Maior rede de "atacarejo" do país, o Atacadão demitiu 300 pessoas na semana passada, numa das maiores reduções de pessoal feitas pela empresa controladora, o grupo Carrefour, desde que os franceses adquiriram a empresa, em 2007. Grande parte das demissões foi comunicada aos funcionários na sexta-feira. Há informações no mercado de que esse número pode ser maior e já teria atingido, nas últimas semanas, 2 mil pessoas, equivalente a 10% do quadro de empregados da empresa no país. Procurado, o Atacadão informou que não iria comentar o assunto.
O comando do Sindicato dos Comerciários do Estado de São Paulo já foi informado pela empresa sobre as reduções feitas nos últimos dias, confirmou a entidade. Fontes próximas a empresa informaram ontem o Valor que essa necessidade de ajustes não teria relação com o desempenho financeiro da atacadista - que em meados do ano passado era responsável por 75% dos lucros do grupo Carrefour no país e por 50% das vendas. Há cerca de um mês, em teleconferência com analistas, Pierre-Jean Sivignon, diretor financeiro do grupo Carrefour no mundo, disse "que o crescimento no Brasil continua a ser puxado pelo desempenho positivo de Atacadão, formato com aumento acelerado das vendas".
O comando do Carrefour na França foi questionado por analistas, no segundo semestre de 2011, por conta de resultados de Atacadão abaixo do esperado pelo mercado. A empresa explicou a perda de velocidade nas vendas ao alegar a existência de "bases altas de comparação" em relação a 2010.
Segundo duas fontes ligadas à atacadista, as demissões fazem parte do processo de revisão do modelo de negócios do grupo Carrefour, que afeta diversas subsidiárias da rede no mundo, e envolve uma redução no volume das despesas operacionais no Brasil no último um ano e meio. Com 95 lojas, o Atacadão também estaria contribuindo com esse processo de reestruturação do grupo - e num momento após importante mudança no comando da cadeia de atacado. Desde o início do ano, o Atacadão é presidido pelo holandês Gerard Sheij, (ex-GBarbosa), após a saída de José Roberto Mussnich.
Antes dessas demissões na atacadista, o Carrefour já havia trocado parte de sua diretoria no país no ano passado e teria dispensado cerca de 400 funcionários no primeiro semestre de 2011.
Em paralelo a esse movimento da rede atacadista, o comando do grupo na França informou há um mês, em conversas com analistas, que foram abertas duas lojas Atacadão no primeiro trimestre do ano no país e outras duas foram inauguradas entre abril e maio. São quatro pontos em cinco meses, sendo que em 2011, foram 13 aberturas ao longo do ano. Outras três lojas de hipermercado do Carrefour, que serão transformadas em Atacadão, como informado pela rede em 2011, ainda não migraram para o novo formato. O plano era que isso acontecesse no segundo semestre de 2011, como informado pela direção na França, em conversa com analistas no ano passado. Questões burocráticas, ligadas às prefeituras ajudam a explicar o atraso na abertura. Analistas de mercado calculam que o Atacadão teria faturado entre R$ 14 bilhões e R$ 15 bilhões em 2011. A companhia não publica resultados da operação.
Veículo: Valor Econômico