Enquanto as exportações do setor eletroeletrônico brasileiro para a China caíram 1% no ano passado, em comparação com o ano anterior, as importações subiram 15%, e chegaram a duplicar para produtos como celulares, cujas importações aumentaram 133% nesse período, ou quase triplicar, como no caso dos modems, cujas compras tiveram aumento de 174%, segundo dados levantados pela Associação Brasileira da Indústria Eletroeletrônica (Abinee).
Esses dados alimentam a demanda dos empresários por medidas de proteção contra a concorrência chinesa, considerada particularmente ameaçadora no caso do setor têxtil, segundo comentavam ontem autoridades brasileiras.
Levantamentos encaminhados ao governo mostram um crescimento acima da média para produtos têxteis e confecções, que tinham participação pequena na pauta de exportações da China ao Brasil, segundo comentou um diplomata ao Valor. Para o governo, esse resultado indica que está havendo um deslocamento, para o crescente mercado brasileiro, de exportações que antes eram dirigidas aos mercados desenvolvidos, dos Estados Unidos e Europa.
O temor de um "deslocamento de exportações" foi levado pelos brasileiros às autoridades chinesas, na reunião realizada ontem pela Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível (Cosban), e foi explicitado, em discurso, pelo vice-presidente, Michel Temer. Presidente da seção brasileira da Cosban, Temer queixou-se de que 80% da pauta brasileira de exportações par a China é composta de soja em grão, petróleo e minério de ferro. "A atual composição dessas exportações, além de gerar número relativamente limitado de empregos, é ainda vulnerável à flutuação de preços, de demanda e condições climáticas", criticou.
"A cooperação brasileira não é só para cinco ou dez anos", reagiu o vice-primeiro-ministro chinês Wang Qishan, que visita o Brasil, ao discursar em almoço com Temer. Os chineses, além de anunciar aumento dos investimentos no Brasil, planejam atuar mais fortemente no mercado financeiro.
Wang Qishan incluiu como um dos principais pontos da pauta de discussão dos chineses na Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível a autorização do Banco Central para que o Industrial and Comercial Bank of China (ICBC) possa operar com carteiras comerciais e de investimento no Brasil. Esse pedido foi feito em abril do ano passado, e, segundo autoridades brasileiras, deve receber resposta positiva dentro de pouco tempo.
Veículo: Valor Econômico