Fabricantes de latas colocam o pé no freio

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Depois dos diversos anúncios feitos pelas fabricantes de latas de alumínio no ano passado, que prometeram expansão da produção, o setor agora põe o pé no freio. As empresas produtoras das latinhas de refrigerantes, cervejas, sucos e chás revisaram seus planos de investimentos e postergaram a conclusão dos projetos de ampliação de capacidade.

"Diminuímos a velocidade, para adequação dos volumes com a demanda", afirmou ao Valor , o presidente da Crown Embalagens, Rinaldo Lopes.

Esse movimento segue o pico de consumo de bebidas de 2010, principalmente durante os jogos da Copa do Mundo. Neste período, o setor de embalagens de alumínio viveu um boom de demanda. Segundo dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas), foram comercializadas mais de 17 bilhões de unidades de latas para bebidas, alta de 17%. Diante do recorde, o setor foi obrigado a importar e se viu frente a uma clara necessidade de aumentar sua capacidade de produção.

De três grandes empresas multinacionais fabricantes de latas de alumínio que anunciaram novas fábricas, duas decidiram postergar a conclusão desses investimentos, com o esfriamento do consumo verificado neste ano.

A fábrica da Crown em Belém (PA) estava programada para entrar em operação em junho de 2012, mas isso só deve ocorrer no final do ano ou início de 2013. Atualmente a unidade está na fase de terraplenagem. No local estão sendo investidos US$ 80 milhões para uma capacidade de 1 bilhão de latinhas por ano.

Com essa que será sua quarta fábrica de latas no Brasil, a empresa - fruto de uma joint venture entre a americana Crown Holdings e o grupo brasileiro Petropar - vai sair de uma capacidade de 3,5 bilhões de latas em 2010, para 7,5 bilhões de latas em 2012. "Continuamos a investir, mas postergamos essa unidade em seis meses, para que os mercados se acomodem", explicou Lopes.

A inglesa Rexam também segue esse movimento. O início das operações da nova fábrica - também na região de Belém (PA) - não ocorrerá mais na metade de 2012. Os planos agora apontam para a conclusão do projeto até o fim do ano. A capacidade anual dessa fábrica somará 1,2 bilhão de unidades.

Diante da alta demanda do ano passado, a empresa anunciou, além de Belém, a reabertura da unidade de Pouso Alegre (MG) e a ampliação da capacidade de outras três fábricas - Jacareí (SP), Recife (PE) e Chile. Com a nova unidade, a Rexam passa a ter 11 fábricas no Brasil, com capacidade total de 14 bilhões até o fim de 2012.

"Houve uma demora no processo de licitação. Aproveitando isso, achamos por bem postergar (a conclusão da fábrica de Belém)", afirmou o presidente da Rexam para as Américas, André Balbi. Segundo ele, houve um crescimento desordenado em 2010. "Isso fere um pouco as estruturas. Fechamos 2010 com custos operacionais altos. Já no ano passado, conseguimos respirar e melhorar nossa eficiência", completou o executivo.

E a desaceleração das vendas do setor de latas de alumínio realmente foi sentida pelas empresas. No início de 2011, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alta Reciclabilidade (Abralatas) previa crescimento de 10% a 12% nas vendas. Essa estimativa, no entanto, foi reduzida três vezes ao longo do ano. Agora, a associação acredita que o setor deva avançar de 4% a 5%.

"O ano frustrou. Não tem como negar", afirmou o diretor comercial da Latapack-Ball, Jorge Bannitz. A empresa anunciou no início do ano a entrada em produção da segunda linha da fábrica de Três Rios (RJ), destinada a latas de tamanho especial (mais finas) e deve concluir em março deste ano a construção de sua nova unidade em Alagoinhas (BA). Com os novos investimentos, a empresa passará a ter uma capacidade anual de 5,5 bilhões de latas. No caso da Latapack, nenhum investimento foi postergado, mas a companhia não terá o crescimento de 20% no faturamento, como previa no primeiro semestre. Em 2010, sua receita ficou em US$ 400 milhões.

Dentre as razões listadas pelas empresas para o esfriamento do consumo de bebidas no país, e a consequente desaceleração da demanda por latas de alumínio, está o maior endividamento da população, o aumento da inflação, a menor confiança dos consumidores diante da crise internacional e a elevação das taxas incidentes sobre as bebidas, que foi repassada ao consumidor.

Para 2012, as perspectivas estão melhores. Há expectativas de que haja uma nova onda de crescimento no consumo do brasileiro, com o aumento do salário mínimo. Além disso, as eleições municipais - acompanhadas das festas dos prefeitos vencedores - devem aquecer a demanda por bebidas. A Crown estima avanço de 7% a 8% nas vendas. "O Brasil se tornou um país de mercado interno forte. 2012 será positivo, Mas crescemos bem em 2011", diz o presidente da Rexam.



Aposta nas "sleeks" para atrair novos consumidores



As latas de alumínio de tamanho especial, como as do tipo sleek - menores, mais finas - têm sido a grande aposta das fabricantes do setor para os próximos anos. Segundo dados da Nielsen, a produção das sleeks no Brasil avançou 41,9% entre janeiro e outubro deste ano, ante o mesmo período de 2010. O latão - lata maior, de 473 ml - também apresentou crescimento no período, de 15,7%. Enquanto isso, a produção da lata do tamanho tradicional, de 350 ml, apresentou recuo de 1,7%.

A participação de mercado das latas de tamanho especial ainda é pequena. Segundo mostra a pesquisa, enquanto a lata tradicional detém 27,1% do mercado brasileiro, o latão tem 8,1% e a sleek, 1,9%.

"Mas é uma tendência, acompanha a segmentação do setor de bebidas", afirmou o presidente da Rexam para as Américas, André Balbi. Hoje, a empresa produz as latas do tipo sleek em Jacareí (SP), mas de suas 10 unidades, seis podem produzir as latas de tamanhos especiais: são unidades flexíveis.

A Crown, por sua vez, já está construindo a nova fábrica de Belém (PA) para ser flexível. As fábricas de Ponta Grossa (PR) e Estância (SE) também têm a possibilidade de produzir latas de tamanhos especiais. "Investir nisso é uma condição de competitividade. Quem não tiver, deve perder 'market share'", afirmou o presidente da Crown, Rinaldo Lopes. Segundo ele, a estratégia é aumentar a penetração da lata no mercado, adequando seu tamanho aos diferentes canais de distribuição.

A nova fábrica da Latapack-Ball, em Alagoinhas (BA) também pode produzir as latas do tipo sleek e os latões. (VD)


Veículo: Valor Econômico


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