Não há dúvida que a brasileira adora um bronzeado. A versão artificial da marquinha de sol, entretanto, não decola por aqui. A aposta do mercado é que o uso dos autobronzeadores cresça com o avanço da consciência sobre os riscos da exposição ao sol. Até o momento, porém, a educação reflete-se no consumo do protetor solar, mas não no de autobronzeador.
Pequeno, o mercado dos cremes que prometem bronze sem sol ainda não é auditado pelas consultorias Nielsen e Kantar. Os últimos dados da Euromonitor mostram um encolhimento na venda de 12% em 2010 ante 2009, para R$ 28,6 milhões. No mesmo ano, o mercado de protetores solares somava R$ 1,86 bilhão, alta de 24%.
Um sintoma da dificuldade de ampliar este mercado é que a Nivea, dona da segunda maior participação em protetores solares, atrás de Sundown, abandonou a categoria de autobronzeadores no fim de 2007 e não tem planos para retornar. Lançou em seguida a linha Protect & Bronze, que promete a cor desejada sem eliminar o sol do processo.
"Preferimos apostar nisso até que existam de fato fórmulas de autobronzeadores que não deixem a consumidora com dúvidas a respeito do uso e da eficácia", diz a diretora de marketing de Nivea no Brasil, Tatiana Ponce. A complexidade da categoria sempre foi unanimidade nas discussões do setor de higiene e beleza, segundo a executiva.
Como a aplicação uniforme não é uma tarefa fácil, a consumidora frequentemente reclama de manchas na pele ou do resultado mais próximo da cor laranja. Outra crítica frequente é ao cheiro forte. Isso porque, ainda que haja diferentes concentrações, os autobronzeadores têm o mesmo princípio ativo, a dihidroxiacetona (DHA). A substância reage com a queratina presente na pele, produzindo um odor característico e o tom do bronzeado, que varia de acordo com a pele.
"Não há nenhum risco para a saúde. Recomendamos o produto para pacientes que não estão satisfeitos com a cor de sua pele, mas muitos resistem", afirma o médico Sérgio Schalka, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Convencer o paciente de abrir mão do hábito de tomar sol é um desafio, segundo ele. "A ideia do bronzeado como característica de saúde ainda é muito arraigada".
A busca pelo bronze sem sol, ao contrário do que se possa imaginar, não é mais forte nas cidades sem praia. Entre as maiores aceitações estão Rio de Janeiro e Espírito Santo. O consumo maior também não ocorre no período em que o sol é mais raro, mas sim entre setembro e março. Muitas mulheres usam antes de ir à praia, a fim de não desfilar na areia com "cor de escritório".
"É um produto de nicho, não de grande volume, mas tem clientes fiéis", diz o diretor da unidade de negócios da Natura, Renato Abramovich. A empresa tem autobronzeadores há mais de dez anos em seus catálogos. Segundo o executivo, a varejista tem vantagem nesse mercado pela presença da consultora, que pode tirar dúvidas sobre o uso do item. De qualquer forma, a empresa não vê motivo para aumentar ou reduzir o investimento em marketing sobre a categoria.
A francesa La Roche-Posay vende autobronzeadores há 12 anos com a marca Autohelios. "Esse é um mercado que está começando a ganhar forma no Brasil muito em função da crescente conscientização sobre a importância de se proteger do sol. No entanto, por estarmos em um país tropical, repleto de praias e cenários convidativos, os brasileiros ainda preferem tomar sol", diz Caroline Collier, diretora de La Roche-Posay.
Veículo: Valor Econômico