Para bioeticista, medida poderia levar consumidor a erro; conselho de farmácia diz que liberação seria "irresponsabilidade"
O setor de farmácias e drogarias reagiu negativamente à aprovação anteontem, pelo Senado, de uma medida provisória que libera a venda de remédios que não precisam de receita em supermercados, armazéns e empórios.
"A medida é um grave risco à saúde do consumidor", avaliou Sérgio Mena Barreto, presidente da Abrafarma (Associação Brasileira de Redes de Farmácias e Drogarias).
"Se os supermercados querem vender remédios, eles podem abrir farmácias", disse.
Para o bioeticista Volnei Garrafa, da Universidade de Brasília, a aprovação da venda de remédios fora da farmácia é um "retrocesso".
"Em países com sistema de saúde rigoroso, como alguns na Europa, as vendas são nas farmácias, que contam com farmacêuticos o tempo todo."
Para ele, a medida foi "importada" de países como os EUA, que permitem a venda de medicamentos sem prescrição em supermercados.
"Mas no Brasil temos uma disparidade socioeducacional muito grande. As pessoas poderiam acabar trocando a compra de frutas por vitaminas em cápsulas", disse.
Na opinião do presidente do Conselho Federal de Farmácia, Walter da Silva Jorge João, a liberação representa uma "irresponsabilidade".
"O Brasil já tem um dos mais altos índices de automedicação do mundo. Com certeza, essa medida só irá agravar esse quadro", avalia.
Segundo ele, a quantidade de vítimas de intoxicações e efeitos adversos de medicamentos não recomendados pode aumentar perigosamente. "O que representa, além de mais internações, elevação nos gastos públicos com saúde", completa.
"CONTRABANDO"
A Folha tentou contato com o deputado Sandro Mabel (PMDB-GO), relator do projeto na Câmara e no Senado. A assessoria de imprensa do político informou que ele está viajando e não poderia falar com a reportagem.
A proposta de venda de remédios em supermercados foi inserida em um texto que tratava originalmente da desoneração de produtos para portadores de necessidades especiais. A ação foi classificada como "contrabando" entre alguns parlamentares.
A proposta surpreendeu até quem é do setor. "Não conhecíamos essa discussão", disse Aurélio Saez, da Abimip (Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição).
O texto agora será encaminhado para sanção da presidente Dilma Rousseff.
Veículo: Folha de S.Paulo