Setor de eletrônicos é o mais afetado pela alta do dólar

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Desvalorização do real leva varejistas a repassarem custos do impacto cambial

 

Os eletroeletrônicos despontam como as maiores vítimas do dólar alto este ano. Especialistas indicam que o setor, com grande presença de importados, será um dos mais afetados pela desvalorização cambial. O dólar fechou cotado a R$ 2,46 na última sexta-feira. O aumento de custos causado pela arrancada da moeda americana leva fabricantes e varejistas a repassarem o impacto cambial aos preços ao consumidor, deixando os eletroeletrônicos muito mais caros neste Natal.

 

A rede de varejo Ponto Frio, com forte atuação no segmento de eletroeletrônicos, recebeu poucos produtos com reajuste por causa da alta do dólar, conta o diretor comercial, Marcos Vignal. De acordo com o executivo, os únicos itens que ficaram mais caros são os de informática, como notebooks e computadores de mesa (desktops).

 

Vignal estima que o reajuste ficou entre R$ 100,00 e R$ 150,00, o que não deverá impedir as vendas desses equipamentos neste Natal. “O principal argumento para os reajustes foi o dólar. Se for levado em conta o notebook, por exemplo, é só plástico e componentes importados. O grande impacto é a importação”, diz Vignal. Ele até esperava algum reajuste das fabricantes de câmeras digitais e dos televisores de plasma e LCD, o que não ocorreu. “As TVs de LCD e plasma vinham num processo de queda de preço. A gente observou que esse processo parou. Hoje o preço está estabilizado.”

 

Por causa da escassez de crédito provocada pela crise mundial, a rede varejista já havia cortado pela metade a oferta de produtos em suas lojas que podiam ser parcelados em dez vezes sem juros, por exemplo. Além disso, os juros no crediário foram reajustados, em média, em 0,5%. O Ponto Frio tem 1,4 milhão de clientes que utilizam essa forma de pagamento.

 

O consultor do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Júlio Gomes de Almeida, comenta que, de maneira geral, o setor está sendo afetado por dois fatores: restrição de ofertas de crédito e impacto cambial.

 

Porém, a influência do dólar elevado vai recair principalmente nos preços, que devem ficar bem acima dos praticados em Natais anteriores. “Tivemos um ‘barateamento’ de preços nos últimos dois anos, em relação aos importados”, lembrou o especialista, recordando que o dólar teve poucas oscilações expressivas no período, o que permitiu ao brasileiro comprar eletroeletrônicos importados, ou com peças importadas, a preços menos elevados.

 

Mas o mesmo não deve ocorrer nesse Natal. “Sem dúvida os preços dos eletroeletrônicos vão ficar mais caros. Acho que agora deve estar ocorrendo uma forte negociação entre varejistas e fornecedores, para falar sobre o nível de preços.”

 

O diretor-executivo da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, disse que o dólar médio no fim do ano pode ficar entre R$ 2,10 e R$ 2,20, mesma faixa projetada por grande parte dos analistas. Castro fez ainda um levantamento da cotação média do dólar no fim do ano, nos últimos oito anos.

 

“É claro que algumas empresas trabalharam com antecipações de encomendas, prevendo algo desse tipo”, afirmou. “Outro fator também é que, se as empresas encomendaram importados com antecedência, mas com previsão de entrega para dezembro, os tributos serão calculados com base no dólar de agora. Isso vai impactar os custos”, acrescentou.

 

Na análise do economista-chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central (BC) Carlos Thadeu de Freitas, algumas empresas já anteciparam estoque de eletroeletrônicos importados, antes de o dólar subir de forma expressiva. Mas admitiu que nem todas fizeram isso. No caso dos eletroeletrônicos, há desvantagem em relação a outros setores, já que a área não atua muito em substituição de importações. “Não há como substituir. Muitas peças e produtos não são fabricados aqui, e a única solução é importar.”

 

A Whirlpool, controladora da Brastemp e da Consul, informou que os custos de produção foram mais afetados pelo reajuste de matérias-primas do que pela escalada do dólar. Como exemplo, a empresa citou a alta de 50% no preço do aço e o reajuste de 20% nas resinas.

 

De acordo com a Whirlpool, o repasse da alta dos custos nos preços finais teve início em setembro, com média de 5%, mas alcançando até 10% em alguns tipos de produtos. A companhia estima que as vendas neste Natal deverão crescer 5% ante a mesma época do ano passado.

 

O casal Pedro Edson da Silveira, de 54 anos, e Silvia Regina da Costa, 59 anos, pesquisava preços de notebooks numa rede de varejo no centro do Rio. Depois de muita procura, pensavam em desistir e pedir a um amigo que vai aos Estados Unidos comprar o produto lá. “Estamos vendo que é muito mais vantagem comprar lá fora, onde o preço do notebook é a metade, principalmente por causa dos impostos”, disse Pedro.

 

O vigia Severino Siqueira, de 40 anos, procurava com sua filha Larissa, de 4 anos, o melhor preço de uma TV de LCD com 32 polegadas. Será o presente de Natal da família, mas ele confessou que estava esperando mais um pouco para ver se o preço cai até o Natal. “Até agora não decidi comprar a TV. Vou esperar um pouco mais. Quem sabe o preço cai, mas acho difícil isso acontecer até janeiro”, disse Severino.


Veículo: Correio Popular - Campinas


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