A economia da China permanecerá lenta por mais algum tempo e começará a se recuperar a partir de agosto, como reflexo do desaperto monetário já em curso no país. Ainda assim, o banco central chinês deve voltar a reduzir os juros ao longo do ano, preveem analistas.
A China voltou a provocar preocupações ontem, depois de mais uma decepção com o índice de atividade industrial (PMI) medido pelo HSBC. O número caiu de 48,4 em maio para 48,1 em junho. Trata-se do oitavo mês consecutivo no território de contração, abaixo da marca de 50. "O setor industrial da China continuou a abrandar em junho, embora o ritmo da desaceleração pareça estar diminuindo", disse Qu Hongbin, economista-chefe do HSBC para a China.
O desempenho está afetando o Brasil, na avaliação de Flemming Nielsen, economista do Danske Bank. "A fraqueza de alguns Brics, como o Brasil, está relacionada à desaceleração da China, já que o comércio de minério de ferro desacelerou", afirmou.
Até recentemente, prevalecia a visão de que o freio era resultado do aperto monetário colocado em prática pelo governo chinês para conter a bolha imobiliária. Entretanto, agora os resultados já indicam que o país está sendo atingido pela crise internacional. Mostra disso é a forte queda nos novos pedidos de exportação do setor industrial.
"Houve uma mudança a partir de abril e a fraqueza parece estar sendo cada vez mais provocada pela desaceleração global", disse Nielsen. "A demanda doméstica continua branda, mas não se deteriorou mais."
Para especialistas, os números divulgados ontem indicam que a atividade permanecerá lenta durante o verão no hemisfério norte. "A escalada da crise da zona do euro - a Europa é o principal destino de exportações da China - aliada aos riscos nos Estados Unidos continuarão a pesar nos próximos meses", avalia Nikolaus Keis, analista do UniCredit, em relatório a clientes.
O desaperto monetário já adotado levará algum tempo para fazer efeito, como verificado após a crise global de 2008. "Devemos ver impacto sobre o crescimento em agosto ou setembro", disse Nielsen. Ele estima que o PIB do segundo trimestre deve mostrar alta de 7,9%, abaixo dos 8,1% registrados nos primeiros três meses do ano. Até o quatro trimestre, a economia do país deve voltar a acelerar para 8,4%.
Os analistas acreditam que o BC chinês adotará novas medidas ao longo do ano, como forma de compensar a desaceleração provocada pela crise externa. O UniCredit projeta mais um corte de juros de 0,25 ponto percentual, além de reduções no compulsório de até 1,5 ponto percentual neste ano (sendo a próxima iminente). Na avaliação do Danske Bank, haverá mais dois cortes de juros, de 0,25 pp cada, até o final de 2012, além de retração de 1,5 pp do compulsório. "O ciclo monetário na China está se alterando para o desaperto", disse Nielsen.
Veículo: Diário do Comércio - MG