A Berkshire Hathaway, empresa do megainvestidor Warren Buffett que apoia a tentativa da fabricante de cosméticos Coty de comprar a Avon, liberaria US$ 2,5 bilhões para financiar a transação, segundo pessoas a par do assunto.
A Coty, que tem capital fechado, citou o envolvimento da Berkshire numa carta ao conselho administrativo da Avon na quarta-feira, mas não informou o montante que o conglomerado de Buffett ofereceria. A Coty informou ainda que havia aumentado a oferta para US$ 10,69 bilhões, ou US$ 24,75 por ação, 6,5% acima da oferta anterior, de US$ 23,35 por ação.
O aval da Berkshire Hathaway dá credibilidade a uma oferta que a Avon rejeitou antes por considerar incerta e baixa demais.
A Avon afirmou que vai examinar a nova proposta no momento apropriado. A cifra maior talvez não seja suficiente para convencê-la a aceitar o acordo, já que, segundo pessoas a par da questão, ela esperava algo perto de US$ 30 por ação. Se a Avon não responder à nova proposta até segunda-feira, a Coty retiraria a oferta, disse a carta.
Algo que o conselho da Avon terá de pesar são os prós e contras de uma oferta toda em dinheiro. Aceitar esses termos significaria que os acionistas da Avon "não teriam nenhum interesse remanescente no que acontece" com a empresa, disse uma pessoa informada sobre o assunto.
A ação da Avon fechou com queda de 3,3% na Bolsa de Nova York, a US$ 20,89, sugerindo ceticismo quanto à concretização do acordo.
Buffett, o presidente da Berkshire, foi convencido a financiar parte do negócio por Byron Trott, um banqueiro de longa data do conglomerado que hoje dirige a firma de investimentos BDT Capital Partners, disseram fontes a par do assunto. Buffett tem o presidente da Coty, Bart Becht, em alto conceito, disseram essas pessoas.
A Coty revelou o envolvimento da Berkshire para dar credibilidade à proposta, disse uma pessoa a par do assunto. A BDT é outra que investiria no negócio, juntamente com alguns de seus investidores, que incluem a Berkshire.
Juntos, os investidores entrariam com cerca de US$ 6 bilhões em financiamentos de capital se a Avon aceitar o negócio. Um braço do J.P. Morgan liberaria um empréstimo à Coty, informou a empresa na carta. Buffett é sabidamente avesso a aquisições hostis. A oferta da Coty à Avon - embora não solicitada - seria amigável, disseram pessoas a par do assunto.
Embora Buffett tenha adquirido dezenas de empresas para a Berkshire ao longo dos anos, seu papel na oferta pela Coty seria basicamente o de financiador. Em 2008, o megainvestidor ajudou a financiar a compra, por US$ 23 bilhões, da Wm Wrigley Jr. pela Mars. Trott, que na época trabalhava na Goldman Sachs, ajudou a fazer a ponte com o investidor. A Berkshire liberou US$ 6,5 bilhões para o negócio e recebeu ações preferenciais e notas subordinadas da Wrigley - que mantém até hoje.
Em 2009, a Berkshire deu US$ 3 bilhões à Dow Chemical para financiar a compra, por US$ 15,3 bilhões, da Rohm & Haas. A Berkshire recebeu ações preferenciais conversíveis da Dow Chemical e virou na prática sua maior acionista. Em março, a Berkshire tinha US$ 37,83 bilhões em caixa.
A nova oferta chega depois que a Avon - que tenta se reerguer sob o comando da nova CEO Sherilyn McCoy - divulgou resultados tão ruins que pegaram até os investidores de surpresa. A gigante das vendas diretas teve uma redução mais acentuada do que o previsto nas margens e alertou para uma fase ruim prolongada no Brasil (ver texto ao lado), seu maior mercado, e nos Estados Unidos.
Na esteira da notícia, a Standard & Poor's e a Fitch Ratings rebaixaram a classificação de crédito da Avon para o último nível antes da faixa de alto risco.
Sherilyn McCoy, que chegou à Avon no mês passado para substituir Andrea Jung, mal começou a se inteirar das dificuldades. Na lista, estão problemas operacionais como a frustrada implementação de uma plataforma informatizada no Brasil e a evolução do mercado de produtos de beleza ao redor do mundo - o que dá aos consumidores mais opções além de empresas de venda direta.
McCoy planejava visitar vários dos principais mercados da Avon no mês que vem, para tentar definir quais problemas priorizar.
A Coty avisou que não pretende esperar a Avon testar esse plano de recuperação por conta própria. A empresa está interessada na participação da Avon em mercados emergentes e em sua rede de distribuição porta a porta, que poderia ajudar a vender produtos Coty.
A Coty afirmou estar disposta a assinar um pacto de confidencialidade com cláusulas que a impediriam de voltar a agir publicamente para comprar a Avon, desde que a empresa aceite fornecer informações dentro de certos prazos.
No mês passado, a Coty informou que conseguira mais de US$ 5 bilhões em capital de investidores, incluindo alguns trazidos pela firma de Trott, bem como da controladora da Coty, a Joh. A. Benckiser, braço de investimento da família alemã Reimann. Um acionista da Avon disse que o desfecho mais interessante seria uma espécie de empresa "pro forma" negociada publicamente, permitindo que os atuais acionistas tivessem acesso a parte dos ganhos potenciais da união das duas empresas.
Veículo: Valor Econômico