Para escapar da competitividade dos segmentos de menor valor agregado, pequenas indústrias de calçados do nordeste, como Comparoni, Maria Bello e Econativaz, investem em design e materiais mais caros. Criatividade e atuação em nichos são boas alternativas para o sucesso de pequenos produtores do setor, aponta o Instituto de Estudos e Marketing Industrial (Iemi).
"Trabalhávamos com couro sintético, que é um mercado muito competitivo. Quando conheci o algodão colorido e a renda renascença, percebi que poderiam ser um diferencial", conta Rosângela Comparoni, proprietária da empresa que leva seu sobrenome e está no mercado desde 2007, como parte da cooperativa paraibana Natural Cotton Color. Nas coleções 2012/2013, a fabricante trouxe mais um material alternativo: o couro de peixe.
A Comparoni trabalha num formato de ateliê, com a produção manual dos cabedais, realizada por seis funcionários. Solados e saltos são comprados prontos e a montagem também é terceirizada. Já a modelagem é própria e os desenhos são desenvolvidos em parceria com designers da região. A produção, de 5 mil pares ao mês, é feita só sob demanda.
"Além da boa aceitação no mercado, é uma realização pessoal trabalhar com algo que ajuda as pessoas, as rendeiras, a agricultura familiar do algodão", afirma a empresária, que, no entanto, relata que 2012 está sendo um ano desafiador. "Lançamos a coleção de verão de 2013 em maio [na feira Rio-à-Porter, no Rio], e a feira foi muito ruim: frente à do ano passado, teve menos de 50% de vendas", diz. Mas Rosângela espera fechar o ano sem queda do faturamento em relação a 2011.
A calçadista Maria Bello, de Juazeiro do Norte (CE), é outra empresa que apostou no couro, material de maior valor agregado, para fugir da competição. "Nos últimos cinco anos vem crescendo muito o número de pequenas empresas que trabalham com couro na região, porque no calçado injetado e sintético a concorrência é bem maior", conta o modelista Serginaldo Luiz Vieira.
Com a produção de cerca de 5 mil pares mensais, principalmente para o mercado nordestino, mas também para estados do sul e do sudeste, a pequena indústria emprega 32 funcionários. A perspectiva é em 2013 chegar à produção mensal de 10 mil a 15 mil calçados, com uma nova planta, também no Ceará.
No entanto, o fraco desempenho de vendas deste ano pode ser um desafio ao plano de expansão. "Ano passado trabalhamos com capacidade total, neste ano estamos utilizando 60% da capacidade", relata o diretor-comercial Fabiano Machado. "Com o alto índice de endividamento do consumidor, o vestuário é o primeiro a sentir; além disso, no nordeste a redução do consumo foi agravada pela forte estiagem que tivemos este ano", afirma. Segundo ele, a empresa teve queda de 40% no faturamento do primeiro semestre e, apesar de esperar um segundo semestre melhor, deve fechar o ano com queda de receita de até 20% em relação a 2011.
Fundada em 2007, em Cabaceiras (PB), a Econativaz começou com um trabalho artesanal em couro. "Na busca por agregar valor, houve a necessidade de nos estruturarmos, comprando maquinário e ampliando a mão de obra", conta o diretor-executivo Veneziano Souza. A companhia, que emprega 25 pessoas na produção de 4,4 mil pares mensais, dá preferência à mão de obra feminina na terceirização de algumas etapas da produção, como forração de palmilha e saltos, corte e preparação do cabedal.
Segundo o diretor do Iemi, Marcelo Prado, a busca por diferenciação é uma boa solução para a pequena indústria calçadista. "Os grandes são os formadores de opinião, lançadores de tendência, da inovação tecnológica, do produto de escala, da formação de pessoas. Os médios são mais ágeis, fazem as variações desses produtos, e os pequenos, com sua criatividade, tentam achar seus nichos para poder ser bem-sucedidos nessa operação", diz.
Veículo: DCI