A captação de leite nos sete principais estados produtores do País diminuiu em 2011. Conforme pesquisas do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, o Índice de Captação de Leite (ICAP-Leite), calculado com base em amostragem do volume recebido por cooperativas e laticínios de sete estados, foi 2,2% menor que o de 2010.
No Rio Grande do Sul, o setor foi prejudicado pela estiagem e a captação do período foi 3% inferior na comparação com a média diária do ano anterior. A reserva de silagem amenizou a queda, entretanto, há preocupações com o estoque de alimentos para os próximos meses, principalmente em função das perdas nas lavouras de milho, devido à falta de chuvas.
O Sindicato das Indústrias de Laticínios do Rio Grande do Sul (Sindilat), que representa 90% da captação de leite concentrada em 32 indústrias do Estado, estima que a produção em janeiro foi inferior a 8 milhões de litros por dia, quando o potencial do mês permitiria pelo menos 9,5 milhões de litros diários. O resultado da queda superior a um milhão de litros por dia, na opinião do secretário-executivo da entidade, Darlan Palharini, gera um prejuízo direto de R$ 24 milhões aos produtores gaúchos e altera os índices de produtividade na indústria.
“A tendência é que em fevereiro o quadro permaneça com este mesmo nível de perdas, pois nada mudou no que ser refere à estiagem e à baixa qualidade dos estoques de silo, originados pela quebra das safras. Os preços no Estado também devem acompanhar a estagnação da produção. Repasses da indústria, que já perde em produtividade na fabricação dos derivados, devem acontecer a partir de março, com o aquecimento da demanda”, projeta.
Segundo o levantamento do Cepea, no balanço de 2011, o preço médio do leite ao produtor (em termos reais) teve aumento de cerca de 10% sobre a média nacional de 2010. No mesmo comparativo, o volume de importações aumentou 72% e as exportações recuaram 34%.
“Não se pode falar em crise, talvez tenha havido um desestímulo no ano passado. Os preços dos insumos foram bastante elevados no primeiro semestre. Farelos de soja e milho, que chegam a representar 40% dos custos de produção, estiveram em alta e impactaram bastante a rentabilidade do produtor”, avalia Aline Ferraro, pesquisadora do Cepea.
O resultado negativo encontra reflexos nos preços. Na média do País, em janeiro foi mantida a sucessão de recuos mensais registrados desde outubro de 2011. O preço pago pelo leite aos produtores em dezembro recuou 1,7% em relação ao mês anterior. Segundo o Cepea, a desvalorização ocorreu devido ao período de safra no Sudeste e Centro-Oeste do Brasil.
No Rio Grande do Sul, mesmo com os efeitos da estiagem, o panorama foi diferente. O Estado registrou leve alta de 0,6%, com o litro negociado a R$ 0,8083, no período. A pesquisa ressalta que houve valorização em algumas localidades e recuo no Nordeste e na Região Metropolitana de Porto Alegre.
Veículo: Jornal do Comércio - RS