Após 12 aquisições desde 2007, .Mobi agora quer ser uma multinacional brasileira no setor
Quando o empresário Léo Xavier entrou no mercado de mobile advertising, ou publicidade no celular, em bom português, o grande negócio era o ring tone. Em sua quarta tentativa empreendedora, ele abriu a .Mobi em 2007, para desenvolver ações de marketing no incipiente mercado de telefonia móvel. A empresa chega ao quinto ano de operação como uma "veterana" do setor. Hoje é uma holding com nove empresas e planos de internacionalização.
A .Mobi atua em um segmento intermediário entre publicidade e tecnologia. Ela faz ações de marketing para celulares, cria games e desenvolve aplicativos para as marcas, entre outras atividades. Hoje, seus principais clientes são as agências de publicidade, que fazem parcerias para oferecer serviços de marketing em celular e tablet.
Desde que foi criada, a .Mobi fez 12 aquisições e ficou com nove marcas. A mais recente foi a Aorta, uma desenvolvedora de aplicativos para smartphones criada no mesmo ano que o Grupo.Mobi e comprada por ele neste mês. A companhia não revelou o valor do negócio, mas diz que foi sua maior aquisição. A Aorta deve elevar em 45% o faturamento anual do grupo.
Um mês antes, a .Mobi comprou a Hands Mobile, da Ideiasnet, a primeira agência especializada em mobile marketing do País. Com a Hands e a Aorta, a .Mobi atinge um faturamento anual de cerca de R$ 30 milhões, segundo apurou o Estado. Ainda é pouco se comparado a grandes grupos publicitários ou até mesmo a gigantes de internet. "A .Mobi ainda está em fase pré-operacional. Algumas empresas já são lucrativas, outros ainda estão em fase de investimento", disse o CEO da Holding Digital da RBS, Fabio Bruggioni, controladora da empresa.
Em 2008, a rede gaúcha RBS comprou 60% do Grupo.Mobi e, desde então, tem financiado a expansão da empresa. Naquela época, o setor era um mar de startups, mas quase nenhuma delas tinha recursos para se expandir e sair na frente na disputa por um mercado novo. "Sempre quisemos ser o maior grupo na área mobilidade do País. E eu acredito que podemos ser o maior do mundo", disse Xavier.
Para se internacionalizar, a empresa estuda fazer parcerias ou aquisições de empresas estrangeiras, segundo Xavier. A .Mobi conseguiu três contratos no exterior em 2011, por meio de uma parceria com uma agência britânica. Ela fez, por exemplo, os aplicativos do Festival de Cannes 2011 para iPhone, Android e iPad. "O mercado global está longe da maturidade. E há espaço para uma multinacional brasileira na área de mobile", diz Xavier.
Mas, para a RBS, o momento é de focar na operação. Para Bruggioni, a prioridade da .Mobi em 2012 deve ser captar sinergias das aquisições já feitas, mais do que partir para novas compras. "Acho bacana o empreendedor brasileiro almejar uma posição de liderança global. Mas, se isso vai acontecer, eu não sei", disse Bruggioni.
No mercado, a ambição da .Mobi em ser líder global nesse setor é vista com ceticismo. "Hoje, as agências de publicidade terceirizam a operação de mobile porque ainda não dominam a tecnologia. Mas a tendência é que elas tragam o negócio para dentro de casa", disse um executivo do setor de tecnologia.
O grupo WPP, dono da agência Ogilvy, por exemplo, já comprou três empresas e negocia outra aquisição no Brasil, de acordo com o presidente da Ogilvy Brasil, Sergio Amado. "O mobile está dentro desse pacote digital", disse. A agência quer oferecer às marcas o "pacote completo" de marketing, com ações desenhadas para todos os meios de comunicação. Na área de marketing digital, cerca de 80% das campanhas são desenvolvidas pela agência - o restante é feito em parceiras com empresas especializadas.
Para Abel Reis, presidente da AgênciaClick, as agências publicidade vão ficar cada vez mais tecnológicas. Na empresa, o setor de tecnologia tem 40 pessoas. "A tendência é criar aplicativos para as marcas dentro da agência", diz Reis. A AgênciaClick nasceu com foco digital, mas foi comprada por um grande grupo publicitário em 2007, o Aegis.
O que todos concordam é que o mercado de publicidade para celular e tablet está apenas na infância no mundo todo e mais ainda no Brasil. Nos Estados Unidos, esses dispositivos recebem 0,9% da verba publicitária, mas respondem por 10% do tempo diário que os usuários gastam em veículos de mídia, segundo dados de 2011 da consultoria eMarketer. No país, 44% dos celulares vendidos são smartphones. No Brasil, esse porcentual é de 5,8%, segundo dados da Nielsen de 2011.
Veículo: O Estado de S.Paulo