Elevação da cotação reflete perdas da safra, provocada pela estiagem, e deve ter impacto na inflação ao consumidor
A forte estiagem que atinge o Sul do País já provocou perdas na safra de feijão, milho e soja e afetou significativamente o preço do feijão. No Paraná, do final de dezembro para a primeira semana de janeiro, o preço do feijão recebido pelo produtor subiu cerca de 15%, informa o chefe do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura do Paraná, Otmar Hubner.
"A situação é preocupante e irreversível no caso do feijão e do milho", diz ele. De acordo com o último levantamento de safra do Paraná, o feijão foi o mais castigado pela seca. A quebra da primeira safra é de 19% ou 83 mil toneladas em relação a estimativa inicial que era de uma produção de 430,6 mil toneladas. No Rio Grande Sul, levantamento feito pela Emater do Estado revela que, até agora, a perda é de 11% ou 9 mil toneladas de feijão.
"Acendeu a luz amarela", afirma economista da consultoria Tendências, Amarylis Romano. Ela faz referência ao impacto na redução da oferta de feijão e na provável elevação de preços ao consumidor. Apesar de a oferta de feijão se recompor rapidamente, pois há três safras num ano agrícola, a primeira safra, que é a atual, é a mais volumosa. Além disso, o produto tem participação importante nos índices de inflação ao consumidor.
No caso do milho e da soja, Amarylis destaca que ainda não houve reflexos nos preços. No Paraná, a perda na produção de milho em relação à produção estimada é de 21% ou 1 milhão de toneladas. No Rio Grande do Sul deixarão de ser produzidos 1,3 milhão de toneladas de milho.
Gervásio Paulus, diretor técnico da Emater-RS, ressalta que as perdas na produção de milho e a provável elevação de preços podem ter efeitos nos custos de outras cadeias do agronegócio, como as carnes de frangos e de suínos, uma vez que o grão é usado na alimentação desses animais.
Amarylis acrescenta que a Argentina, o segundo maior produtor de milho, também enfrenta problemas de estiagem e perdas na produção, o que pode impulsionar os preços do grão no mercado internacional e agravar a situação dos estoques mundiais, que estão baixos.
Soja. Enquanto o quadro é irreversível no feijão e no milho, na soja a situação seria menos grave, concordam os técnicos do Deral e da Emater. Como a lavoura ainda está em fase de desenvolvimento, se o clima se normalizar as perdas podem ser estancadas. De toda forma, os levantamentos apontam queda de 1,4 milhão de toneladas na produção do Paraná e de cerca de 500 mil toneladas no Rio Grande do Sul.
Hubner, do Deral, esclarece que, ao contrário do feijão e do milho, o preço da soja é ditado pelo mercado internacional e que vários fatores influenciam as cotações, como a safra dos EUA e demanda mundial.
Veículo: O Estado de S.Paulo