Crescendo 20% ao ano no Brasil, a fabricante centenária de requeijão quer agora investir nas pizzarias de Nova York
Era noite, depois do trabalho, em 1973. Armando Alba, então com 22 anos, chegou faminto em casa e abriu a geladeira. Não achou nada além de discos de massa de pizza e o requeijão da fábrica em que trabalhava como vendedor, a Catupiry. Sem alternativa, ligou o forno e assou a pizza com Catupiry. "Ficou uma delícia. Tanto que no dia seguinte quis mostrar a invenção para todos os donos de pizzaria", lembra ele, hoje com 61 anos. A despretensiosa ideia de Armando se tornou, em pouco tempo, sucesso nas pizzarias e mudou a rota de empresa que, agora, aos 101 anos, quer exportar a receita.
"Mandamos pouco menos de 1% de nossa produção para o Japão e Estados Unidos, mas é uma exportação destinada a migrantes brasileiros que moram nesses países", diz Alexandre Delmanto, principal executivo da Catupiry. "A ideia agora em Nova York é fazer o que o Armando fez com as pizzarias daqui", afirma ele, que para isso participou, na semana passada, da International Pizza Expo, maior feira do setor, em Las Vegas (EUA).
Em Nova York, calcula-se haver cerca de 1,5 mil pizzarias. Mas, segundo ele, o consumo lá é maior que o da cidade de São Paulo, onde se estima existir 6 mil pizzarias. "Há muitos brasileiros abrindo pizzarias lá e queremos fornecer para eles", diz o executivo da empresa familiar.
No Brasil, a Catupiry tem quatro fábricas e divide seu faturamento entre pizzarias (ou clientes do canal food service) e o consumidor final. Em 2011, a empresa vendeu R$ 200 milhões, sendo que cada segmento respondeu por metade da receita.
"Estamos crescendo a uma média de 20% ou 22% ao ano desde 2009", diz Delmanto. Essa evolução, segundo ele, acontece graças ao crescimento do consumo do brasileiro das classe C e D.
Segundo o executivo, foi por isso que a Catupiry, no ano passado, espremeu sua margem em 4 pontos porcentuais para não repassar o aumento do leite (cerca de 20% em 12 meses) para o produto. "Pagamos caro, mas o crescimento do volume compensou. Vimos que tínhamos um potencial de crescimento muito maior que o do custo do leite e apostamos", afirma.
É com estratégias simples, como a de apertar o cinto para segurar preço, que a Catupiry vem se mantendo no mercado e crescendo ano a ano. Há alguns anos, tentou diversificar, vendendo pratos congelados que levavam Catupiry. Mas como a produção era terceirizada, os custos eram altos e a margem baixa demais.
A ideia agora é chegar ao final de 2012 com R$ 250 milhões em faturamento. As vendas para o Estados Unidos devem contribuir, mas a principal alavanca continua sendo o mercado interno de requeijão e itens derivados (como a linha saborizada).
"Reformamos todas as embalagens, mantendo a tradição, mas deixando os produtos mais modernos. Só isso nos deu um ganho de dois a três pontos porcentuais de participação no mercado", diz Delmanto.
O Catupiry, embora não seja um requeijão propriamente dito, é classificado nessa categoria, onde tem 10% de participação em volume e 16% em valor.
Outra boa tacada foi a parceria, que deve se repetir, com o McDonald's, que lançou no ano passado por tempo limitado um sanduíche de frango com Catupiry. "Vendemos três vezes mais que o previsto", diz Delmanto.
É esse filão, segundo o especialista em bens de consumo Eugenio Foganholo, que a Catupiry deveria explorar com mais afinco. "A marca é muito forte e a aceitação do produto é enorme. Há muito espaço para crescer internamente ainda", diz.
Veículo: O Estado de S.Paulo