Tradicional exportador de café verde em grão, o Brasil vê aumentar a demanda pelos grãos "diferenciados", que incluem os cafés especiais, orgânicos e certificados. Os preços médios dessa matéria-prima são maiores até que os valores médios dos produtos industrializados (torrado e moído e solúvel) vendidos ao exterior. É o que aponta o Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).
No 1º trimestre de 2012, o preço médio desses cafés, de US$ 315,6 por saca, foi 7% menor em relação ao ano passado inteiro, mas ainda assim bem maior (33,5%) que a média do produto industrializado, que foi de US$ 209,6 a saca. Além disso, a participação do segmento no total de café exportado teve ligeiro aumento. No período, o volume de 1,7 milhão de sacas representou 26,8% das exportações e 32,3% do faturamento, segundo o Cecafé.
Em todo o ano passado, os grãos diferenciados representaram cerca de 26% do total embarcado de 33,5 milhões de sacas. Foram exportadas pouco mais de 8 milhões de sacas, gerando US$ 2,7 bilhões, ou 30% de toda a receita com as vendas externas da commodity. A exportação desse tipo de produto cresceu 14,8% em 2011, para pouco mais de 7 milhões de sacas. Trata-se ainda de um salto de 269,5% em relação ao verificado há apenas quatro anos. Em 2007, foram exportadas 2,1 milhões de sacas desses grãos, que representavam apenas 7,7% dos embarques totais.
Uma grande expansão também foi registrada no preço médio da saca exportada, que saiu de US$ 165,7 em 2007 para US$ 339,6 em 2011, um reajuste superior a 100%. Somente em 2011, o valor saltou 52,4%.
Já o preço médio do café industrializado ficou em US$ 200,8 por saca em 2011, 40,8% menos que a cotação média dos cafés diferenciados - que ainda superaram em 33% a média dos arábicas convencionais (US$ 254,3) e em 114,3% a do robusta em grão (US$ 139,7).
Guilherme Braga, diretor-geral do Cecafé, afirma que a demanda mundial pelos cafés diferenciados vem aumentando com a crescente exigência do mercado consumidor por uma produção sustentável. "[Este consumo] remunera o esforço do produtor para incorporar valor ao grão, vai direto para a renda", observa.
Braga considera um "equívoco" achar que o Brasil não exporta café de valor agregado. Para ele, essa agregação não ocorre apenas com a venda de café industrializado, mas também com a de grãos de melhor qualidade ou certificados, cujos preços são semelhantes aos da Colômbia, grande concorrente no ramo.
Sergio Zachi/ValorGuilherme Braga, do Cecafé: grão diferenciado remunera o esforço do produtor
O dirigente não minimiza a importância de o país embarcar café industrializado, mas vê dificuldades diante da estrutura no exterior das torrefadoras que dominam o mercado mundial. A tarefa exigiria grandes investimentos, além de esforços para acompanhar todo o processo de venda, concentrado em redes de supermercados.
Muitas vezes, existe ainda a necessidade de comercializar para intermediários, o que reduz a competitividade do exportador. Atualmente, a maior parte do café industrializado vendido pelo Brasil atende a nichos de mercado, como padarias e cafeterias. E o café em grão cru ainda é responsável pelo grande volume do comércio mundial do setor.
O diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz, engrossa o coro de que é muito difícil "emplacar" uma marca brasileira no exterior. Segundo ele, as empresas precisam dispor de 10% a 15% do valor da venda do produto para investir em marketing, recursos que muitas companhias não podem disponibilizar. Para Herszkowicz, a saída é oferecer café torrado e moído "gourmet", de altíssima qualidade, que pode oferecer preços competitivos.
Ele não acredita que o fato de o preço médio do grão diferenciado ser maior que o industrializado irá desestimular os embarques de café torrado e moído. "Tem espaço para todos os setores", resume. E prevê que a exportação brasileira do produto industrializado "vai crescer ao longo do tempo, mas com muito investimento e diferenciação".
As vendas externas de café torrado e moído representaram apenas 0,2% dos embarques brasileiros de café de janeiro a março deste ano. Foram exportadas 11,5 mil sacas, queda de 23,6% contra o 1º trimestre de 2011. A receita recuou 1,44% para US$ 4,5 milhões. No período, as exportações de café industrializado (torrado e moído mais o solúvel) somaram 685,8 mil sacas, recuo de 11,7% em relação ao mesmo período de 2011.
Veículo: Valor Econômico