Aumento do preço da borracha, avanço nas despesas operacionais e falhas na implantação de novos processos de abastecimento comprometeram o balanço da Alpargatas. A fabricante de calçados registrou queda 15,2%, para R$ 58,8 milhões, no lucro líquido do quarto trimestre em relação ao mesmo período do ano anterior.
"Um ano heróico", observou o presidente da companhia, Márcio Utsch, sobre 2011. Para o executivo, apesar dos desafios na implementação de projetos para acelerar a internacionalização da empresa, o mercado reconhece que a Alpargatas está no caminho certo. E isso vem se refletindo no preço das ações, que subiram 52,2% no acumulado de 12 meses, enquanto o Ibovespa avançou 2,55%.
Parte do que resultou na queda da margem operacional, principalmente nos últimos três meses, pode já ter ficado para trás. A instabilidade técnica na implantação de novos sistemas na cadeia de atendimento da demanda- que resultou na queda de 2,1% no volume de vendas no quarto trimestre - já está sendo solucionada, disse Utsch.
"Estamos na posição de estudar aquisições no setor", diz o presidente da empresa, com caixa de R$ 671 milhões
Além disso, cerca de 70% dos gastos com projetos de inovação em logística e tecnologia da informação - chamados de "estruturantes" pela empresa - também devem sair do balanço este ano. No quarto trimestre, a linha das despesas apresentou um avanço de quase 19%, para R$ 241 milhões.
Fora do mapa de controle da Alpargatas, permanece apenas a volatilidade da sua principal matéria-prima, a borracha. A commodity da cadeia do petróleo foi a principal responsável pelo aumento de 15,7% dos custos da empresa no quarto trimestre. "Houve um pico de alta de 50% entre outubro e dezembro", disse Utsch.
No ano, a companhia ampliou a receita líquida em 15,4%, para R$ 2,6 bilhões. Houve aumento de 2,3% no volume de pares comercializados. O presidente da Alpargatas destaca, no período, a redução do ciclo de conversão de caixa da empresa em 14 dias, para 52 dias. "Definimos novos prazos de pagamento de acordo com o cliente", explicou o diretor financeiro e de relação com investidores, José Roberto Lettiere.
Com isso, a Alpargatas atingiu uma geração de caixa operacional de R$ 281,4 milhões em 2011, período em que a empresa registrou, na prática, uma estabilidade tanto no lucro líquido, de R$ 307 milhões, quanto no Ebtida (antes de juros, impostos, amortização e depreciação), de R$ 404,5 milhões.
Com saldo de caixa de R$ 671 milhões ao fim de dezembro - acima dos R$ 654 milhões registrados um ano antes -, a companhia entrou em 2012 com boas perspectivas para dar seguimento aos planos de expansão orgânica e inorgânica. "Estamos na posição de estudar aquisições no setor", disse o Utsch.
O endividamento financeiro consolidado no ano passado foi de R$ 235,9 milhões, dos quais com R$ 180 milhões com vencimento em até 12 meses.
Uma fatia dos recursos disponíveis em caixa está comprometida com a construção de uma fábrica em Montes Claros (MG), que deve ficar pronta até dezembro, totalizando um investimento de cerca de R$ 200 milhões. "A unidade nos trará uma expansão de capacidade produtiva de 100 milhões de pares ao ano", explicou Utsch.
Na sexta-feira, a empresa anunciou uma oferta pública de aquisição (OPA) para fechamento de capital da sua subsidiária na Argentina, da qual tem uma fatia de 91,5%.
Veículo: Valor Econômico