Brindes criativos faturam mais no Natal

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A crise financeira internacional não deverá respingar sobre as cerca de quatro mil empresas fornecedoras de brindes e produtos promocionais, pelo menos não neste Natal. O setor, que faturou R$ 6 bilhões no ano passado, deverá atingir R$ 6,7 bilhões em 2008, um acréscimo de 11,2%. "Nos últimos cinco anos o aumento tem ficado, em média, em 11,5%. Se não houvesse crise essa taxa seria muito superior neste ano", afirma Auli De Vitto, vice-presidente da Associação de Marketing Promocional (Ampro). 

 

Mesmo com um eventual agravamento da instabilidade, explica De Vitto, esse ramo será poupado. Pesquisa feita pela Ampro aponta que ações promocionais são de grande valia em momentos de crise econômica e soam como um apelo. "As ações serão voltadas, principalmente às classes C e D, que deixam de consumir", diz. 

 

Para De Vitto, o segmento dos brindes e produtos promocionais tem uma característica própria, a de receber mais investimentos em períodos em que os negócios não estão tão aquecidos. "Quando a economia está em pleno vapor as empresas acabam aportando recursos à área de produção e esquecem de investir em marketing e em brindes." Segundo ele, considerando as 240 empresas ligadas à Ampro, que atuam nos segmentos de marketing, eventos e logísticas promocionais, o faturamento, que em 2007 fechou em R$ 23 bilhões, deverá atingir R$ 25,3 bilhões neste ano. 

 

Esse otimismo não é uma exclusividade desse setor. "O Natal de 2008 ainda será melhor, em valores absolutos, que o de 2007. O crescimento real das vendas deverá ficar em 8% e 10%, diante de uma alta de 8% no mesmo período do ano passado" afirma Marcel Solimeo, chefe do Instituto de Economia da Associação Comercial de São Paulo (ACSP). Os enfeites natalinos, alimentos e bebidas importadas, segundo o economista, também estarão presentes nas festas, apesar da disparada do dólar. "Boa parte das compras do varejo foram feitas muito antes da crise, portanto, não afetou as encomendas. O comércio já está abastecido", diz. 

 

Esse crescimento substancioso nas vendas natalinas, na opinião de Solimeo, se deve a vários fatores, como por exemplo, o fato de a crise ter estourado já quase no final do semestre. Injeção do 13º , os bons acordos salariais costurados no semestre entre empregados e empregadores e medidas adotadas pelo próprio governo, como o alongamento no prazo de recolhimento dos tributos, a seu ver, "farão a roda girar". O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, afirmou recentemente que a média de concessão de crédito no país caiu em outubro em relação a setembro, mas já começou a se recuperar no fim do mês passado. "Essa melhora se deve às medidas de liquidez adotadas pelo governo", reforça o economista. 

 

O pagamento do 13º salário pelos empregadores deve injetar na economia brasileira até o fim do ano cerca de R$ 78 bilhões, aponta pesquisa do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese). Serão cerca de 68,2 milhões de brasileiros beneficiados com o 13º salário, entre eles aposentados e contribuintes da Previdência Social, segundo o levantamento. Cerca de R$ 24,7 bilhões, o equivalente a 31,7% desse total, será absorvido pela economia paulista, revela o Dieese. 

 

A pesquisa ACSP/Ipsos quis saber o que o consumidor pretende fazer com o 13º salário. Dos entrevistados, 37% pretendem gastar o dinheiro em compras, 34% querem pagar dívidas, 12% reformar a casa, 9% aplicar o dinheiro no banco, 8% pretendem viajar e apenas 1% pensa em dar entrada na compra de casa ou de carro novo. Sobre a modalidade de pagamento, a pesquisa constatou que 62% dos entrevistados planejam quitar a dívida à vista, enquanto 26% preferem parcelar (média nacional); essa intenção sobe para 37% no Nordeste, sendo a classe C (31%), a que mais se enquadra nesse perfil. 

 

Para Solimeo, apenas algumas regras do mercado serão alteradas por conta da crise, o que dificulta a captação de recursos. "O comércio reduzirá prazos de pagamento e exigirá parcelas à vista, será mais seletivo na concessão de crédito e cheques pré-datados, preferindo os cartões de crédito", diz. Estudo feito pelo Itaucard aponta incremento nos pagamentos com cartão de crédito, apesar da instabilidade econômica. O faturamento da indústria de cartões aumentou 21,3% no mês de outubro, comparado ao mesmo período do ano passado, atingindo R$ 19,8 bilhões. Em novembro, esse faturamento deve chegar a R$ 20,3 bilhões, o que representará alta de 21,9% em relação ao mesmo mês de 2007. 

 

Indagado sobre majoração de preços, Solimeo prevê que os reajustes na área de importados irão variar de acordo com a antecedência das encomendas. "Os retardatários farão aumentos de até 20%", diz. Na sua opinião, há um esforço por parte do comércio em não repassar para o consumidor o acréscimo integral. "Mas isso varia dependendo do poder de cada empresa. Os impactos nos preços oscilam de acordo com o volume de estoque de cada um", diz. 

 

Marcos Galindo, assessor de relações institucionais do Sindicato dos Lojistas do Comércio de São Paulo (Sindilojas) concorda com Solimeo e, segundo suas estimativas, as vendas natalinas deverão ter um aumento real de 10% sobre as do Natal de 2007. "A primeira projeção era de crescimento entre 15% e 20% antes da crise", diz. Dos 30 mil lojistas filiados ao Sindilojas, 75% são pequenas e médias empresas. "Os pequenos temem pela inadimplência no próximo ano", diz. 

 

Recessão foi uma palavra banida do vocabulário de Solimeo para 2009. "Teremos restrição ao crédito, juros mais elevados, redução nos prazos de pagamentos e menor crescimento do PIB, mas não haverá recessão", garante. 

 

Veículo: Valor Econômico


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