A preocupação com uma alimentação mais saudável está cada vez mais presente na mesa dos brasileiros, uma tendência que deverá ganhar mais espaço nos próximos anos. Empresários de vários setores estão de olho nesse segmento, que cresce a taxas elevadas. Em 2011, estima-se que o faturamento dos produtores de alimentos orgânicos chegou a R$ 700 milhões, elevação de 40% em relação a 2010. O aumento da renda, desemprego em níveis históricos baixos e a maior conscientização em relação à comida devem continuar aquecendo negócios no setor em 2012.

Valorizar pequenos produtores está na linha de frente da proposta de criação da linha de produtos Retrato do Gosto, associação entre o chef Alex Atala e a MIE Brasil, empresa de desenvolvimento de marcas de alimentos orientadas a um consumo mais consciente. O primeiro produto lançado pela marca foi o mini arroz, uma variedade inédita produzida por um agricultor do Vale do Paraíba, que deve chegar às gôndolas até o início de abril, que exigiu recursos de cerca de R$ 1 milhão. "A cada três meses queremos lançar um novo produto da marca, pretendemos encerrar o ano com quatro produtos no portfólio", diz Gustavo Succi, um dos sócios da MIE Brasil. Em três anos, a intenção é ter 30 produtos.

O alvo das vendas serão supermercados, empórios e restaurantes. A prioridade será o mercado interno, com destaque para lojas das cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Porto Alegre, mas os empresários já miram o exterior, que poderá representar até 20% da receita. "No segundo semestre, iremos trabalhar com distribuidores da Itália, Inglaterra, Espanha e França para sondarmos a demanda", conta Succi. A relação da marca com os pequenos produtores é um diferencial na estratégia de negócios. Além da remuneração calculada de forma justa, o produtor recebe apoio financeiro para uso em assistência técnica na lavoura ou projetos sociais.

Os hotéis também têm dado atenção ao assunto. Cerca de 70% do que chega à mesa de quem vai comer no restaurante do Hotel Emiliano, em São Paulo, é orgânico. Alcançar esse resultado levou tempo. Em 2008, José Barattino, chef de cozinha do hotel resolveu pegar seu carro e bater à porta de pequenos produtores rurais que estivessem a um raio de 200 quilômetros da capital paulista. Nascido e criado na cidade, ele achava injusto que, durante sua longa carreira, iniciada no fim da década de 1990, ele tivesse preparado centenas de pratos de cordeiro, mas nunca tinha visto um de perto. Nessas visitas, percebeu que havia vários produtores que poderiam oferecer legumes, verduras e frutas frescas e orgânicas para o restaurante. Há três anos, o hotel montou uma parceria com a Família Orgânica, que reúne pequenos produtores da região de Campinas. O Emiliano buscou criar feiras em que coloca lado a lado os seus clientes e os seus fornecedores. No início de março, foi realizada a segunda "Market Day", que reuniu 2,5 mil pessoas.

Aberto em outubro de 2010, na zona oeste em São Paulo, o Quintal dos Orgânicos é um supermercado dedicado à alimentação saudável, com mil itens orgânicos, sendo que 90% dos produtos são de origem nacional, e o restante importado. Em janeiro e fevereiro, o supermercado registrou 25% de alta na receita na comparação anual. "Muita gente está vindo pela primeira vez", diz Nardi Davidsohn, administrador do supermercado. Em fevereiro, foi lançado o site de compras pelo qual o cliente pode fazer seus pedidos sem sair de casa, em qualquer parte do país. O comércio eletrônico representa 5% das vendas da empresa, mas a intenção é de que ele chegue a 40%.

O sucesso da primeira loja está fazendo com que os dois sócios analisem uma eventual expansão. O foco continuaria sendo a cidade de São Paulo. "No segundo semestre, será discutido isso, mas ainda não se sabe se será uma loja ou mais. Há espaço para mais lojas com esse perfil voltado para orgânicos, porque o consumidor está cada vez mais preocupado com uma alimentação mais saudável."

A papinha das crianças ou dos idosos também está sendo repaginada. A Blessing Orgânicos está lançando um purê de maçã orgânico e sem adição de açúcar. "Este produto é inovador porque pode ser usado como papinha de bebê, como alimento para idosos com dificuldade de deglutição, como opção para pessoas com restrição ao açúcar e ainda pode ser carregado na bolsa para ser consumido como lanche da tarde", diz José Estefno Bassit, diretor da empresa.



Veículo: Valor Econômico