Consumidor brasileiro entra na onda dos produtos verdes

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Mais da metade dos consumidores pesquisados afirma consumir bens que tenham preocupação ambiental

 

O brasileiro está cada vez mais consciente de que é preciso consumir sem prejudicar a natureza. Prova disso é que 51% já compram produtos que não agridem o meio ambiente, como reciclados, orgânicos, feitos com madeira remanejada e que possuam embalagens recicláveis, além de roupas feitas com tecidos naturais. O levantamento é da TNS InterScience, empresa de pesquisa de mercado na área de consumo e varejo, e foi feito em todo o País.

 

A tendência é nova, pois a maioria das pessoas que responderam à pesquisa começou a comprá-los nos últimos cinco anos. Há ainda 23% que pretendem comprar esses produtos.

 

A advogada especializada na área ambiental Adriana Cerântola, 38 anos, é um exemplo desse consumidor. Para ela, o meio ambiente tem um peso nas compras. Por isso, prefere produtos naturais, que compra em mercados de bairro, sem embalagem. Adriana ainda verifica selos e certificações e conta que já parou de consumir um produto ‘ecologicamente incorreto’. “Eu usava uma marca de cosméticos, até que soube que ela fazia teste em animais. Só voltei a usar quando suspenderam os testes.”

 

Porém, esse novo nicho enfrenta barreiras, segundo Lucas Pestalozzi, diretor de planejamento da TNS. “A principal é a econômica, além da exigência de mudar hábitos. O consumidor pode ser contrário à embalagem plástica, mas não encontra opções onde costuma consumi-la.”, destaca.

 

A pesquisa sublinha o problema. Apesar de 83% dos participantes afirmarem que pagariam mais por produtos ambientalmente corretos, 37% pagariam até 5% a mais e 36% apenas 10% a mais.

 

Setores

 

A influência do meio ambiente na decisão de compra aparece quando se trata de veículos, produtos de saúde, alimentos, produtos para casa e viagens. Verificando essas exigências, Sussumu Honda, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS), lembra que produtos orgânicos já fazem parte de gôndolas, principalmente no setor de hortifrúti e de cosméticos. A reciclagem está em embalagens de papel, remanejadas e certificadas e na redução em 30% do consumo de sacolas plásticas.

 

No ecoturismo, Lucila Maria Barbosa Egydio, coordenadora da Abeta, entidade do setor, conta que, pelo fato de trabalharem diretamente com meio ambiente, cerca de 300 empresas participam de um programa no qual aprendem a implementarem coleta seletiva, educação ambiental e tecnologias de menor impacto.

 

Na indústria de higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, João Carlos Basilio, presidente da associação do setor, a ABIHPEC, afirma que grandes empresas já se movimentam para atender a essa preocupação reciclando embalagens e preservando a floresta ao extraírem óleo e extratos.

 

Com relação às ações da indústria automobilística, Henry Joseph Júnior, presidente da Comissão de Energia e Meio Ambiente da associação do setor, a Anfavea, cita que, desde 1996, o País já possui uma lei para controlar a poluição de veículos, que está em sua quinta fase e já reduziu 90% da poluição expelidas pelos escapamentos em 12 anos.

 

Henry também cita a popularização dos motores bicombustíveis (movidos a álcool e gasolina) e a etiqueta de eficiência energética lançada pelo Inmetro, que irá identificar e permitir a comparação do consumo de combustível de cada modelo a partir de abril. “E demorou para decolar”, admite.

 

Comprador é mais jovem e bem informado

 

Críticos, jovens, menos resistentes às mudanças e bem informados. Esse é o perfil de quem se preocupa com o meio ambiente ao consumir, analisa o consultor Mario Cunha, professor da Fundação Armando Álvares Penteado (FAAP).

 

A pesquisa da TNS mostra as motivações. Para 26%, pensar na questão ambiental ao comprar é ‘a coisa certa a se fazer’. Já 23% acreditam que é ‘uma opção mais barata’, outros 25% consomem estes produtos impulsionados por seu ‘status’, e 26% acreditam que ‘o tema não é prioridade na hora da compra’.

 

Mario Cunha concorda que o bolso ainda fala mais alto para esses consumidores, mas acredita que benefícios diretos e indiretos devem ser considerados na compra.

 

Empresas nacionais que saíram na frente com relação às regras ambientais foram impulsionadas por leis mais rígidas, na visão do consultor. 'O problema não é a conscientização, mas, sim, a prática.”

 

A paisagista Catarina Menucci, 52 anos, se considera ‘radical’ com relação ao tema. Ela procura não utilizar plásticos, possui eletrodomésticos e carro que consomem pouca energia e só compra produtos orgânicos. 'Esses produtos podem pagar a conta do planeta e até do médico', afirma.

 

O tradutor Saulo Alencastre, 28 anos, procura não consumir embalagens plásticas e compra produtos orgânicos em feiras e supermercados. “O preço ainda pesa, e eles não são fáceis de encontrar”, conta. Para ele, o consumo consciente é necessário. Vegetariano, conta que um dos motivos pelos quais não come carne está relacionado ao meio ambiente. “A produção de carne gera um desequilíbrio ecológico enorme”, acredita.

 

Certificações: Idec explica como decidir

 

A legislação brasileira exige a rotulagem nutricional em alimentos, além da certificação compulsória em produtos ligada a aspectos de segurança, a exemplo dos brinquedos. Nesse cenário, a certificação ambiental ainda é voluntária, lembra Lisa Gunn, coordenadora executiva do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec).

 

Por isso, Lisa explica que é importante saber distinguir a auto declaração da empresa da certificação. 'A certificação necessita envolver uma terceira parte, que pode ser uma ONG ou associação.'

 

Um exemplo é o selo FSC, do Conselho Brasileiro de Manejo Florestal. 'Ele tem critérios pré determinados', diz Lisa.

 

A especialista também alerta que certificações como ISO14001 não garantem que uma empresa é ambientalmente responsável, mas, sim, que seu sistema de gestão procura minimizar impactos, o que não vale diretamente para os produtos que comercializa.

 

Com relação à certificação de orgânicos, ela lembra que apenas recentemente foi definida uma legislação única para os produtos. Lisa ainda cita selos como o que contabiliza a emissão de carbono do produto, da Iniciativa Verde, e que mede eficiência energética, do Procel, programa governamental. 'Há sempre a alternativa de questionar o fabricante ligando para o Serviço de Atendimento ao Consumidor. Você tem o direito de conhecer seu processo de industrialização', diz.

 

Veículo: Jornal da Tarde


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