'Headhunters' restringem modo de atuação para atrair a clientela
Para se diferenciar das companhias tradicionais do ramo, novas empresas de "headhunting" (que praticam "caça" a profissionais e talentos do mercado) estão oferecendo a garantia de não fazer convites a funcionários de seus clientes.
Esse "acordo de cavalheiros" visa proteger a empresa que contrata um "headhunter", já que, ao fazê-lo, corre o risco de expor seus próprios talentos.
Já é praxe dos recrutadores, porém, não abordar empregados de seus clientes. No jargão de RH, essa prática é conhecida como "off-limits" (expressão em inglês para fora dos limites).
Mas há "headhunters" que só se consideram obrigados a não assediar. Se forem procurados, o caminho estará livre para negociações.
No caso do gerente de planejamento e gestão André Pires da Cruz, 36, não houve invasão de nenhuma área cinzenta. Ele recebeu uma ligação de um "headhunter" que lhe sugeriu uma vaga em outra empresa. Mas, quando Cruz contou onde estava trabalhando, no Itaú BBA, a conversa acabou, pois o banco era cliente do recrutador.
TEMPO DE CARÊNCIA
As empresas que optam por "headhunters" que prometem blindagem total encontram contrapartida.
O tempo de carência para que o recrutador não aborde os funcionários de seu cliente após a conclusão do contrato costuma ser de dois a três anos. Essa carência não se aplica se ele for procurado pelo profissional.
No caso dos recrutadores que trabalham com o modelo de blindagem total, o tempo de carência pode ser menor. Dessa forma, eles têm uma possibilidade maior de ser chamados pelo mesmo cliente novamente.
POPULAÇÃO EXPOSTA
A empresa de "headhunting" Havik oferece esse tipo de blindagem por até seis meses depois do fim do contrato, diz Ricardo Barcelos, um dos sócios. Nesse período, o recrutador não pode nem abordar nem ser abordado.
Mas os "headhunters" podem exigir que os clientes fechem um número mínimo de contratos por um período -50 vagas por ano, por exemplo. Caso contrário, a "população" da empresa fica exposta.
Foi o que aconteceu com Marcelo Ribeiro, diretor de RH da seguradora Zurich. Um "headhunter" com quem ele havia trabalhado levou um de seus diretores para uma concorrente. Ribeiro foi atrás do consultor para tirar satisfações. "A justificativa foi que eu não tinha volume mínimo e, por isso, não recebi blindagem", relata. (FG)
Associação tem regra sobre relacionamento
Uma associação internacional de "headhunters", a Aesc (sigla em inglês para Associação de Consultores de Recrutamento de Executivos) atua no Brasil desde novembro do ano passado e estabelece normas específicas para o assédio de profissionais já empregados.
Há uma regra no código de ética em relação a conflitos de interesses: se um novo cliente é concorrente de um antigo, é preciso informar isso a ambas as empresas que estão na carteira da consultoria.
Na prática, um recrutador deve escolher quais companhias serão parceiras e de quais vão tirar profissionais. Há uma expressão em inglês para descrever os locais em que suas presas poderão estar: "hunting ground" (área de caça), diz Luiz Carlos de Queiroz Cabrera, presidente do comitê brasileiro da Aesc.
As determinações da associação são seguidas mesmo por recrutadores cujas empresas não são filiadas.
Marcelo Braga, sócio da Search, consultoria em RH, diz que esses conflitos de interesse não se relacionam apenas à busca de empregados do próprio cliente mas também à revelação de dados, como os planos de expansão ou a estrutura organizacional.
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Para o consultor, as empresas de recrutamento devem atuar da mesma maneira que as grandes agências de publicidade, que evitam atender dois clientes concorrentes.
Veículo: Folha de S.Paulo