Importados já atendem 22,8% do consumo

Leia em 4min 10s

A participação dos importados no consumo interno de bens industriais continuou a subir em 2011, atingindo o nível recorde de 22,8% no quarto trimestre, acima dos 21,5% do mesmo período de 2010. A alta forte das importações para atender o crescimento expressivo do consumo, num cenário de estagnação da produção local, explica o fenômeno, que vem ganhando terreno ao longo dos últimos anos, marcados pelo câmbio valorizado. No quarto trimestre de 2002, a fatia dos produtos estrangeiros era de 11,1%, segundo cálculos da LCA Consultores.

O avanço foi mais forte em setores de manufaturados que sofrem há tempos com a concorrência de produtos importados, especialmente chineses, como têxtil, máquinas e equipamentos, máquinas, aparelhos e materiais elétricos e veículos automotores, diz o economista Thovan Tucakov, da LCA.

Além do câmbio valorizado, o fato de o consumo no Brasil continuar robusto num momento em que muitos países desenvolvidos patinam, especialmente na Europa, estimulou os fabricantes estrangeiros a buscar o mercado nacional, diz o ex-secretário de Política Econômica da Fazenda Júlio Gomes de Almeida, consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). "Com as economias desenvolvidas crescendo pouco, os produtores se voltam para mercados que crescem mais, como o Brasil", concorda Tucakov.
 

Um exemplo claro da atratividade do mercado brasileiro é o desempenho do comércio. De janeiro a novembro de 2011, as vendas no varejo ampliado (que incluem automóveis, autopeças e material de construção) subiram 6,9% em relação ao mesmo período de 2010. Com dificuldade de competir com os importados, num quadro de real forte, a produção doméstica patinou em 2011, apesar de o varejo seguir firme. A indústria cresceu 0,3% no ano passado, com a fabricação de bens de consumo duráveis (como automóveis e eletroeletrônicos) recuando 2%. Para comparar, o volume importado total subiu 8,9% em 2011 e a o de bens duráveis, 27,1%, segundo a Fundação Centro de Estudos de Comércio Exterior (Funcex).

No setor têxtil, a fatia dos importados alcançou um quarto do consumo no quarto trimestre do ano passado. Em igual período de 2010, o número era de 21,5%. O descompasso entre importação e produção no segmento é um dos mais eloquentes - enquanto o volume importado no setor têxtil cresceu 8,8% em 2011, a fabricação local encolheu 14,9%.

No setor de veículos, as importações cresceram 21,5%, ao passo que a produção local avançou apenas 2,4%. Não por acaso, a fatia dos importados no segmento atingiu 24,4% no quarto trimestre de 2011, bastante acima dos 19,7% de igual período de 2010.

A participação dos importados também teve um avanço expressivo no setor de refino de petróleo e álcool. Passou de 16,2% na média dos últimos três meses de 2010 para 21,5% no mesmo intervalo do ano passado. Problemas na oferta de combustíveis explicam o resultado.

Nem todos os segmentos, contudo, registraram avanço da fatia importada. Em produtos químicos, a fatia fechou o ano em 27,5%, abaixo dos 27,8% do fim de 2010, e menos ainda que os 28,8% do segundo trimestre de 2011. No setor de calçados, ficou em 10,5% no quarto trimestre do ano passado, mais que os 10% do fim de 2010, mas inferior aos 10,8% do segundo trimestre de 2011.

Para Tucakov, a desvalorização do câmbio ocorrida nos últimos meses de 2011 - já em processo de reversão - pode ter segurado importações em alguns setores. Almeida também vê influência do câmbio, mas mais pelo temor de que a depreciação pudesse ir mais longe. Ele diz ainda que há limites estruturais para o aumento da fatia do importado em alguns segmentos. A dificuldade para gerenciar estoques com produtos importados pode ser um problema, assim como o fato de que aprofundar demais as importações pode implicar o fechamento ou a redução drástica da produção no Brasil. Segundo Almeida, muitas vezes isso não faz sentido do ponto de vista da estratégia das empresas.

Ele se diz preocupado com a tendência porque o aumento da fatia importada no consumo interno não ocorre simultaneamente a uma expansão das exportações - a alta da participação do produto estrangeiro tem principalmente substituído a produção local, e não aumentado a competitividade da indústria nacional, acredita ele.

Para o economista Juan Jensen, da Tendências Consultoria, o processo de substituição se deu mais a partir do segundo trimestre de 2011, quando a produção estagnou, sofrendo com o câmbio e com o maior apetite dos produtores estrangeiros pelo mercado brasileiro. Segundo ele, ao longo de 2010 e até mesmo no começo de 2011, vários setores da indústria cresceram com força, com elevados níveis de utilização da capacidade instalada. Nesse período, parte da indústria não tinha como atender toda a demanda, e o produto importado complementava, muito mais que substituía, a fabricação doméstica.

Em 2012, a fatia dos importados deve subir a um ritmo mais fraco por causa de perspectivas um pouco melhores da indústria, especialmente após a conclusão do ajuste de estoques, segundo analistas.


Veículo: Valor Econômico


Veja também

Carrinhos de compras

Ferrari do hortifruti - A marca espanhola Rolser começou em 2009 seu projeto de internacionalização...

Veja mais
Gastos em anúncios somam R$ 31,2 bi

Os investimentos em publicidade no Brasil somaram R$ 31,2 bilhões em 2011, segundo a agência Binder, com ba...

Veja mais
Roche reforça investimentos em inovação e evita os genéricos

Qual o futuro que se espera de uma companhia farmacêutica com faturamento de 42,531 bilhões de francos su&i...

Veja mais
IPI menor já provoca falta de geladeiras

A redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a linha branca, que entrou em vigor h&aacu...

Veja mais
Substituto de fungicida para a laranja custa até 30% mais

Alternativa possível é o uso de produto do grupo estrobilurina, cujo problema é valer três ve...

Veja mais
Empresários do varejo estão menos otimistas sobre 2012

Principal influência desse resultado veio da queda de 10,8% na expectativa de contratações, revela p...

Veja mais
Lucro da Whirlpool na AL recua 20% no 4º tri

Líder no mercado brasileiro de eletrodomésticos com as marcas Brastemp, Consul e KitchenAid, a Whirlpool o...

Veja mais
Raia Drogasil chega a três novos Estados

A rede de farmácias Raia Drogasil vai começar a operar em três novos Estados - Bahia, Mato Grosso e ...

Veja mais
Contratação de crédito atinge R$ 61,2 bilhões

     Financiamentos para o Plano ABC registram crescimento de 78% entre julho e dezembro de 2011 so...

Veja mais