A falta de chuva nos últimos meses afetou muito a vida dos produtores do Rio Grande do Sul, que terão grande perda de produtividade na safra de grãos. A mesma seca, no entanto, permitirá uma das melhores safras de uva do Estado.
A safra atual está sendo comparada à de 2005, até então a melhor obtida pelos gaúchos. Naquele ano, a produção de grãos também havia sido afetada pela seca.
Mauro Zanus, chefe de pesquisa da Embrapa Uva e Vinho, diz que o volume de fruta a ser colhido não atingirá os 709 milhões de quilos do ano passado, mas a qualidade é muito superior.
As uvas precoces que já estão sendo processadas pela Embrapa mostram muito pigmento e um teor elevado de açúcar, segundo Zanus.
A colheita de uva já atinge 40% e as variedades pinot noir e chardonnay estão com qualidade excepcional, diz ele. Essas variedades normalmente são usadas para a produção de espumantes, mas a qualidade da uva está tão elevada que será possível a produção também de vinho com a variedade pinot noir nesta safra.
"Paradoxalmente, o La Niña, que foi desgraça para muitos produtores de soja e de milho no Rio Grande do Sul, foi bom para a uva", diz Zanus. Na avaliação dele, o clima seco faz com que a uva não apodreça e que não desenvolva doenças típicas de períodos de muita chuva.
Além disso, a fruta é colhida mais madura, tem mais pigmentação na casca e contém mais açúcar. O resultado é um vinho mais equilibrado.
Os cachos de uva são menores, o que diminui a produtividade, mas os produtores ganham na qualidade. A uva tem mais casca, garantindo cor e equilíbrio à bebida.
Apesar das chuvas esparsas, o cenário continua favorável para a safra, segundo Zanus. Na avaliação dele -"ainda bem preliminar"-, a safra de uva para processar recua para 640 milhões de quilos neste ano no Estado.
Veículo: Folha de S.Paulo