Falta produto japonês no varejo brasileiro

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Em 11 de março de 2011 o Japão viveu uma tragédia. O terremoto, seguido de tsunami e de um acidente nuclear, devastou o nordeste do país. Passado mais de um ano, as exportações não estão normalizadas. Os restaurantes de comida japonesa no Brasil ainda têm dificuldades em encontrar alguns tipos de peixes, algas e saquês.

No bairro do Itaim, na zona sul de São Paulo, o restaurante Shigueru substituiu ingredientes japoneses do cardápio por similares dos Estados Unidos, Coreia do Sul ou China. Um caso é o de algas marinhas: a empresa que as produz ainda é a mesma, mas desde o ano passado, o produto vem de criações dos Estados Unidos, não do Japão.

O restaurante trocou o wasabi japonês, um dos principais temperos dessa culinária, pelo americano. "Há estabelecimentos que optam pelo wasabi coreano, é uma alternativa", diz Roberto Hiromi, sócio do Shigueru. No quesito peixes, o hamachi, considerado de carne nobre, simplesmente saiu do cardápio, assim como o saquê japonês Hakushika - a opção foi oferecer o Ozeki, engarrafado na Califórnia, e rótulos nacionais.

Outra solução foi criar um shoyo "da casa", que contém menos molho japonês e mais nacional. "As importadoras racionaram os produtos, para atender todos os restaurantes", diz Hiromi.

Os comerciantes da Liberdade, bairro no centro de São Paulo que abriga parte da comunidade japonesa no país, também sentem a falta de produtos. Maurício Kamashiro, gerente do Espaço Kazu, conta que a pasta de soja fermentada, usada para fazer sopa, temperar peixe e salada, foi trocada por uma nacional, assim como um caldo que serve de base a outras receitas.

O macarrão udon, grosso e feito no Japão, sumiu das prateleiras. A solução foi comprar um coreano. Já o macarrão lamen, mais fino, agora é feito na cozinha do Espaço Kazu, seguindo receitas tradicionais na região da Liberdade. "Tivemos que procurar fornecedor de farinha, comprar máquina e treinar pessoal para aprender a fazer o prato", diz Kamashiro.
 

A rede Max Sushi, com oito unidades no Sudeste e no Centro-Oeste, trocou a pimenta shirachi por uma coreana. "Mas não é a mesma coisa. Usávamos em temperos e patês, e nos adaptamos. Testamos uma chinesa e outra coreana, e gostamos bastante da coreana", diz Thiago Lima, um dos sócios.

Após o terremoto, o governo brasileiro impôs restrições à importação de alimentos e bebidas do Japão - por receio de contaminação radioativa. O número de fiscalizações aumentou consideravelmente, dizem empresários ouvidos pelo Valor, e isso provocou lentidão na liberação de cargas.

William Ishiy, diretor da importadora Tradbras, diz que trouxe dois contêineres de alimentos depois do tsunami e a carga ficou parada no porto durante meses. Sua empresa parou de importar produtos do Japão. "Só liberaram os contêineres no começo deste ano, foram meses atrás da Anvisa. Quando falaram, que iam liberar, ainda demorou dois meses", diz. Ele admite que alguns produtos não tinham documento atestando ausência de radioatividade. "O problema é que não liberaram os que estavam em ordem."

O escritório brasileiro do Jetro, órgão oficial que promove o comércio exterior do Japão, informa que, com os novos procedimentos, a liberação de carga por parte da Anvisa tem durado dois meses, em média. "Os restaurantes continuam comprando produtos japoneses, mas em menor quantidade, pois com a demora na liberação dos produtos na alfândega, os períodos de validade das mercadorias passaram a ser muito curtos", disse Shigetoshi Hyodo, diretor do Departamento de Comércio Exterior.

Segundo o executivo, alguns países, como Nova Zelândia e Canadá, também exigiram uma declaração após a tragédia, mas atualmente o documento não é mais necessário. "Passado um ano dos desastres ocorridos no Japão, os níveis de radiação já baixaram voltando praticamente à sua normalidade", diz Hyodo. Ele acrescenta que a Embaixada do Japão no Brasil deve entrar em contato com o governo brasileiro para colocar um fim a essa exigência. O Valor tentou contato com a embaixada, mas não obteve resposta.

Um empresário que assessora operações de importação, e prefere não ter seu nome divulgado, diz que o número de funcionários da Anvisa é insuficiente para atender a demanda e que o acesso aos fiscais no Porto de Santos é muito limitado. "O porto está abarrotado de contêineres para serem fiscalizados. Cremes, remédios, bicicleta ergométrica: tudo tem que passar pelo aval da Anvisa. Não é que a Anvisa trabalha mal, é que simplesmente não há gente suficiente para trabalhar", diz ele.

A Anvisa não soube informar quantos contêiners provenientes do Japão foram fiscalizados desde março de 2011, quantos ainda esperam por fiscalização e nem o tamanho do efetivo que trabalha no Porto de Santos, o maior do país.

Sobre a demora na fiscalização, a Anvisa alega que a informação "não procede", e que "o prazo para liberação de cargas gira em torno de três a quatro dias, para qualquer tipo de importação, desde que a empresa cumpra os requisitos formais para liberação da carga".


Veículo: Valor Econômico


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