Fundo de private equity pretende investir R$ 200 milhões nos próximos três anos para expandir a rede de lojas, que hoje tem 114 unidades; Ricardo Sayon, o fundador, vai para o conselho, e Hector Nuñez, ex-Walmart, assume a operação
Depois de uma longa negociação, que durou um ano e meio, o fundo de private equity americano Carlyle concluiu a compra de 85% do capital da Ri Happy, líder em venda de brinquedos no País - a empresa tem 114 lojas e fatura R$ 800 milhões por ano. O fundo não revela oficialmente o valor da operação, que é estimada pelo mercado em aproximadamente R$ 600 milhões.
Para garantir a expansão da Ri Happy, o Carlyle separou R$ 200 milhões para investir nos próximos três anos. A expansão será mais tímida inicialmente - serão 15 ou 20 novas lojas em 2012 -, e vai se acelerar a partir do ano que vem. O fundador e atual presidente da Ri Happy, Ricardo Sayon, deixa a operação e vai para o conselho de administração.
Sayon será substituído pelo executivo Hector Nuñez, que já foi presidente do Walmart no País e participou ativamente das conversas com o fundador. Um pré-contrato entre as partes foi firmado em novembro, mas o arremate do negócio só ocorreu na última quarta-feira. Além de presidir a Ri Happy, Nuñez também terá uma fatia da empresa.
A Ri Happy é a quarta aquisição do Carlyle no País - o fundo já é dono de participações majoritárias na companhia de turismo CVC, na empresa de planos de saúde Qualicorp e na Scalina (fabricante das marcas TriFil e Scala). O Carlyle tem um fundo de US$ 1 bilhão para negócios na América do Sul, mas a expectativa é que 80% do valor seja investido no Brasil. Por enquanto, o fundo só fez aquisições de companhias brasileiras.
A exemplo do que ocorreu com a Scalina, o dinheiro da compra da Ri Happy saiu 100% do fundo do Carlyle para a América do Sul. As aquisições da CVC e da Qualicorp receberam reforço de outras fontes da matriz, pois os valores envolvidos eram mais altos. Apesar de multissetoriais, todas as compras do Carlyle têm o foco no crescente mercado de consumo brasileiro.
Outra explicação pelo foco no Brasil, segundo o diretor-geral do Carlyle, Juan Carlos Felix, é a pulverização da concorrência em diversos setores. "Em outros mercados, temos muita dificuldade para fechar negócios que nos garantam participação majoritária, como ocorreu em todos os negócios que fizemos aqui", diz o executivo. Tome-se o caso do segmento de brinquedos, que faturou US$ 1,3 bilhão no País em 2011, segundo a consultoria Euromonitor. A Ri Happy concentra 20% das vendas totais. Considerado o varejo especializado, o domínio da marca chega a quase 40%, seguida pela PB Kids, com 16%.
Crescimento. E há bom espaço para crescer. O consumo de brinquedos em relação ao produto interno bruto (PIB), explica Felix, é equivalente a um terço do percebido no México. Outra prioridade dos novos donos da Ri Happy é expandir a rede nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. "São áreas muito mal servidas pelo varejo especializado", afirma o diretor do Carlyle, lembrando que 70% das lojas da marca estão hoje no Sudeste.
A disputa ferrenha por preços ainda não domina o mercado brasileiro de brinquedos. A própria história da Ri Happy mostra a importância do serviço e da orientação do cliente na hora da compra - o negócio só decolou depois que a loja abandonou o estilo "supermercado de brinquedo" para adotar uma estratégia em que os funcionários orientam os consumidores sobre os produtos nos corredores. "O foco no serviço deixa a relação entre o lojista e o fornecedor (indústria) mais positiva", diz Felix.
Uma das recentes apostas de Sayon - a abertura de lojas por meio de franquias - ainda não decolou na Ri Happy. Das 114 unidades, somente duas são franqueadas. Ainda um piloto, o sistema é uma saída clássica para empresas com dificuldades de encontrar capital para financiar a própria expansão. Com o poder de fogo do Carlyle, a tendência é que o projeto seja posto de lado.
Veículo: O Estado de S.Paulo