O presidente da Souza Cruz, Andrea Martini, disse ontem que o aumento de impostos sobre o cigarro causará impacto nas suas vendas. "Com certeza, vai ter redução no consumo", afirmou Martini, sem precisar valores.
No ano passado, a empresa, que lidera o mercado nacional de cigarros, com cerca de 60% das vendas, registrou queda de 1,4% no volume de cigarros vendidos (de 71,9 bilhões de unidades para 70,9 bilhões). Mas a receita e o lucro cresceram.
No início de abril, a Souza Cruz aumentou seus preços em 24%. Em maio, as novas alíquotas do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para o cigarro passarão a valer.
Atualmente, o imposto varia entre R$ 0,76 e R$ 1,30 por maço, dependendo do tipo de produto. Com as novas regras, o IPI será composto de R$ 0,90 por maço mais 40% do preço final. O valor fixo e a taxa subirão até janeiro de 2015, chegando a R$ 1,30 fixos mais 60% do valor de venda.
O ex-auditor da Receita Federal e coordenador do núcleo de projetos da Faculdade Getúlio Vargas (FGV), José Alberto Schontag, disse que a carga tributária mais alta sobre o cigarro vai levar uma parcela do público para o mercado negro. "Vai ter aumento de contrabando", disse.
De acordo com os cálculos de Schontag, um fumante gasta em média 5,7% do seu orçamento com o produto. Para poder comprar o maço mais barato das maiores fabricantes nacionais, Philip Morris e Souza Cruz, a renda mensal teria que ser de cerca de R$ 1.270,00. As duas marcas detém 73% do mercado, segundo informações das companhias.
Martini observou que existe a possibilidade de o preço mínimo para o maço do cigarro no mercado nacional - estabelecido pelo governo em R$ 3 - ajudar a empresa a recuperar uma fatia das vendas que foi conquistada pelos cigarros ilegais.
A nova regra determina que cigarros vendidos abaixo de R$ 3 sejam apreendidos. O fabricante poderá ter seu registro suspenso e o comerciante poderá ser impedido de vender cigarros por cinco anos.
O presidente da Souza Cruz considera que o valor mínimo é benéfico por criar um marco regulatório para o setor. Mas Martini defende que o limite deveria ser mais próximo de R$ 4. O maço da marca mais barata da empresa custa atualmente R$ 4,25.
Para o vice-presidente da Associação Brasileira da Indústria da Panificação (Abip), Joaquim Cancela, o consumidor vai passar a procurar por um produto que custe R$ 3, o que não existe. Cancela diz que o ônus de explicar a medida aos clientes cairá sobre os varejistas, com o que ele não concorda.
Schontag calcula que o mercado informal respondeu por cerca de 1,6 bilhão de cigarros em 2011, dos quais menos de 2,5% foram confiscados.
Veículo: Valor Econômico