Nos EUA, batom fica mais ousado e caro

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No eterno ciclo entre olhos e lábios do mundo da beleza, é a hora e a vez do batom.

Muitas mulheres estão adotando batons de cores fortes - de vermelho vivo a coral encorpado e rosa-choque - que elas podem usar durante o dia e à noite, com todas as peças em seus guarda-roupas. As fabricantes de maquiagem, naturalmente, estão aproveitando a nova tendência, lançando batons com cores mais ousadas, acompanhados de preços mais salgados.

A Tom Ford Beauty, a linha de maquiagem de luxo da Estée Lauder que leva o nome do badalado designer, este ano oferece um batom de US$ 48, comparado com o preço de US$ 45 de 2010 e superando de longe o preço máximo de US$ 32 para batons que havia sido estabelecido por marcas de luxo como Chanel e Yves Saint Laurent.

O visual, muitas vezes chamado de "lábio ousado" ("the bold lip"), faz do batom o ponto focal, mesmo com roupas informais. A J. Crew, varejista americana conhecida por suas roupas casuais de qualidade, foi uma das primeiras a exibir o visual, enchendo seu catálogo de vendas por correio com modelos que usam saia lápis e jeans justos desbotados com batons de um vermelho alaranjado brilhante difícil de passar despercebido. "Há algo incrivelmente moderno numa pele sem muita maquiagem, cabelo preso e um lábio com cor forte", diz James Boehmer, diretor global de arte da Nars Cosmetics.

Kelli Ward, uma dona de casa americana, recentemente foi a uma festa de aniversário de criança um sábado à tarde vestindo jeans justo, blazer e um batom vermelho brilhante. Ward, de 30 anos, diz que costumava preferir brilho labial de cores suaves, mas no mês passado começou a experimentar com o batons sem brilho e de cor forte. "Você pode usá-los em qualquer lugar", diz Ward. "É como uma espécie de acessório."

A linha de cosméticos da guru americana de maquiagem Bobbi Brown foi uma das pioneiras do visual "nu" (ou "nude"), onde a maquiagem é aplicada sutilmente para ressaltar traços do rosto. Recentemente, a marca lançou uma coleção de maquiagem chamada Neons and Nudes. O batom Atomic Orange (Laranja Atômico, de US$ 23) esgotou rapidamente. Mesmo Brown teve problemas para encontrar o tom para a namorada de seu filho. "Foi um sucesso muito grande e uma enorme surpresa para mim", diz ela.

Durante décadas, o batom costumava ser o produto típico de compras espontâneas. Leonard Lauder cunhou a noção do Índice do Batom há dez anos, para explicar por que as vendas de batom sobem quando a economia vai mal. Mas essa teoria não funcionou completamente na recente recessão nos EUA. Agora, são os esmaltes que continuam a ser vendidos a preços baixos e têm uma gama maior de cores, que preenchem esse papel de ostentação frugal.

Mais americanas estão pagando mais de US$ 30 por um batom, diz Maria Nanfelt, analista de bens de consumo da IBISWorld. Elas podem ser menos sensíveis aos preços do batom porque costumam comprar só a cada três a seis meses, diz Alicia Sontag, diretora de marketing global da Bobbi Brown Cosmetics. A marca aumentou o preço para seus batons de US$ 22 em julho passado para US$ 23 agora. As vendas, tanto em unidades como em faturamento, continuam "muito saudáveis", diz Sontag.

Os ciclos de tendências de maquiagem sempre oscilaram entre os lábios e os olhos. Um declínio nas vendas de batom entre 2007 e 2009 coincidiu com a ascensão das sombras escuras, diz Martine Williamson, diretora de marketing global da Revlon. Logo, as sombras escuras deram lugar para cílios mais volumosos, que agora estão perdendo força, abrindo caminho para o batom. Em 2011, as vendas de batons foram de cerca de US$ 290 milhões, um salto de mais de 13% em relação a 2010, segundo a firma de pesquisa de mercado NPD Group. As vendas de brilhos labiais caíram 1% nesse período, para cerca de US$ 182 milhões.

Batons de cores fortes caminham lado a lado com a ênfase na ousadia das cores que a indústria da moda está adotando nesta temporada. Designers famosos, de Jason Wu a Nanette Lepore, exibiram modelos com lábios neon em seus desfiles de primavera. Calças vermelho-cereja e azul-cobalto agora são populares em redes varejistas como Gap e Ann Taylor.

Joanna Hillman, editora sênior da "Harpers Bazaar", raramente usava batom até ter descoberto sua cor ideal: um vermelho alaranjado brilhante chamado Lady Danger, da MAC. Quando usou-o para seu casamento no fim de 2011, sua mãe tinha lencinhos prontos para limpar os lábios do noivo depois do beijo. Hillman, que agora usa o batom todos os dias, compra vários de uma vez, mantendo um em casa, um no trabalho e um na bolsa.

O visual requer uma certa coragem para quem o adota. "Sempre preferi brilho sem cor", diz Jenny Rauch, de 24 anos. Rauch, que trabalha em vendas de anúncios de TV, tentou amenizar a transição, usando brilhos com cor. Mas acabou se entregando ao vermelho vivo com um batom da CoverGirl.

Depois de ganhar elogios de algumas mulheres desconhecidas na rua, Rauch superou o constrangimento. Agora, ela diz que é conhecida entre seus colegas de trabalho por seu batom vermelho. Mas ela não o usa todos os dias.

Há passos que as mulheres podem dar para fazer com que um batom de cor forte funcione, especialmente se elas passaram anos usando tons mais suaves, diz Sarah Lucero, um maquiadora da linha de cosméticos Stila, que usou lábios cor de vinho durante a última Fashion Week em Nova York. Mantenha o resto do rosto o mais simples possível - sobrancelhas delicadas, um mínimo de blush - e evite delineadores de lábios com cor, se possível, sugere Lucero. Para aquelas que precisam, ela sugere a adição de delineador apenas no final, para reduzir as imperfeições.

"Elas não devem parecer como se tivessem roubado o batom vermelho da avó", diz Lucero.


Brasileiras compram tons rosados


Dentro de todo o universo da maquiagem, os itens para enfeitar os lábios são os mais vendidos no Brasil, seguidos pelos produtos para olhos. De acordo com dados da Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), a maquiagem para boca representou 36,4% da receita da categoria em 2010.

De 2004 até 2010, a venda de maquiagem para boca mais que dobrou. Em 2010, cresceu 9,4% e movimentou R$ 604,4 milhões. E, de cada dez itens comprados, seis eram batons e três eram brilhos labiais (gloss). O restante era de lápis labial, entre outros.

O batom "cor de boca" e os tons de rosa são os campeões de venda, de acordo com as empresas de cosméticos consultadas pelo Valor. De um ano para cá, a brasileira está usando mais o rosa, diz Juliana Barros, gerente sênior da categoria de maquiagem da Avon. "O rosa era mais usado na região Sul, por causa do tom de pele claro". Agora as morenas também estão aderindo à cor, desde o rosa claro até o "pink".

O "cor de boca rosada" está entre os mais vendidos, segundo Marcos Costa, maquiador da Natura.

Mas o vermelho tem seu lugar. "É um clássico e nunca sai de moda", diz Isabella Wanderley, diretora de marketing de produtos de O Boticário, cujas vendas de batom cresceram 21% em 2011. Para Costa, o público fiel é composto tanto por mulheres clássicas como as modernas. A cor é usada predominantemente no Norte e Nordeste, diz Juliana.

De acordo com Costa, a brasileira está inovando cada vez mais nas cores. "Quem gosta de batom, tem uns cinco na bolsa". Mas ainda há muitas mulheres que usam cores cítricas ou outros tons fortes nas unhas e resistem ao batom mais chamativo. Hoje elas também buscam um produto que, além de embelezar, hidrata e protege, uma tendência da maquiagem em geral. As empresas têm investido em tecnologia para a criação de fórmulas com filtro solar, hidratante e até produtos que estimulam a renovação celular e melhoram a elasticidade dos lábios.


Veículo: Valor Econômico


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