Exportadores mantêm cautela com alta do dólar

Leia em 3min 30s

A crise europeia trouxe instabilidade ao mercado financeiro e, de quebra, proporcionou um efeito desejado pelos exportadores brasileiros há algum tempo: a alta do dólar. A moeda estrangeira oscilando na faixa de R$ 2,00 ao longo da semana dá um alento para quem vende no exterior recuperar a competitividade em relação aos meses anteriores. Ontem, o dólar comercial fechou em R$ 2,00, alta de 065%. No Rio Grande do Sul, porém, alguns setores são cautelosos ao analisar a elevação. A cotação é saudada por distintos segmentos, mas as consequências do cenário não devem ser evidentes de forma imediata.

“Esse câmbio vai tornar o nosso produto mais competitivo, recuperando parte do mercado perdido ao longo dos últimos anos. Mas os efeitos não serão imediatos, pois precisaríamos de cerca de seis meses para buscar mais clientes no exterior e ter resultado”, acredita Alberto Peliciolli, diretor da Associação das Indústrias de Móveis do Estado do Rio Grande do Sul (Movergs). Mesmo assim, o dirigente define uma cotação a R$ 2,10 como a ideal para fazer frente a outros países vendedores.

Nos primeiros quatro meses de 2012, os moveleiros gaúchos fecharam US$ 56,8 milhões em negócios no exterior, segundo a Movergs. O valor representa 2,5% a menos que em igual época de 2011. Para todo o ano, a projeção inicial era de faturamento de US$ 220 milhões. Estimativa que tende a ser revista. “Se o dólar se mantiver nessa faixa atual, podemos crescer, pelo menos, 10% a mais do que esperávamos”, diz Peliciolli. Além disso, crê ele, a conjuntura pode favorecer a retomada de espaço em mercados antes perdidos, como o norte-americano.

Igualmente em busca de recuperação, os produtores de máquinas agrícolas em todo o País veem com bons olhos a elevação do dinheiro estrangeiro e, paralelamente, adotam uma postura moderada. “A apreciação do dólar em relação ao real é importante para as exportações, mas não melhora a competitividade. Para isso acontecer, são necessárias outras coisas”, assinala Milton Rego, vice-presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). Para 2012, a meta é transacionar 18,4 mil equipamentos além das fronteiras, uma redução de 1,6 mil unidades frente à temporada anterior.
Receita com grãos será maior, mas lucro vai diluir com custo dos insumos importados

No caso dos grãos, as expectativas não são tão elevadas. Na comercialização internacional da soja, cultura cuja safra foi fortemente castigada pela estiagem, a valorização do dólar tem pouco reflexo, aponta o analista da Safras e Mercado Flavio França Junior. “Diferentemente de outros produtos em que o impacto da alta do câmbio é mais diluído, na soja é automático. Mas, nas últimas semanas, houve uma queda expressiva no preço externo, também por causa do nervosismo em relação à Europa. Então, uma coisa acaba anulando a outra. No conjunto da obra, não temos grandes efeitos”, analisa França Junior.

O presidente da Brasoja Corretora de Cereais, Antônio Sartori, lembra que, em 2012, o Rio Grande do Sul deve exportar ao redor de 2 milhões de toneladas de soja de uma produção total de 6,5 milhões de toneladas. No ano passado, foram vendidas para solo estrangeiro 5,8 milhões de toneladas em uma safra global de mais de 12 milhões de toneladas. Na comparação entre os dois períodos, hoje há uma valorização de 32% nas quantias pagas aos produtores.

Mesmo assim, Sartori descarta que o incremento no dólar amenize os estragos da seca “Não existe compensação. A perda de 6 milhões de toneladas continua sendo perda”, define. “O produtor terá uma receita maior pela valorização da moeda. Por outro lado, os custos com insumos importados, como fertilizantes, acabam encarecendo”, complementa.

Entre os calçadistas, a alteração cambial, neste momento, pouco pode contribuir para a melhora a situação do ramo, conforme a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados). A entidade prefere aguardar mais tempo para mensurar possíveis impactos na atividade. De janeiro a abril, as exportações atingiram US$ 368 milhões, redução de 18% frente igual período de 2011. No Rio Grande do Sul, nos quatro primeiros meses do ano, foram comercializados 5 milhões de pares com os gringos, gerando US$ 129,4 milhões. Em 2011, em igual ocasião, foram 8,7 milhões de pares, resultando em US$ 210 milhões.



Veículo: Jornal do Comércio - RS


Veja também

Argentina e Brasil devem levantar barreiras ao comércio bilateral

Os produtores brasileiros de carne suína terão, nos próximos dias, uma boa notícia da Argent...

Veja mais
Piracanjuba lança leite UHT zero lactose

Empresa amplia mix de produtos e contempla intolerantes à lactose   Ficar sem ...

Veja mais
Pode sobrar para o seu bolso

Queda de braço fez Brasília dificultar a entrada de produtos como vinhos, queijos e farinha de trigoO Bras...

Veja mais
Preço do feijão tem retração

Mesmo com o recuo na cotação da saca, a cultura ainda é altamente lucrativa.O início da colh...

Veja mais
Cinco empresas de Minas presentes na NaturalTech

Feira internacional em SP reunirá 220 expositores.Minas Gerais, embora seja conhecida pela diversidade da naturez...

Veja mais
Liberdade e vigilância

 ...

Veja mais
Brasil restringe entrada de produtos argentinos

Para pressionar o governo argentino a reduzir barreiras, alfândega passou a exigir licença para vinho, fari...

Veja mais
BRF reforça produção de queijo no MS com investimento de R$ 4 mi

A Brasil Foods anunciou ontem um investimento de R$ 4 milhões na construção e instalaç&atild...

Veja mais
Juro menor não alavanca vendas no Dia das Mães

Vendas crescem 7,3% em relação a 2011, segundo Serasa, quando a expansão foi de 12,4%; outras duas ...

Veja mais