Ritmo de encomendas do varejo causa incerteza para calçados e vestuário

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A desaceleração dos negócios que começou em abril e se estendeu até o fim do primeiro semestre fez o setor calçadista entrar na segunda metade do ano em clima de incerteza. No setor têxtil, o cenário é o mesmo. Nos dois segmentos de bens semiduráveis, o endividamento dos consumidores e o inverno fraco afetaram as vendas do segundo trimestre e atrasaram as encomendas do varejo. Com isso, algumas indústrias, especialmente de calçados, já reveem para baixo as projeções de crescimento no ano, embora a desvalorização do real alimente expectativas de melhor desempenho das exportações nos próximos meses.

A Ramarim, fabricante de calçados femininos de Nova Hartz (RS), iniciou o ano com expectativa de crescimento em torno de 10% nas vendas na comparação com 2011, disse o diretor-administrativo Jakson Wirth. Desde abril, entretanto, os pedidos dos lojistas começaram a diminuir e hoje a previsão é de "estabilidade" na produção em relação ao ano passado, na faixa de 65 mil a 70 mil pares por dia.

Em junho, as encomendas já ficaram abaixo do mesmo mês de 2011. A queda ainda não foi "preocupante", mas a empresa decidiu diversificar o portfólio, lançando produtos mais competitivos para a coleção primavera-verão.

A Bibi, que produz calçados infantis e tem sede em Parobé (RS), viu em junho uma redução de 10% ante o mesmo período de 2011 tanto no faturamento quanto nas encomendas, disse o diretor-administrativo e financeiro, Rosnei da Silva. Até então, registrava altas mensais de 10% nas receitas.

A expectativa agora é quanto ao ritmo dos pedidos da próxima coleção, que começam a entrar neste mês para entrega a partir de agosto. Será um ano "suado", disse o executivo, mas a empresa ainda mantém a previsão de crescer entre 7% a 12% ante o faturamento de R$ 126 milhões de 2011.

O diretor-executivo da Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados), Heitor Klein, não vê sinais de recuperação do mercado interno neste ano, depois da queda de 5% no consumo aparente em 2011 ante 2010, para 741 milhões de pares. Até maio, a retração chegou a 4,58% em comparação com o mesmo período de 2011, conforme o IBGE.

A esperança do setor recai agora sobre os possíveis efeitos positivos da desvalorização do real sobre as exportações. Com o dólar cotado na faixa de R$ 2, a próxima coleção poderá ser vendida sem reajuste ou até com algum desconto em moeda estrangeira, mas ainda existem os riscos de volatilidade do câmbio e as incertezas quanto à retirada das barreiras às vendas para a Argentina e aos desdobramentos da crise econômica na Europa, explicou Klein.

A variação do dólar de março a junho ainda não foi suficiente para alterar o desempenho das exportações porque pegou o período de entressafra de encomendas e os pedidos para a próxima coleção começam agora. No ano, os embarques deverão ficar abaixo de US$ 1,1 bilhão, o menor nível desde que a Abicalçados começou a monitorar as exportações, em 1990. No ano passado o montante ficou em US$ 1,3 bilhão.

Apesar do quadro ainda nebuloso, a Bibi vê uma "perspectiva positiva" para as exportações nos próximos meses. A Ramarim também considera positiva a valorização do dólar, mas acha que não há mais tempo neste ano para aumentar suas exportações.

No polo têxtil catarinense, por enquanto a recuperação esperada para o segundo semestre ainda é apenas uma expectativa, segundo Ulrich Kuhn, presidente do Sindicato das Indústrias de Fiação, Tecelagem e do Vestuário de Blumenau. Ele observa que o inverno mais quente seguirá atrapalhando as vendas mesmo na segunda metade do ano, já que o orçamento do varejo fica comprometido até o setor conseguir se livrar dos estoques. Ainda assim, acha que "o processo de facilitação do crédito deve criar mais liquidez no segundo semestre."

Depois de um mês de junho fraco devido ao inverno quente, as fábricas da Lupo estão operando com 100% da capacidade para atender as encomendas do Dia dos Pais. "Alguns produtos da linha masculina estão até em falta", diz o diretor-comercial, Valquírio Cabral Júnior. A empresa espera aumentar 10% as vendas em julho em relação a igual mês de 2011. Mesmo com a queda de 8% no mês passado, o faturamento da Lupo avançou 6,5% no primeiro semestre sobre o mesmo período de 2011. A previsão é crescer 12% neste ano.

Na catarinense Cativa Têxtil, o clima também afetou negativamente as vendas da coleção de inverno, mas a diretora-comercial, Cátia Maria Sprung, notou avanço de 35% das encomendas na última semana de junho e na primeira de julho em relação às duas semanas anteriores.

As vendas de inverno ficaram em nível 30% inferior ao previsto, o que não é resultado somente do calor, mas também da inadimplência. No segundo semestre, a empresa espera recuperar parte das perdas do inverno, mas é certo que o desempenho não vai superar o de
2011.


Veículo: Valor Econômico


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