Um santo remédio

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Farmacêuticas nacionais, com fusões e investimento nos genéricos, enfrentaram a concorrência global e conquistaram importantes fatias do mercado brasileiro.

 
A rotina se repete, década após década. Basta olhar para trás que é possível enxergar que, de tempos em tempos, a indústria farmacêutica mundial passa por um intenso ciclo de consolidação. Relembrando: nos anos de 1980, a SmithKline Beckman se uniu à Beecham. A Bristol-Myers se fundiu com a concorrente Squibb. Logo na sequência, a American Home Products se juntou à American Cyanamid. Em 1995, os laboratórios Wellcome foram comprados pela Glaxo, e a Pharmacia se uniu à Upjohn. No ano seguinte, foi a vez da fusão entre a Ciba-Geigy e a Sandoz, que daria origem à Novartis, terceira maior farmacêutica do mundo. Em seguida, foi a vez de a suíça Roche comprar a alemã Boehringer Mannheim.

Não se perca nos nomes e nas datas. A Glaxo, depois de comprar a Wellcome, adquiriu a SmithKline Beecham. Em 2004, a Sanofi-Synthélabo incorporou a Aventis. Entre 2008 e 2009, no auge da crise global, a Pfizer comprou a Wyeth. A Merck Sharp & Dohme adquiriu a Schering-Plough. As fusões e aquisições que movimentaram o setor farmacêutico mundial foram os componentes que transformaram fabricantes regionais em gigantes multinacionais do setor de remédios. No Brasil não foi diferente. Uma grande onda de fusões também provou que o potencial do setor é gigantesco no País. Em outubro de 2005, a Aché comprou a Biosintética por R$ 600 milhões. Em junho de 2008, a Hypermarcas adquiriu a Farmasa por R$ 675,2 milhões.

Em dezembro de 2009, a mesma Hypermarcas desembolsou R$ 1,3 bilhão para ficar com o passe da Neo Química e, um ano depois, comprou a Mantecorp, por R$ 2,5 bilhões, na maior operação da história do setor. “As transações estão acontecendo em ritmo acelerado e vêm aumentando relativamente a cada ano”, afirma Luís Motta, sócio da consultoria KPMG no Brasil. O que justifica essa intensa movimentação? Em primeiro lugar, um mercado de R$ 43 bilhões e que tem um enorme potencial de crescimento, graças ao acesso dos consumidores das classes C e D aos medicamentos, possibilitado pelo aumento de renda. Um segundo motivo para esse interesse responde pelo nome de genéricos.

De todos os medicamentos vendidos no País, em junho deste ano, 26,6% eram genéricos, segundo a consultoria IMS Health. Em São Paulo, a fatia dos genéricos chega a 55,1% do total. E esse mercado não para de crescer. No primeiro semestre deste ano, as vendas desses medicamentos cresceram 21,7% em volume, somando 321 milhões de unidades. Em cifras, atingiram R$ 5,1 bilhões nos seis primeiros meses do ano, contra R$ 3,8 bilhões no mesmo período do ano passado, um salto de 33,1%. Resultado: graças à união de forças e ao advento do genérico, a partir de 1999, a indústria farmacêutica brasileira também cresceu como nunca, afastando o fantasma do desaparecimento diante da concorrência dos laboratórios internacionais.

“Trata-se de uma mudança na composição de forças, em um setor extremamente pulverizado”, diz Nelson Mussolini, vice-presidente do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos de São Paulo (Sindusfarma). Hoje, no ranking das dez maiores empresas farmacêuticas do País, quatro são brasileiras: EMS Pharma, Aché, Eurofarma e Neo Química. Melhor ainda: das cinco primeiras, três são nacionais. A líder desse pelotão de elite é a EMS Pharma, do empresário paulista Carlos Sanchez, seguida pela Medley, controlada pela francesa Sanofi-Aventis, em segundo, e pelo Aché, na terceira posição. A Sanofi-Aventis está em quarto e no quinto lugar aparece outra brasileira, a Eurofarma. Bem posicionados individualmente, os principais laboratórios nacionais resolveram unir forças para seguir competindo com as multinacionais.

Focadas em inovação, foram constituídas duas joint-ventures. A primeira, em estágio mais avançado, é a BioNovis, integrada pela EMS, Aché, Hypermarcas (a holding que controla a Neo Química), e União Química. Com o aporte de recursos do BNDES, a Bionovis criada com um capital de R$ 400 milhões vai erguer um laboratório para a produção de medicamentos biológicos, considerados uma etapa na evolução tecnológica do setor, hoje baseado em remédios sintéticos. O segundo grupo envolve os laboratórios Biolab, Cristália, Eurofarma e Libbs, reunidos na empresa Orygem Biotecnologia. “Queremos fornecer medicamentos para o mercado mundial”, disse à DINHEIRO José Ricardo Mendes da Silva, presidente do Aché.



 
Veículo: Revista Isto É Dinheiro


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