Você já tomou um cafezinho hoje? Muito provavelmente, sim. Esse, por mais incrível que pareça, é o grande problema da indústria de café. A bebida já é tomada por 97% brasileiros, segundo pesquisa da TNS Interscience, o que indica que não há muito espaço para expandir o público consumidor. Ed Viggiani/Valor
Na quinta-feira, em meio à crise econômica mundial que já levou diversos países à recessão, cerca de 550 executivos vestidos de bermudas e tênis estavam reunidos em Porto de Galinhas, no litoral pernambucano, para tentar encontrar novas formas de aumentar o consumo do produto do Brasil.
Por uma hora, os fabricantes de café das principais indústrias do país sentaram-se lado a lado, como se nem concorrentes fossem, para pensar em novas bebidas e alimentos feitos à base de café. De lá, saíram sugestões como café com leite gelado vendido em garrafinhas de iogurte, café terapêutico, energéticos naturais, enlatados revigorantes para depois da balada, café com soja ou refrigerante e até controversos produtos voltados para as crianças. E por que não cerveja com café? A combinação já foi lançada pela cervejaria Colorado, de Ribeirão Preto (SP), com grãos da região de Alta Mogiana, no interior paulista.
Dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic) apontam que neste ano o consumo interno deve ser de 18 milhões de sacas, um crescimento de cerca de 4% em relação a 2007. Porém, algumas pesquisas já apontam que a compra residencial está estável. No Brasil, maior produtor e exportador mundial de café, cada pessoa consome 4,5 quilos por ano, menos da metade da média européia, segundo informações da Abic. "Esse é um mercado que precisa de inovação para conseguir crescer", afirmou Ivani Rossi, da consultoria TNS Interscience.
Em busca do aumento do consumo per capita, a Café Iguaçu lançará em dezembro um pó para milk-shake de café. "É o primeiro produto de uma linha completa para o verão que começaremos vender, de bebidas geladas", disse Edivaldo Barrancas, diretor comercial da Iguaçu. Para o inverno, a companhia fabricou cafés em pó com sabores. Segundo Barrancas, a venda de cafés especiais tem crescido cerca de 20% ao ano, já representando 10% do faturamento do grupo.
A alemã Melitta começou a vender nos Estados do Sul do país cafés valorizando três diferentes regiões produtoras: Mogiana paulista, Sul de Minas e Cerrado mineiro. "É uma forma de agradar os diferentes paladares e mostrar novas formas de tomar cafés. Certamente temos de aumentar o portfólio", afirmou Bernardo Wolfson, presidente da Melitta. Em breve, os produtos serão distribuídos em todo o Brasil, país que possui o maior número de produtos com a marca no mundo inteiro.
Para o público infantil, ainda não há produtos. Os industriais, porém, querem introduzir a bebida na merenda escolar. "Ele dá o ânimo necessário aos estudos", afirmou Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Abic, que vai tentar convencer pais e médicos a aceitar o argumento. "Ganhar a criança significa formar um consumidor pela vida toda."
É entre a população de até 15 anos que está o menor consumo de café no Brasil, que tem como principal concorrente os achocolatados, segundo dados da TNS Interscience. Para 58% das pessoas entrevistadas pelo instituto, a principal razão para não se beber café é o fato de ele fazer mal à saúde, ponto contestado pelos fabricantes. Apesar disso, 60% dos ouvidos dizem que não há substitutos à bebida.
Veículo: Valor Econômico