O preço do açúcar nunca subiu tanto quanto em 2011. A commodity atingiu o pico histórico, de 32,76 centavos de dólar a libra-peso, em 2 de fevereiro. O cacau seguiu rumo semelhante e chegou a ser cotado a US$ 3.733 a tonelada em 3 de março de 2011. Todo esse movimento entrou em espiral de queda ao longo dos últimos meses, mas já era tarde para garantir uma Páscoa mais em conta. Este ano, as parreiras estarão recheadas de ovos de chocolate até 10% mais caros do que em 2010.
Para iniciar a produção dos ovos de chocolate em agosto, a indústria encomenda as matérias-primas com pelo menos seis meses de antecedência. "O impacto das commodities provocou um aumento entre 6% e 10% nos preços dos nossos ovos de Páscoa este ano", diz o diretor geral da Arcor, Oswaldo Nardinelli. A marca tem 5% do mercado de ovos de Páscoa. Nos demais chocolates, diz ele, o aumento foi de 6% a 7%, e repassado ao varejo no início do ano. "Também pesou para a alta o dissídio da indústria, que chegou a 9,5%", diz ele.
Na Kraft, dona da marca Lacta, o aumento do preço do chocolate é de 9%. "Nos últimos dois anos, reajustamos os preços abaixo da inflação, mas neste ano foi diferente, por conta dessa alta das commodities", diz Marcelo Morishito Costa, gerente de produtos de Páscoa da Kraft. A empresa negocia as compras de açúcar e cacau a partir do seu escritório na Europa.
A Hershey diz que o aumento do preço de seus ovos de Páscoa deve girar em torno de 7%. "Procuramos repassar o mínimo de reajuste para manter o preço acessível", diz Victória Gabrielli, gerente de marketing. Os tabletes estão sendo reajustados em 5%, diz ela.
A Garoto, da Nestlé, diz que reajustou os preços dos ovos em 3%. "Estamos trabalhando de forma mais eficiente", diz André Barros, gerente de marketing da Garoto. A compra da matéria-prima é negociada pela Nestlé.
A Garoto reviu o portfólio e deixou de fabricar alguns itens mais "complicados", como ovos especiais, de casca recheada, e se concentrou em produtos de baixo preço. "Na Páscoa passada, tínhamos quatro produtos que custavam menos de R$ 10 e hoje temos dez itens nessa faixa", diz Barros. A Nestlé diz ter ajustado em apenas 4% o valor dos ovos, devido a "boas negociações com fornecedores", segundo o gerente de marketing Ricardo Bassani.
A indústria de chocolates no Brasil vendeu 390 mil toneladas em 2011, com crescimento de 11% sobre 2010. O índice, no entanto, é inferior à alta verificada em 2010, de 16%, o que demonstra a desaceleração do consumo no país.
Segundo Ubiracy Fonseca, vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim e Derivados (Abicab), apesar da retração, a expectativa é que a venda dos fabricantes continue crescendo dois dígitos este ano. "Tivemos o aumento do salário mínimo e a economia deve continuar crescendo", afirmou o executivo.
Ontem, a Abicab promoveu na capital paulista o Salão de Páscoa 2012, com participação de 12 fabricantes. As empresas projetam aumento de vendas entre 5% e 20% em volume e até 20% em valor. Na Páscoa do ano passado, foram comercializadas 18 mil toneladas de chocolate, com alta de 7% sobre a data de 2010.
Se depender do atual movimento das commodities, a indústria não terá a mesma justificativa para aumentar os preços na próxima Páscoa. Em 2012, as projeções indicam que, novamente, o mundo terá uma oferta de açúcar maior do que a demanda. Algumas consultorias preveem superávit de açúcar de mais de 8 milhões de toneladas. Crescimento da produção na Índia, Tailândia, Rússia e Brasil pressionam há alguns meses as cotações na bolsa de Nova York, que atualmente estão 28% mais baixas em relação ao recorde histórico de fevereiro de 2011.
No caso do cacau, os fundos especuladores vinham "inflando" as cotações nos últimos dois anos, apesar de safras volumosas na África e superávits globais. Mas, em 2011, parte desses mesmos fundos se retiraram do mercado e os preços internacionais voltaram a ser regidos por fundamentos de oferta e demanda. As cotações recuaram dos níveis acima de US$ 3 mil a tonelada no ano passado, para os atuais US$ 2,3 mil a tonelada.
Veículo: Valor Econômico