As lojas verdes são as novas vedetes das grandes varejistas, que prometem diminuir o impacto causado pelos pontos-de-venda ao meio-ambiente e, assim, melhorar sua imagem perante os consumidores. McDonald's, Wal-Mart e Grupo Pão de Açúcar já começam a construir no Brasil filiais abastecidas com energia solar, decoradas com móveis de materiais reciclados e operadas com equipamentos mais eficientes. Mas o maior desafio será conseguir equacionar os custos dessas lojas, que podem ser até 30% mais altos que os de uma loja convencional.
A esperança é de que o retorno sobre o capital investido venha na forma de redução nos gastos mensais com energia e água, que podem ser até 15% inferiores. E é essa a conta que começa a ser feita nas poucas unidades verdes que estão sendo inauguradas. Na verdade, as lojas servem mais como um laboratório para experimentar novas tecnologias, materiais e processos. As varejistas ainda não sabem se serão capazes de replicá-las em larga escala.
Esse movimento, porém, deve obrigar os fornecedores tradicionais de equipamentos e materiais de construção a se mexer. Em alguns casos, as redes estão substituindo seus fornecedores e saíram em busca de novas fontes de suprimento ao redor do mundo para tornar suas lojas mais ecológicas.
O McDonald's vai inaugurar nos próximos dia o seu primeiro restaurante verde no Brasil em Bertioga, no litoral paulista, em um condomínio de classe média alta, a Riviera de São Lourenço. A multinacional americana já opera uma loja com o conceito verde em Chicago, nos Estados Unidos.
Segundo Flávia Vigio, vice-presidente de comunicação corporativa do McDonald's na América Latina, a multinacional segue os padrões exigidos pela Leadership in Energy and Enviromental Design (LEED), entidade americana que certifica construções verdes no mundo. O restaurante de Chicago conquistou a nota máxima da LEED, enquanto a loja de Bertioga deve receber uma classificação intermediária.
Um dos grandes destaques da loja verde na Riviera de São Lourenço é um sistema de ar condicionado inteligente. O equipamento, fabricado pela Trane e importado dos EUA, possui sensores que abrem e fecham as janelas do restaurante automaticamente, além de controlar a velocidade e a direção do ar. A loja também terá painéis de energia solar no teto, que irá abastecer os 17 postes na área de "drive-through".
Segundo Flávia, a expectativa é de que a loja demande 14% menos energia do que um restaurante convencional do McDonald's, o que representará uma importante economia já que esse é o segundo maior custo, ficando abaixo apenas das matérias-primas alimentícias. Para a LEED, o consumo de energia é o que mais pesa na classificação de uma construção verde.
No entanto, os custos do sistema de ar condicionado e das placas de energia solar jogam os custos da loja verde às alturas. Em Bertioga, os "banners", painéis utilizados na comunicação nos pontos-de-venda, também serão feitos de algodão e não de PVC, cuja decomposição demora 300 anos. " Mas os painéis de algodão são duas vezes mais caros", diz Flávia, que estima que a construção da loja verde exigirá investimentos entre 20% e 30% mais altos que o normal.
Apesar de todos os esforços para a utilização de energias renováveis, também existem ainda grandes obstáculos para sua viabilização. Os painéis solares só conseguirão atender, por exemplo, 2,5% da demanda do restaurante em Bertioga. O McDonald's já começou a realizar testes com uma usina de energia eólica em Natal (RN), apesar de ainda não ter planos de abrir uma loja verde na cidade.
O Wal-Mart vai abrir nas próximas dias em Campinho, no Rio de Janeiro, a sua primeira loja no Brasil com energia solar, cujas placas foram importadas dos EUA, de uma empresa do Texas. No mercado americano, onde a multinacional possui cerca de cinco lojas verdes utilizadas como modelo, a varejista não vem obtendo bons resultados com energia eólica, afirma Daniela de Fiori, vice-presidente de comunicação do Wal-Mart no Brasil. "Mas não desistimos dessa idéia no Brasil. Estamos fazendo testes com energia eólica no Nordeste, onde acreditamos haver potencial", diz a executiva.
O Wal-Mart já inaugurou neste ano no bairro da Granja Viana, em São Paulo, o seu primeiro hipermercado com conceitos verdes. Mas, em vez de criar apenas lojas-laboratórios, distantes da realidade, a multinacional preferiu fazer uma lista com 58 iniciativas verdes, que são implementadas de acordo com as possibilidades oferecidas por cada loja. "Tudo é maravilhoso em uma loja-modelo, mas os custos são exorbitantes", diz Daniela. É possível colocar sensores que acendem as luzes nos corredores apenas quando alguém se aproxima, acrescenta, mas o custo dessa tecnologia é impraticável.
O Grupo Pão de Açúcar inaugurou em junho deste ano sua primeira loja em Indaiatuba (SP) e está colhendo as informações para saber que prazo terá o retorno sobre o capital investido. Segundo executivos da companhia, o valor investido na loja foi 10% superior ao total desembolsado em um supermercado comum, mas a expectativa é de que ela gaste 14% menos energia. A unidade é abastecida com energia produzida a partir da queima de bagaço de cana.
O grupo ainda não bateu o martelo sobre a abertura de uma segunda loja verde, mas a expectativa é de que o modelo consiga ser replicado. "Estamos fazendo estudos de terreno para saber quais são os mais adequados", disse um executivo.
Veículo: Valor Econômico