O presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai receber uma boa notícia hoje , na Itália. O principal executivo da divisão de pneus do grupo Pirelli, Francesco Gori, vai lhe comunicar os planos de ampliação da capacidade da fábrica de Feira de Santana (BA), em 2009.
À primeira vista, não haveria motivos para um projeto de expansão de capacidade na instalação baiana. A indústria automobilística reduziu o ritmo, no Brasil e no exterior. Além disso, a fábrica da Bahia é toda voltada à exportação, principalmente para os Estados Unidos.
Mas Gori tem seus argumentos. "Temos que pensar de forma positiva e investir onde temos custos competitivos", disse o executivo em entrevista exclusiva ao Valor. "O Brasil representa uma base forte de exportação", completa o executivo, que não detalha os planos de investimento na ampliação de capacidade.
Mas a desaceleração da atividade na indústria automobilística e a valorização do dólar não são os únicos fatores desfavoráveis a investimentos na mesma fábrica. Inaugurada em 2003, a unidade da Bahia abastece a indústria automobilística dos Estados Unidos, em plena crise. Apesar disso, Gori lembra que a unidade brasileira vai fornecer pneus para as novas versões de modelos como o Mustang, da Ford, e o Camaro, da General Motors, ambos fabricados em unidades americanas.
Não são apenas esses compromissos com o exterior que mantém as atenções da direção mundial da Pirelli no Brasil. No encontro de hoje, Lula vai ficar sabendo de outra boa notícia: embora não detalhe valores, Gori diz que a companhia investiu no Brasil neste ano o dobro do que gastou no ano passado.
Apesar da desaceleração das linhas de montagem de veículos, "o mercado de reposição ainda está forte", afirma Gori. Segundo o executivo, a força das vendas para reposição estão, de certa forma, compensando a atual retração da demanda nas montadoras.
Lula estará hoje na Itália. Mas Gori, que assumiu o comando da divisão de pneus do grupo Pirelli há dois anos, se prepara para vir ao Brasil passar o Natal. Além do mau tempo na Europa nessa época do ano, o executivo deixará para trás a súbita queda de demanda dos mercados europeus.
A retração de pedidos já levou a Pirelli a reduzir o ritmo de produção nas fábricas européias. Segundo Gori, a medida é resultado da queda da produção de veículos no continente.
"Temos sorte na América do Sul, principalmente no Brasil ", diz o executivo, para quem o Brasil se mostra um país de alta competitividade. A operação latino-americana, onde o Brasil tem o maior peso, representa 35% das vendas da Pirelli Pneus, uma empresa cuja receita mundial alcançou 4,61 bilhões de euros no ano passado.
A Pirelli Pneus tem fábricas novas em outras regiões emergentes, como China e Oriente Médio. Mas a do Brasil é a mais antiga. A filial brasileira vai completar 80 anos em 2009. Para Gori, apesar da tendência de a velocidade da economia mundial diminuir no próximo ano, o cenário nos mercados emergentes deverá ser mais positivo. Segundo o executivo, é preciso investir não apenas onde os custos são competitivos como também onde a marca é líder de mercado, como é o caso da Pirelli Pneus no Brasil.
Em fevereiro, a empresa deverá anunciar os planos de investimentos para os próximos três anos. Entre os projetos em tecnologia em curso está o desenvolvimento de pneus voltados às novas exigências de economia de combustível e redução de emissões de poluentes.
Gori explica que os novos produtos apresentarão menos resistência e serão mais leves, permitindo maior eficiência no consumo de combustível. "Mas o consumidor precisa entender que para obter mais economia e segurança é preciso calibrar o pneu corretamente", completa.
Em tempos de crise, como a atual, planejamentos têm sido tarefas árduas para qualquer companhia. Para Gori, é difícil dar uma resposta sobre os rumos da crise financeira daqui para a frente, pois ao seu final vem um período de desaquecimento da economia. "Os consumidores estão assustados", destaca.
As fábricas que a Pirelli tem no Brasil estão em três cidades de São Paulo - Campinas, Sumaré e Santo André -, além de Gravataí (RS) e Feira de Santana (BA). Dono de um faturamento anual de 5,2 bilhões de euros, todo o grupo Pirelli emprega 30 mil pessoas. Desse total, 27 mil trabalham nas unidades de pneus e 8,85 mil estão no Brasil.
Veículo: Valor Econômico