A fabricante de calçados Grendene, que começou a sentir o desaquecimento da economia em março do ano passado, agora é uma das primeiras a registrar os sinais de recuperação da demanda. "Como estamos muito expostos às classes C e D, já absorvemos impacto do reajuste do salário mínimo", diz o diretor de relações com investidores da companhia, Francisco Schmitt.
No primeiro trimestre, a receita da companhia avançou 25%, para R$ 395, 8 milhões. Na última linha, a Grendene registrou lucro R$ 82,1 milhões, 29,1% acima do obtido um ano antes.
O mercado interno foi o motor do aumento das vendas. No mercado internacional, diz o executivo, o faturamento da empresa se manteve praticamente estável.
Como produz por encomenda, a Grendene não virou o ano com estoques elevados, mas outras fabricantes de calçados podem ter o resultado comprometido por carregar produtos não vendidos. Entre as listadas na bolsa, a Grendene é a primeira a divulgar os números do primeiro trimestre.
O mercado doméstico continuará sendo prioridade para a companhia daqui para frente. Com ou sem real mais desvalorizado, a maior exportadora de calçados do país deve manter uma estratégia menos agressiva no mercado internacional, onde opera com rentabilidade mais comprimida.
Entre 2006 e 2010, as exportações da Grendene cresceram numa velocidade acima das vendas para fora do país do setor calçadista como um todo, afetando negativamente as margens da empresa. Esse avanço da exposição ao mercado externo acendeu um sinal de alerta na empresa, que mudou sua estratégia.
Desde o ano passado, a Grendene, dona das marcas Ipanema, Melissa e Rider, tem apostado na venda de produtos de maior valor agregado no exterior, abrindo mão do volume de pares comercializados. "Constatamos que não dá para competir no quesito preço com os chineses", comenta Schmitt.
Como resultado desse novo posicionamento, o volume de pares comercializados no mercado internacional caiu de 54 milhões em 2010 para 42 milhões no ano passado. "É claro que queremos que as vendas cresçam no exterior, mas num produto de margem melhor. Há espaço para isso", diz Schmitt.
O executivo calcula que, nos próximos anos, a participação das exportações na receita (de cerca de 15% em 2011) deve diminuir um pouco, em função do crescimento mais acelerado no mercado interno. "Definitivamente, nós não queremos ser exportadores de commodities", afirma.
Assim como vem ocorrendo sistematicamente trimestre a trimestre - mesmo no ano passado, considerado difícil para o setor de calçados -, a Grendene conseguiu ampliar as suas margens nos primeiros três meses do ano. A bruta avançou de 37,8% para 42,5% e a Ebit (antes de juros e impostos) de 11% para 14%. "Importamos novas máquinas, melhoramos processos para aproveitar melhor a matéria-prima e aprimoramos a logística", comenta o Schmitt.
Até 2015, a companhia projeta um crescimento médio anual entre 8% e 12% seu no faturamento bruto. Prevendo, desde já, uma melhora na sua eficiência, a empresa calcula que o lucro líquido deve avançar a uma velocidade maior - entre 12% e 15% ao ano, em média.
Veículo: Valor Econômico