Em cenário competitivo, volume encolhe para proteger margem

Leia em 3min 40s

O atual debate sobre os resultados de empresas abertas de varejo no país tem girado em torno da capacidade de as companhias defenderem as suas margens de lucro mesmo que seja preciso abrir mão de volume de vendas. Livraria Saraiva, Grupo Pão de Açúcar e Lojas Americanas são algumas das empresas que trouxeram o assunto ao mercado em suas análises de resultados.

Normalmente, as redes informam os acionistas da opção de proteger margem de lucro - sob o risco de perder velocidade de vendas. O assunto deve ser assunto recorrente no setor a curto prazo por razões ligadas ao ambiente mais competitivo no varejo e às condições macroeconômicas mais difíceis.

O comando da Lojas Americanas, a maior rede de lojas de departamentos do país, informou ao mercado meses atrás que, sob o risco de perder receita com vendas, iria tentar garantir maior margem líquida de lucro. Foi algo inédito na história da cadeia varejista.

A equipe de análise do Raymond James ressaltou a questão em seu relatório de resultados da empresa, visto que a Lojas Americanas é uma das cadeias que historicamente trabalham com margens garantidas exatamente pelo alto volume vendido.

Há cerca de quatro meses, o diretor de relações com investidores da Lojas Americanas, Murilo Corrêa, disse que a empresa "poderia ter vendido mais", porém decidiu "calibrar preço" para manter a rentabilidade. A questão é que, com mais lojas abertas nos últimos anos (90 no ano passado e previsão de 110 a 120 em 2012), a rede consegue compensar eventuais reduções no volume comercializado em alguns locais com aumento em outras regiões onde a concorrência é menor.

Ainda neste ano, ao fim de julho, o Grupo Pão de Açúcar voltou à questão em sua apresentação de resultados do segundo trimestre. O presidente da Nova Pontocom, empresa formada pela operação dos sites de Casas Bahia e Ponto Frio, Gérman Quiroga, informou mudança de postura na empresa.

"Tivemos que tomar uma decisão difícil e essa decisão foi: vamos nos concentrar na geração de valores aos acionistas", disse Quiroga aos analistas. A questão principal para a rede, que explica esse posicionamento, é a maior competição no comércio varejista. A companhia não informou a variação em suas margens neste ano.

"Há uma conjuntura de ambiente competitivo no momento e isso comprime margens. E decidimos que a defesa da margem é prioritária", disse ele. "Estamos fazendo escolhas, de gerar caixa e ter lucro. Então vamos abrir mão um pouquinho do crescimento de vendas temporariamente. Somos os primeiros a tomar uma atitude mais radical como essa", afirmou o presidente da Nova Pontocom.

Quando a guerra de preços entre lojas físicas ou no comércio eletrônico se acirra, o risco de "perder dinheiro" aumenta. Isso porque cresce a possibilidade de se ampliar promoções e reduzir preços (indo além da conta) para atrair consumidores para a loja.

É fato que as redes varejistas evitam entrar nesse debate porque revela posicionamentos estratégicos - e erros de condução do negócio. Quando uma rede informa que defenderá margem, pode passar ao mercado a mensagem de que não deu a devida atenção à questão. Dentro desse contexto, no mesmo dia em que a Nova Pontocom informou a adoção dessa postura ao mercado, o comando do Grupo Pão de Açúcar, controlador da empresa, reforçou que "sempre fazem o que for necessário para proteger margem", disse Enéas Pestana, presidente do GPA.

Nesta semana a Saraiva trouxe novamente o assunto em sua análise de resultados do segundo trimestre, ao comentar as vendas na operação de comércio eletrônico. Pela primeira vez, as vendas no site da Saraiva tiveram queda. A receita líquida do segmento online da companhia somou R$ 242 milhões no primeiro semestre, o que representa uma queda de 2,1% quando comparado ao mesmo período do ano passado. A Saraiva vem priorizando vendas com melhores margens desde o ano passado.

"Perdemos vendas que eram ruins, que geravam prejuízo. Saímos dessa guerra do comércio online por 'market share', que não era rentável", disse João Luís Hopp, diretor financeiro e de relações com investidores da Saraiva. A margem bruta da Livraria Saraiva, que estava em 33,5% no segundo trimestre de 2011, passou para 33,9% no mesmo período de 2012. No acumulado do ano, a alta é maior, passou de 33,2% de janeiro a junho para 35,5% em igual intervalo neste ano.



Veículo: Valor Econômico


Veja também

Na Alemanha, cápsula da Nespresso não é só da Nestlé

A Nestlé perdeu na Alemanha uma tentativa de impedir duas concorrentes de vender cápsulas de café q...

Veja mais
Erros operacionais frustram presidente da Coteminas

O foco de crescimento da Coteminas no varejo foi prejudicado no segundo trimestre pelo inverno tardio e menos intenso, p...

Veja mais
Lenovo fica mais perto de tomar liderança da HP

A Lenovo está perto de ultrapassar a Hewlett-Packard (HP) como a maior fabricante de computadores pessoais do mun...

Veja mais
Fleischmann lança aplicativo na Apple Store

Acompanhando as tendências do mundo virtual, a Fleischmann apresenta aos consumidores o aplicativo "Fleischmann Li...

Veja mais
Anúncio do governo anima as redes atentas a novos nichos

Os investimentos em infraestrutura anunciados pela presidente Dilma Rousseff - que prevê a injeção d...

Veja mais
Estiagem acelera a colheita

Com receio de chuva, produtores agilizam processo que, até 9/8, abrangia 73% da safra.A estiagem observada ao lon...

Veja mais
Promoção “Torça por um futuro melhor com Crystal” sorteia bicicletas dobráveis

  A ação promovida pela Coca-Cola FEMSA Brasil e idealizada pela MIX Brand Experience é reali...

Veja mais
Tetra Pak relança campanha de doação de leite

A partir deste mês, a Tetra Pak relança o projeto "Doe Leite", que tem o objetivo de promover a doaç...

Veja mais
Lojas Americanas tem lucro 13% menor

Balanço do 2º trimestre registra lucro líqüido de R$ 37,7 milhões, inferior ao mesmo per&...

Veja mais