A cadeia do amendoim no Brasil enfrentou sérios problemas no passado. Em meio às seguidas denúncias sobre a presença de uma substância cancerígena - a aflatoxina, causada pelo fungo do gênero Aspergillus -, o consumo da oleaginosa caiu vertiginosamente, inflando os estoques do produto industrializado. Pressionados, os produtores e representantes do segmento tiveram de reagir.
Em março de 2001, a Abicab, que representa a indústria do setor, criou o programa de autofiscalização Pró-Amendoim, cujo principal objetivo era reduzir a presença das aflatoxinas. "Na época, criamos um selo para garantir que o grande problema do amendoim fosse dirimido", diz Arnaldo Micheloni Jr., vice-presidente do setor de amendoim da Abicab. Para receber o selo, as indústrias teriam de realizar testes e comprovar a ausência da maléfica substância.
A estratégia, ao que parece, funcionou. Quando o programa teve início, apenas 20% da safra estava em conformidade com o limite máximo de aflatoxinas exigido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conta Micheloni Jr. No ano passado, um monitoramento do Ministério da Agricultura mostrou que cerca de 78% das amostras de amendoim foram aprovadas. Ao todo, 57 amostras produzidas em Goiás e São Paulo - maior produtor nacional da oleaginosa -, foram testadas. Dessas, 45 ficaram dentro do índice de conformidade estabelecido - 20 ppb (partes por bilhão).
Os índices de conformidade, diz o dirigente, são ainda maiores entre as 11 empresas que atualmente participam do programa e representam 87% do consumo nacional do produto, estimado em cerca de 159 mil toneladas, segundo a Abicab. No caso dessas empresas, a taxa foi 86,3%. "Quando o amendoim está fora do padrão, a mercadoria é rejeitada", afirma Micheloni Jr.
Para fazer o programa deslanchar, cada indústria criou seu próprio laboratório de análise. "Foi através deles que conseguimos melhorar a prática de fabricação. Hoje, você traz o amendoim para dentro da sua empresa e libera mediante uma análise feita lote por lote", diz ele.
Além dos testes, a Abicab audita todas as empresas que fazem parte do Pró-Amendoim, que entrará em uma segunda fase, com o objetivo de disseminar as qualidades nutricionais do amendoim. "Precisamos tirar o estigma de que o amendoim é um alimento gordo, que faz mal e acumula gordura", explica Micheloni Jr. Com esse intuito, e apostando no aumento do consumo nacional, a Abicab tem realizado palestras com profissionais de saúde sobre as propriedades do amendoim.
No ano passado, o Brasil produziu cerca de 163 mil toneladas de amendoim, conforme a associação. Desse total, cerca de 90% foram colhidos no Estado São Paulo, onde a oleaginosa é produzida em consórcio com a cultura da cana-de-açúcar.
Veículo: Valor Econômico