de doces (goiabadas e geleias). Salsaretti será mantida.
"Com Etti, o foco está em temperos, condimentos, atomatados, pratos prontos e instantâneos", diz Telles. A Etti fez algumas investidas em pratos prontos e instantâneos, mas não explorou o segmento como planeja a Bunge. "Queremos crescer no mercado de consumo, mas para isso não é preciso ter 800 itens, como já tivemos no passado", afirma. Hoje, a Bunge tem 100 itens, concentrados sob as marcas Salada, Delícia, Primor e Soya. Com a Etti, incorpora mais 120 ao mix.
A Bunge tem atuação expressiva em óleos e margarinas, além de ingredientes para o setor de alimentação fora do lar, como misturas para pães e bolos. Mas esse perfil muda rapidamente, sob a marca Primor, que tem forte presença no Nordeste. Há um ano, lançou o arroz da marca e, em maio, atomatados premium, com produção terceirizada. Em outubro, apresentou uma marca própria de azeite, a Cardeal. A aquisição da Etti, mais forte no Sul e Sudeste do país, se mostra estratégica para completar o seu portfólio de "mesa de almoço" (azeite, arroz, atomatado, tempero, sopa e prato pronto). Mas ainda falta o "lanche": a Bunge é uma das interessadas na compra da fabricante de biscoitos Marilan. "Sempre avaliamos oportunidades", observa Telles.
Veículo: Valor Econômico