O fim do ano pode marcar uma queda de braço entre os varejistas e as financeiras. As parcerias celebradas como solução para alavancar as vendas no comércio apontam para uma disputa de interesses acirrada por conta da crise. Enquanto os bancos estão mais seletivos para enfrentar a turbulência global, os lojistas querem que o crédito ajude a reverter a expectativa de queda de faturamento no Natal.
Os dados de inadimplência mostram que as linhas de financiamento ao consumo das financeiras apresentam os maiores patamares. O CDC lojista tem atrasos em 13,4% da carteira, em setembro, enquanto o rotativo do cartão de crédito, cerca de 25%, de acordo com dados do Banco Central. (Segundo estatísticas da Associação Brasileira das Empresas de Cartões de Crédito e Serviços - Abecs, incluindo o parcelado lojista a inadimplência cai para cerca de 9%).
Essa condição de maior risco cria basicamente duas situações distintas. Grandes lojas que administram suas próprias financeiras estão mais restritivos na concessão de crédito, mas acreditam que força de venda de Natal é mais importante do que a parcimônia nos empréstimos. Já quem depende de um banco externo ou parceiro, pressiona por mais recursos para alavancar as vendas.
Fernando Manfio, sócio da consultoria Witrisk, especialista em avaliação de risco conta que as financeiras dentro do varejo já está restringindo entre 10% e 20% do crédito.
Se é uma instituição financeira, que tem estrutura de gestão, afirma Manfio, a restrição começa pela própria modelagem por nível de risco, diminuindo o percentual de empréstimo sem precisar mudar processo na ponta. Empresas que não têm essas ferramentas, reduzem as concessões pelo limite de recursos disponível e também passam a exigir mais documentação.
Ele afirma que os dois lados precisam ceder em algum aspecto. "A venda é importante para a empresa, mas a inadimplência pode comprometer o resultado no futuro. Para o banco, também não é interessante parar totalmente, porque essa é uma época importante", pondera.
Marcel Solimeo, superintendente Associação Comercial de São Paulo (ACSP), afirma que as grandes lojas estão procurando manter os prazos, pois isso é vital para o comércio. Mas mesmo no caso das lojas que financiam seus próprios clientes, há uma dependência do mercado financeiro.
"Mesmo no caso do varejista que banca o próprio crédito do cliente, uma parte é de recursos próprios, mas uma parte é de capital de giro ou de desconto de recebíveis, seja cartão ou cheque. De qualquer forma, precisa do crédito bancário. Mas até o fim do ano ele deve conseguir manter o crédito", avalia.
Álvaro Musa, sócio da Partner acredita que em 2009, o crédito de curto prazo deva voltar em níveis perto do normal. Já nas modalidades de mais longo prazo, a dificuldade será maior. "Linhas ligadas a varejistas, como financiamento de roupas e eletrodomésticos não têm grandes crises".
Apesar disso, ele acredita que as parcerias bancos com varejistas precisam ser rediscutidas dado o novo cenário mundial de escassez de crédito. "Os modelos de negócios vão passar por um redesenho em termos de risco e de funding", afirma. (FT)
Veículo: Valor Econômico