Inicialmente procurados apenas pelas consumidoras mais maduras, os calçados confortáveis vêm ganhando os pés das mulheres jovens, à medida em que os fabricantes investem em design mais atraente. "As mulheres mais jovens tinham preconceito de usar um calçado confortável, pois temiam que ele denunciasse algum problema nos pés", conta a diretora de Marketing da Usaflex, Simone Kohlrausch. "Fizemos então pesquisas para entender que a mulher quer um sapato bonito, mas que não aparente ser confortável", relata ela.
A fabricante gaúcha, que possui três plantas e emprega 2 mil funcionários, foi pioneira no País na fabricação de sapatos confortáveis em couro. Segundo Simone, a empresa mantém 40 linhas de sapatos, com apelos distintos e volumes de formas variados, de maneira a atender às particularidades das mulheres, uma vez que 65% das consumidoras apresentam peculiaridades nos pés.
Graças a esse movimento, a Usaflex faturou R$ 309 milhões em 2011, o que representa uma expansão de 29% sobre 2010, quando a receita foi de R$ 239 milhões. Já a produção aumentou 10%, atingindo 27 mil pares diários. Para 2012, a expectativa é crescer 9% em faturamento, projeção conservadora, devido ao provável impacto da crise internacional sobre a economia brasileira. Ainda assim, o ano que deverá ser de contenção no consumo é visto com otimismo por quem investe em conforto. "As mulheres pensam duas vezes antes de comprar um calçado caro que terá poucos dias de uso. O sapato confortável será mais usado, então é considerado um melhor investimento", afirma a gerente.
Para dar conta do aumento da demanda, a empresa investiu R$ 10,6 milhões em 2011 na ampliação em 5 mil metros quadrados de sua matriz, em Igrejinha (RS), devendo atingir a produção de 30 mil pares ao dia este ano. Para manter o controle da qualidade, a fabricante busca terceirizar o mínimo possível da produção. "Injetamos todos os solados, palmilhas e saltos para garantir que os materiais são virgens", conta Simone. Mas, segundo ela, com o aumento da produção, 50% da costura passou a ser feita fora.
Já a capixaba Itapuã terceiriza toda sua produção, em 11 unidades localizadas em Cachoeira do Itapemirim (ES). A empresa, que atua na fabricação e no varejo calçadista, com 120 lojas, emprega 2,8 mil pessoas e faturou R$ 500 milhões em 2011, num avanço de 25% sobre o ano anterior. A indústria é responsável por 20% desse valor e produz 300 mil pares de sandálias mensalmente, tendo obtido crescimento em vendas de 35% em 2011.
A empresa, que começou com a fabricação de sandálias masculinas populares, já tem nas sandálias femininas 25% de sua produção e deve chegar a 30% em 2012. No ano passado, a companhia passou a atuar também no mercado infantil, com ampliação da produção de uma para quatro linhas, devido à boa aceitação dos produtos. Para este ano, o segmento deve atingir produção de 500 mil pares ao ano "O aumento de renda do brasileiro, principalmente da classe C, que se identifica muito com nosso produto, é o segredo do sucesso", diz o gerente de vendas João Luiz Gimenes.
Para 2012, a empresa estima crescimento de 25% em seu faturamento, com o aumento do mix de produtos, o crescimento das linhas femininas e o investimento em máquinas mais modernas que otimizarão o processo fabril. "Poderíamos crescer bem mais se não existisse a concorrência desleal dos calçados asiáticos", afirma Gimenes. Outra dificuldade, também citada pela Usaflex e compartilhada por boa parte da indústria calçadista, é a falta de mão de obra qualificada. "Se a produção crescer muito, a mão de obra não consegue acompanhar", conta o gerente. "Este é um freio para o crescimento".
A paulista J. Gean, de Franca, produz 1,2 mil pares ao dia em quatro unidades fabris, sendo 15% de sua produção terceirizada. O gerente de Vendas Everton Lourenço não fala em valores absolutos, mas afirma que as vendas cresceram 20% em 2011 e o faturamento 15%. Os calçados, de estilo retrô, são pensados de forma a se moldar melhor nos pés das brasileiras, privilegiando conforto e flexibilidade, com palmilhas de boa densidade, que mantêm a memória dos pés. "Trabalhamos com um produto elegante, mas que mantém o conforto de um calçado baixo, mesmo com salto", afirma Lourenço.
Veículo: DCI