Os preços do açúcar vão aumentar no ano que vem, uma vez que a escassez de crédito quebra algumas usinas e reduz a produção, disse o chefe da segunda maior processadora de cana-de-açúcar do mundo. As usinas brasileiras, que estão com pouco caixa, depois de dois anos de orgia de gastos para expandir a capacidade, não vão conseguir atender a demanda, o que contribuirá para ampliar o déficit mundial do produto, disse ontem o principal executivo da Cosan S.A., Rubens Ometto. "A tendência é de alta", disse Ometto, que também controla a empresa. "A produção já está abaixo da demanda", disse ele.
A produção mais baixa que o esperado do Brasil, o maior produtor e exportador mundial de açúcar, se somará aos cortes registrados na Índia e na União Européia, segundo ele. A produção mundial de açúcar vai cair pela primeira vez desde o ano-safra de 2004/05, causando um déficit, depois de dois anos de excedentes, disse a Organização internacional do Açúcar (OIA).
O consumo mundial vai crescer 2,4%, para 165,9 milhões de toneladas, nos 12 meses até 30 de setembro de 2009, enquanto a produção vai cair 3,8%, para 162,3 milhões de toneladas, no mesmo período, disse a OIA. A desaceleração da economia mundial não reduzirá a demanda porque, ao contrário de alimentos mais caros, as pessoas não reduzem o consumo do açúcar durante as recessões, disse Maurílio Biagi Filho, o segundo maior produtor do Brasil. " Existe uma crise de produção, mas não existe uma crise de consumo", disse Biagi ontem em uma entrevista. "Os preços terão que aumentar."
Ometto disse que a Cosan conseguiu sustentar sua posição de caixa e obter financiamento. A crise do crédito poderá criar oportunidades de aquisições para a Cosan no ano que vem, com a queda nos preços das usinas, acrescentou. Ometto adquiriu 14 usinas nos últimos dez anos, mais do que quadruplicando o número de unidades, para 18.
A agência Moody’s reduziu a classificação da Cosan em setembro, devido a preocupações com o nível de endividamento da empresa e o fluxo de caixa livre negativo. A classificação foi rebaixada de Ba2 para Ba3, três níveis abaixo da primeira faixa de grau de investimento.
Na verdade, a desvalorização do real pode evitar a alta do açúcar no ano que vem, porque encoraja os produtores a aumentar as exportações, disse o diretor-executivo da OIA, Peter Baron. As usinas estão recebendo mais retornos das exportações denominadas em dólar, depois da desvalorização cambial, disse Baron em 28 de outubro, em São Paulo. O real caiu 32% desde 1º de agosto.
Veículo: Gazeta Mercantil