Sem perceber, talvez você esteja vestindo cada vez mais roupas feitas por mãos chinesas ou indianas. No ano passado, uma em cada 10 peças nas lojas tinham sido fabricadas fora do país. Nos últimos cinco anos, quase triplicou a presença das peças de vestuário e confecções importadas no comércio. Nos dois primeiros meses de 2012, a escalada seguiu mais forte, com um aumento na importação que supera os 72%.
Dados do Instituto de Estudos e Marketing Empresarial (Iemi) mostram que as peças de vestuário importadas representaram 9,3% do consumo do brasileiro em 2011. A projeção para este ano é que este número chegue a 12,5%, com a importação de 909 milhões de peças. Sem contar as malas cheias dos turistas brasileiros, que acrescentariam mais 60 mil toneladas de roupas compradas fora do país, segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
Neste cenário, Santa Catarina se destaca como porta de entrada dos produtos. Grandes redes varejistas, indústrias e lojas de diferentes portes importaram pelo Estado, no primeiro bimestre deste ano, quase 68 mil toneladas de produtos têxteis e de vestuário. São Paulo, segundo colocado, importou 35,9 mil toneladas. Para o diretor da consultoria Iemi, Marcelo Prado, o aumento dos importados nos últimos anos está fazendo com que o crescimento do consumo não seja mais repassado diretamente para a produção. Ou seja, as principais beneficiadas pelo aumento do poder de renda do brasileiro nos últimos anos estão sendo as indústrias de fora do país, principalmente as asiáticas.
A guerra fiscal travada por pelo menos 13 estados na última década, cada um oferecendo incentivos fiscais para a abertura de novos empreendimentos e para a importação de produtos, teria agravado ainda mais este cenário.
Para Celso Grisi, especialista em Comércio Exterior da Universidade de São Paulo, a presença de varejistas globais no país reforça a lógica de comprar o mais barato possível, em grande quantidade, e vender com o melhor lucro.
– Esta é uma condição que a China oferece. Mas a culpa não é das grandes varejistas, que estão atrás da racionalidade econômica. A culpa é nossa de não conseguirmos produzir mais barato – opina Grisi.
REALIDADES DESIGUAIS
- O custo para produzir artigos têxteis e de vestuário no Brasil supera muito o de países que estão dominando este cenário internacionalmente, como China e Índia. O especialista em comércio exterior da USP, Celso Grisi, explica que os salários pagos nestes países são considerados miseráveis. Cada trabalhador ganha cerca de US$ 100 por mês para uma carga de até 14 horas de trabalho por dia
- Em SC, um funcionário da indústria têxtil recebe, segundo o piso estadual, R$ 725 (cerca de US$ 400). Além disso, o encargo da folha trabalhista no Brasil chega a 100%, dobrando o custo do trabalhador para a empresa, enquanto na China ele gira em torno de 30%
- Estas e outras diferenças de custo (com logística e tributos, por exemplo) e com as moedas (real valorizado, moeda chinesa desvalorizada) fazem com que o produto chinês chegue até 50% mais barato no Brasil, segundo Fernando Pimentel, diretor superintendente da Abit
Veículo: Jornal de Santa Catarina