Desembarques provenientes do Uruguai fazem concorrência predatória com o produto nacional.
As importações de leite em pó provenientes do Uruguai aumentaram 26,44% no primeiro quadrimestre de 2012. O aumento significativo está causando prejuízos para os produtores brasileiros, que além de conviver com a concorrência predatória, devido a maior competitividade, também enfrentam o encarecimento dos custos de produção. Diante do aumento do volume de leite importado pelo Brasil, representantes do setor buscam soluções junto ao governo federal para conter o ingresso dos itens.
Segundo o presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Leite da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Rodrigo Sant’Anna Alvim, até o momento o governo federal não conseguiu avançar nas negociações para estabelecer cotas que limitem o volume de importações de produtos lácteos do Uruguai.
"O aumento das importações de produtos lácteos está comprometendo cada vez mais a situação da cadeia leiteira do país, que vem enfrentando um momento crítico. Já realizamos diversos encontros relatando os problemas e buscando, junto ao governo federal, o estabelecimento de medidas para conter o ingresso do produto uruguaio no mercado brasileiro, porém até o momento não tivemos resultados favoráveis. Nos próximos dias iremos discutir novamente o assunto e esperamos conseguir algum avanço", disse Alvim.
No início da semana, foi realizada reunião entre o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) Mendes Ribeiro Filho e representantes da Câmara do Leite na Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). Em nota, o ministro afirmou a integrantes da cadeia produtiva de leite que as questões com o Uruguai e Argentina estão bem encaminhadas.
Cotas - No final de 2011, o governo brasileiro firmou acordo com a Argentina estabelecendo cotas mensais para o ingresso de leite em pó no mercado brasileiro. O objetivo agora é negociar volumes de queijos.
"No setor do leite existe um entendimento entre a iniciativa privada. No início houve alguns problemas tanto para a Argentina como para o Brasil, mas hoje o pior já passou. Acredito que as coisas só tendem a evoluir", afirmou Mendes Ribeiro.
Porém, o ministro lembrou que as negociações no Mercosul são questões muito sensíveis e devem ser tratadas com cautela. "Se nós continuarmos falando em política agrícola, nós vamos manter o Mercosul. Se nós teimarmos em questionar a política agrícola nós vamos é acabar com o Mercosul".
Os dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (Mdic) mostram que o volume importado de leite em pó do Uruguai, nos primeiros quatro meses de 2012, foi de 15,3 mil toneladas, o que corresponde a uma média diária de 1,1 milhão em litros de leite. Em comparação com igual período do ano passado houve um incremento de 26,4% sobre as 12,1 mil toneladas.
Considerando os números, o ministro da Agricultura prometeu analisar a pauta do setor como prioritária. "Quero discutir ponto a ponto com a minha equipe de trabalho a pauta estabelecida na reunião. Eu não vejo nenhum problema que não possa ser contornado".
De acordo com o analista de mercado da OCB Gustavo Beduschi, o encontro foi favorável para o setor. "Durante a reunião, expusemos as preocupações do setor leiteiro e o ministro se mostrou disposto a analisar a pauta que estamos elaborando e buscar possíveis soluções junto à equipe de governo. Sabemos que o tema é sensível devido ao Mercosul, mas acreditamos que serão criadas medidas, como o estabelecimento de cotas, por exemplo, que venham para minimizar o impacto do ingresso do leite uruguaio no mercado mas sem proibir as importações", disse.
Um dos principais impactos que o aumento da oferta de leite pode provocar no mercado é a redução dos preços. O receio da cadeia é que o volume de produtos importados seja ampliado significativamente ao longo dos próximos meses, quando os preços no Brasil são alavancados pelo período de entressafra. A valorização do real frente à moeda norte-americana poderá contribuir para a redução das importações.
Em Minas Gerais, os preços pagos aos produtores de leite estão em alta, devido à redução da captação. O preço médio pago aos pecuaristas de leite, ao longo de abril, ficou 2,26% superior em Minas Gerais, se comparado com o valor praticado em março. A alta foi justificada pela queda de 6% na captação, com a redução das chuvas no período. A tendência para os próximos meses é de novas reduções, que serão provocadas pela intensificação do período de seca. Os dados são do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Com o incremento verificado nos preços médios praticados no Estado, o valor pago em média ao pecuarista atingiu em R$ 0,882. O preço máximo praticado ao longo de abril, para pagamento do leite entregue em março, alcançou R$ 1,01 e o mínimo ficou em R$ 0,80.
Veículo: Diário do Comércio - MG