Com o aumento da renda dos consumidores e o País relativamente resguardado dos efeitos da crise internacional, a indústria chocolateira está otimista para esta Páscoa. Os líderes de mercado Kraft, Nestlé e Garoto projetam crescimento de 4% a 5% da produção e venda de ovos de chocolate. Na briga por maior participação, Pandurata e Arcor esperam crescimento de volume de 20% e 16%, respectivamente.
Segundo o vice-presidente do setor de Chocolates da Associação Brasileira da Indústria de Chocolates, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), Ubiracy Fonseca, o cenário econômico atual acena para uma Páscoa melhor do que a de 2011, pois há um crescimento na condição de compra do consumidor. "O chocolate é uma categoria 'aspiracional'", explica ele. "Se você pode comprar mais, compra; é diferente de produtos que têm um consumo estável, que você consome o que é necessário - ninguém consome mais detergente porque tem mais dinheiro. Mas se você tiver um pouquinho mais de dinheiro no bolso, leva um chocolate para sua família."
O presidente da entidade, Getúlio Ursulino Netto, ressalta o potencial de crescimento do mercado brasileiro. "No País como um todo, o consumo médio de chocolate per capita é de 2,4 quilos ao ano. No entanto, em São Paulo, o consumo chega a 3,8 kg por habitante", diz. De acordo com ele, regiões em ascensão econômica, como centro-oeste, norte e nordeste, devem ser em grande parte responsáveis pela alta da demanda do mercado.
Na Páscoa de 2011, foram fabricadas 18 mil toneladas de produtos de chocolate, num incremento de 7% sobre o ano anterior. Em todo o ano, a indústria produziu 390 mil toneladas (excluídos achocolatados em pó), avanço de 11% em relação a 2010. De acordo com a Abicab, para dar conta da demanda em 2012, suas associadas devem contratar 20 mil trabalhadores temporários, entre fábricas e pontos de venda.
A norte-americana Kraft, fabricante da Lacta, prevê a produção de 27 milhões de ovos de chocolates, com alta de 4% ante 2010. Líder de mercado há 15 anos, com 37,5% de participação nas vendas de Páscoa em 2011, a empresa projeta alta de 8,5% a 9% no preço final de seus produtos. "O que determinou o reajuste foi principalmente o impacto de mão de obra", diz a gerente de Marketing Mariana Perota. A companhia reforçou seu quadro de funcionários para o período com 1,2 mil trabalhadores nas fábricas e 6,8 mil promotores de vendas.
Vice-líder, com 22% das vendas de produtos de Páscoa no ano passado, a Nestlé pretende produzir 17 milhões de ovos, alta de 5% sobre o ano anterior. A companhia ampliou seu investimento neste período em 10%, reforçando sua atuação no ponto de venda. A empresa suíça contratou 6 mil trabalhadores temporários, sendo 2 mil para suas plantas. O aumento de preços ao consumidor no ano será de 3% a 4%, com peso maior das commodities, embalagens e mão de obra. "Mas é um aumento de preço inferior à inflação do período. Tentamos fazer o menor reajuste possível, aumentando nossa competitividade", diz o gerente de Marketing Ricardo Bassani.
A Garoto quer vender 20 milhões de ovos nesta Páscoa, avanço de 5% ante o ano anterior. A empresa registrou participação de mercado de 20% no período em 2011. "Mas temos uma grande presença no nordeste, Rio de Janeiro e em Minas Gerais. Nessas regiões chegamos a ser líderes", relata o gerente de Marketing André Barros. De acordo com ele, o novo salário mínimo deve ser fator determinante para vendas maiores que no ano passado.
O gerente ressalta que a marca é a mais forte entre consumidores de classe C, segmento social que mais cresce no País, daí o reajuste de preços médio de apenas 3%. "Trabalhamos com volumes maiores de ovos, ganhando em escala, desenvolvemos produtos mais baratos e não repassamos todos os custos ao consumidor", diz Barros. Foram contratados pela empresa 800 funcionários temporários de produção e 5,5 mil promotores de venda.
Comprando briga
Com previsão de investimento de R$ 100 milhões em 2012, a argentina Arcor quer crescer 16% em volume e 20% em faturamento, com a produção de 6 milhões de ovos de chocolate. Na Páscoa, a empresa tem cerca de 5% de participação de mercado no geral e 10% no segmento infantil. O reajuste de preços será de 6% a 9%.
A companhia, que possui hoje cinco fábricas no País, espera investir R$ 60 milhões em suas plantas. "Vamos dobrar nossa capacidade de produção de tabletes e balas butter toffees", conta o diretor geral Oswaldo Nardinelli, que relata que a empresa também deve investir 50% mais em marketing. Com isso, a companhia espera obter avanço de 13% em seu faturamento no País, ante R$ 1 bilhão obtido em 2011. Já a Pandurata, fabricante da Hershey's , deve produzir 2 milhões de ovos, num crescimento de 20%. "No ano, cresceremos 15% em valor e volume", projeta a gerente de Marketing Victória Gabrielli, que relata que a marca cresceu 32% em faturamento em 2011. A empresa não tem cálculo de sua participação na Páscoa, mas no mercado de chocolates em geral tem 3%, com 30% do seu volume de produção concentrado neste período.
Transformadores
Com foco na venda de chocolates e coberturas para panificação e confeitaria, a Harald não fala quanto espera crescer nesta Páscoa, mas em 2012 quer aumentar em 25% sua capacidade de produção, de 80 mil toneladas ao ano, para 100 mil toneladas. "Conforme cresce o setor de food service, a empresa tem que atender essa demanda", diz o gerente de Marketing Gerson Camargo.
Com duas plantas no País, a suíça Barry Callebaut tem capacidade de produção de 20 mil toneladas e aposta na divulgação de sua marca para aumentar vendas. Segundo o gerente de Vendas Antônio Moreira, o aumento de renda tem efeito dúbio para quem vende para transformadores. "Por um lado, há o aumento do consumo, mas, por outro, menos pessoas trabalham informalmente na produção de chocolates para vender."
Veículo: DCI