Casas Bahia ousa e vai para a periferia

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Ousadia é a palavra de ordem no varejo, pelo menos no conceito de um dos maiores empresários do País, Michael Klein, responsável por conduzir o império criado por seu pai, Samuel, fundador da Casas Bahia, a maior varejista de eletrodomésticos, eletrônicos e móveis, além de ser a maior anunciante brasileira, que prevê faturar este ano R$ 14 bilhões - cifra 7% maior que 2007. O empresário arregaça as mangas para encarar de frente uma estratégia no mínimo inusitada: avançar os negócios com pontos-de-venda dentro de favelas, de olho no consumidor de baixa renda, quase uma volta à porta dos clientes com menos recursos, que historicamente consagraram a rede, que prevê 560 lojas em 2008, 30 das quais abertas este ano.

 

A busca pela classe consumidora emergente teve ontem seu primeiro passo, quando Klein, o filho, inaugurou a primeira filial na favela Paraisópolis, a segunda maior da capital paulista.

 

O empresário, que tem planos de expandir também para outras áreas de periferia, não está só. A concorrente Lojas Marabraz confirma interesse em fincar bandeira na comunidade, conforme apurou o DCI. Além dela, a rede de fast-food McDonald's também não descarta essa hipótese. A Casas Bahia, cujos caminhões já sobem e descem os morros de Paraisópolis há algum tempo, ficou mais próxima de seus clientes ao investir R$ 2 milhões na abertura da loja de dois mil metros quadrados, com a contratação de 27 moradores dos 50 funcionários que compõem o time da filial.

 

Michael Klein, diretor executivo da varejista, contou ao DCI que "a idéia é instalar lojas em outras grandes comunidades, como a Heliópolis [maior favela de São Paulo] e a Rocinha, no Rio de Janeiro. A periferia ao redor de Osasco (SP) também tem potencial, pois é uma localidade em que temos muitos clientes."

 

Perguntado sobre os reflexos da crise, Klein disse acreditar que sua rede não será afetada, tanto que garantirá investimentos futuros da ordem de R$ 84 milhões em expansão, sendo a maior fatia desta verba destinada para 2009.

 

Atrativos

 

Para consultores do varejo, o atrativo para a companhia instalar uma loja na favela é não ter concorrentes no local, que quase equivale a uma cidade de médio porte, com seus 80 mil habitantes e 20 mil domicílios. A expectativa da rede é faturar R$ 1,5 milhão ao mês na filial, a partir de janeiro.

 

Para o presidente da União dos Moradores e Comerciantes de Paraisópolis, Gilson Rodrigues, "a rede abriu portas para Marabraz, McDonald's, Caixa Econômica Federal e Bradesco. Todos demonstram interesse em investir aqui, atendendo à demanda."

 

Eugenio Foganholo, diretor da Mixxer Desenvolvimento Empresarial, consultoria especializada em bens de varejo, acredita que instalar uma loja em periferia é conveniente aos consumidores e pode ser tendência. "A ausência de concorrentes aumenta a chance de sucesso da empreitada. Outro fator importante é que a maioria dos funcionários reside por lá, o que ajuda a elevar a adimplência, pois existe uma ligação entre o vendedor e o comprador."

 

Futuro

 

"Os investimentos não serão paralisados. No ano que vem serão abertas cerca de 30 novas lojas, com investimento de mais ou menos R$ 30 milhões", ressaltou Michael Klein. Segundo ele, apesar de o nome da rede ter Bahia, só agora a empresa começa a desenhar sua entrada naquele estado. Apesar de o orçamento do próximo ano não estar definido ainda, o primeiro passo para as operações foi dado, com a assinatura de um protocolo de intenções com o governador baiano Jaques Wagner que marca a tão aguardada chegada ao estado.

 

A exemplo da carioca Ponto Frio, a família Klein decidiu explorar o Nordeste e começará a erguer um centro de distribuição no Município de Camaçari com 40 mil m² de área construída. "O projeto prevê a instalação de 30 lojas até meados de 2010. Entre a construção do centro de distribuição e a compra de terreno ou aluguel para as lojas, gastaremos R$ 58 milhões nesse período", detalhou. Até o ano que vem o quartel general da empresa estará concluído, consumindo quase 40% de toda essa verba.

 

Klein explicou que ainda está conhecendo o mercado local, mas que todas as lojas ficarão na região soteropolitana e terão o perfil de uma típica loja da rede, seguindo provavelmente as mesmas características de um ponto-de-venda de médio porte. A construtora que vai executar a obra está para ser escolhida e a projeção é de que dois mil empregos sejam criados, 400 deles apenas no centro de distribuição. "Só depois de consolidarmos esta expansão é que partiremos para outros estados", disse o executivo.

 

A respeito das negociações com a indústria, que foram paralisadas por causa de aumentos de até 30% em alguns casos, o diretor contou que "as compras foram mantidas apenas com aquelas que mantiveram os preços". Ele ressaltou o fato de que "boa parte dos componentes importados já estavam no País, o que não explica a decisão de mudar a tabela de preços. Algumas compras concluídas neste período foram fechadas com aumento de 5%". Entretanto, Klein não comentou se este valor será repassado ao consumidor, mas disse que o estoque para o fim de ano está garantido.

 

Veículo: DCI


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